17ª Jornada de Agroecologia termina com carta por Lula Livre

Encerramento do encontro teve feiras de orgânicos e apresentações musicais. O cantor Otto defendeu “Lula Livre sempre”

Giorgia Prates

Encerramento da 17ª Jornada de Agroecologia

Vestido com uma camiseta onde se via o rosto de Lula e a palavra “Livre”, o cantor Otto animou milhares de pessoas que se uniram na praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, neste sábado (9), no encerramento da 17ª Jornada de Agroecologia.

O evento aconteceu na capital paranaense desde o dia 6 de junho, promovendo a alimentação orgânica, sem uso de agrotóxicos, a reforma agrária e a agricultura familiar. No encerramento também se apresentaram as bandas curitibanas Viola Quebrada e Mulamba, além da escola de samba Paraíso de Tuiutí.

Otto defende Lula Livre no encerramento da 17ª Jornada de Agroecologia

Enquanto cantava músicas recheadas de variadas referências culturais brasileiros, que vão do samba ao forró, Otto lembrou que Lula está preso para não disputar as eleições e foi o presidente que mais olhou pelo povo. “As chances são poucas para quem vem de baixo! Então, Lula Livre sempre! Democracia!”, disse o músico.

O encerramento da Jornada também teve a divulgação de uma carta em nome dos mais de 10 mil participantes do evento, onde se defende a agroecologia, a democracia e a liberdade de Lula.

Leia a íntegra do documento:

Carta da 17ª Jornada de Agroecologia

Nós, povos do campo, da cidade, das águas e florestas, representados por mais de 10 mil participantes, oriundos do Paraná, de outros 6 estados brasileiros e de mais de 25 países, construímos a 17ª Jornada de Agroecologia e transformamos Curitiba, a capital da arquitetura do golpe, na capital da luta popular e da luta pela alimentação saudável. E com esse compromisso e admiração nos unimos às trabalhadoras e aos trabalhadores que permanecem firmes em vigília há mais de 60 dias pela democracia e pela liberdade do presidente Lula.

Aqui o judiciário, com seus privilégios e corrupções, articulou-se como aparelho da elite atrasada nacional e da elite imperialista internacional com o objetivo central de destruir um projeto soberano de país que estava em construção. Aliaram-se para congelar o estado social por 20 anos, para avançar contra os direitos do povo, para asfixiar as políticas públicas construídas com ardor na última década – como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) -, calando as lutadoras e os lutadores, criminalizando-os ou ceifando suas vidas. Aqui, nesta mesma cidade, hoje os movimentos sociais fincam as bandeiras vermelhas da luta e hasteiam as bandeiras coloridas da diversidade da vida.

No frio cortante da conjuntura, nos aquecemos e inflamamos a resistência. Construímos com o calor de nossas mãos, dos nossos corpos, nossos rostos e nossas vozes a unidade dos sonhos e projetos para um Brasil popular, soberano e diverso. Todos juntos e sem medo. Trocamos saberes, sabores, cores e culturas, afirmando a capital paranaense como uma ocupação permanente da resistência.

Os saberes populares construídos no pensar e fazer agroecológicos e os saberes construídos nos espaços críticos da academia se encontraram e mostraram que é possível e necessário trilhar um novo rumo juntos. Durante quatro dias de Jornada caminhamos a palavra, dialogamos e praticamos uma agroecologia do campo e da cidade, de quem produz e de quem consome. Debatemos em seminários e conferências. Realizamos oficinas. No “túnel do tempo” mostramos a riqueza da história da agricultura e a necessidade urgente de construir um projeto popular, ecológico e soberano que a transforme. Trouxemos os frutos de nosso trabalho e nossas sementes para a feira agroecológica. Compartilhamos nossas comidas na “culinária da terra”. Cantamos, dançamos e contamos a cultura da diversidade e do compromisso. A Jornada de agroecologia é tudo isso: um grande novelo que enreda os que já têm uma longa caminhada com aqueles que se iniciam na transição agroecológica.

Foram dias muito intensos de perguntas: por que o agronegócio no Brasil insiste em liberar os agrotóxicos nos alimentos que comemos em até 400 vezes e da água que bebemos em até 5.000 vezes mais do que na Europa? O que significa para os camponeses e camponesas a redução das políticas públicas que apoiam a produção de alimentos de qualidade para a mesa do povo brasileiro? Como podemos enfrentar a indústria cultural que promove uma cultura destrutiva, reforçando preconceitos e um modelo de vida que nos adoece?

Mas também foram dias de respostas. A propaganda não nos engana: o agronegócio não é tech, é tóxico. A agroecologia é vida e cultura. A participação intensa das mulheres na agroecologia não só reequilibra a desigual divisão sexual do trabalho, mas também introduz a necessidade de repensar nossa sociedade desde o cuidado e contra o capital que mata; conseguimos reconhecer que existem outras formas de pensar a economia, não mais dominada pelo lucro e a concorrência, mas sim desde a solidariedade, a diversidade e a organização popular; consideramos que a educação compromissada com a libertação e a crítica, como a educação do campo, continua apontando saídas necessárias para a crise civilizatória em que estamos.

Com a experiência que acumulamos nas 16 Jornadas anteriores e com a fortaleza dos debates e dos fazeres dessa 17ª Jornada queremos alçar a voz para apresentar nossa crítica, precisa e direta, à dominação das grandes empresas e corporações que transformam toda a biodiversidade em mercadoria e violam os direitos humanos. Para nós a biodiversidade é bem comum que deve se desenvolver junto aos povos que cultivam a terra e a vida com os saberes tradicionais, a criatividade das juventudes e a força das mulheres.

Denunciamos a guerra agrária que arrasa nosso país, que concentra terras, florestas e águas, que envenena os alimentos, que expulsa do campo e que mata as camponesas e camponeses. Por isso, reafirmamos nosso compromisso por uma terra livre de transgênicos, livre das novas manipulações genéticas e sem agrotóxicos.

Sabemos que para fazer agroecologia é preciso acesso à terra e à biodiversidade nela contida. A reforma agrária popular urge como nunca, assim como a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas, o reconhecimento de territórios de comunidades tradicionais e o assentamento das mais de 100 mil famílias acampadas hoje no Brasil. Só assim o alimento deve retornar à sua natureza de nutrição humana e animal e ao seu papel fundamental na cultura dos povos. A agricultura deve estar à serviço da humanidade e não do capital.

Afirmamos que agroecologia não é somente produzir sem veneno. Agroecologia é projeto político, é prática, é movimento, é ciência e educação populares. É garantia da igualdade e da diversidade racial, de gênero e de sexualidade. É valorização do trabalho e do ser e saber camponês. É respeito e promoção da diversidade social, ambiental e identitária. A Agroecologia é a concreta capacidade dos povos para as enfrentar as mudanças climáticas no planeta e garantir a soberania e segurança alimentar. É por isso também que a agroecologia e a democracia são indissociáveis.

Travamos dia-a-dia, batalhas por mais direitos, eleições livres e democráticas. Sabemos que o poder popular cabe a nós. É nossa tarefa histórica que não será delegada às elites dependentes brasileiras e nem aos imperialistas da burguesia internacional. Retomemos as rédeas de nossa história. Tecendo o futuro que já começou.

Somos milhões que em marcha, no campo, na cidade, nas terras, nas águas, nas florestas, nos rincões do Paraná, do Brasil e do mundo bradam por solidariedade, liberdade e justiça.

Por isso, exigimos a liberdade para Lula e para todos as lutadoras e lutadores o povo, encarcerados e criminalizados por ousarem sonhar por vida, paz, pão e igualdade para toda a humanidade.

Pensam que podem nos prender, mas seguimos livres e lutando! Pensam que podem nos matar, mas somos sementes!

Em resposta à violência nos unimos. Em resposta à barbárie nos organizamos. Na unidade, venceremos. Não temos tempo para ter medo. Temos nossos punhos e o sentimento do mundo.

Cuidando da Terra, cultivando biodiversidade e colhendo soberania alimentar!
Viva a Jornada de Agroecologia!
Viva a democracia!
Lula Livre!!!

Curitiba, 09 de junho de 2018

Da redação da Agência PT de notícias, direito de Curitiba

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