A vida de volta ao sertão

Obras da transposição do São Francisco revitalizam cidades inteiras do interior do Nordeste, como Cabrobó, em Pernambuco. Para sertanejos, cidade teria acabado sem as obras

Julia Carvalhos acompanha o movimento em Cabrobó depois do início das obras do Projeto São Francisco

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Cabrobó vive dias movimentados desde o início das obras de transposição do rio São Francisco

Aos 68 anos, a aposentada Júlia de Carvalho Ribeiro tem orgulho de sua boa memória, principalmente quando se trata de datas. Ela lembra, perfeitamente, o dia em que se mudou para o número 305 da rua José Gomes de Andrade, em Cabrobó. Isso aconteceu há 42 anos, quando a baiana deixou a outra casa onde morava para ficar próximo ao centro. Desde que chegou ao município, Júlia nunca viu tanta movimentação como agora, segundo revela. O motivo é único: as obras do Projeto São Francisco.

A parte do empreendimento que começa em Cabrobó é do Eixo Norte, que vai até São José das Piranhas, na Paraíba. Na cidade em que dona Júlia adotou como sua não se fala em outra coisa, além da transposição do Velho Chico, rio que nasce pequeno na Serra da Canastra (MG) e se agiganta no sertão afora.

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Para Júlia Carvalho, a Cabrobó nunca esteve tão movimentada

Com a obra, quem não tem água vai passar a ter. “Vai ser muito bom para o pessoal do outro lado. O governo tem mesmo é que levar água para eles”, diz Adailson dos Santos, de 35 anos, pai de seis filhos ao se referir aos demais estados beneficiados com a transposição.

O acanhado Adailson é chefe de uma das 50 famílias residentes no Assentamento Jiboia, há 16 anos. Lá, junto com seus vizinhos, cria peixes e cabras, com os quais sustenta a família.

Adailson Santos, criador de peixes e cabras comemora a chegada da água: " vai ser muito bom"

Adailson Santos, criador de peixes e cabras comemora a chegada da água: ” vai ser muito bom”

Aliosvaldo Antônio Alves, também morador do local, conta que os técnicos já estiveram por lá examinando o terreno. O agricultor é outro que apoia a transposição que, segundo o Ministério da Integração, já está com 60% de execução das obras físicas e todas as etapas estão 100% contratadas. A previsão de entrega é em 2015.

“Aqui no Nordeste precisamos muito da água e para onde estão levando o canal é muito importante”, observa Aliosvaldo, sergipano de 56 anos, que se orgulha de morar perto de Cabrobó. A cidade tornou-se um símbolo de desenvolvimento.

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Dilza tem irmão e filho empregados nas obras da transposição : “A cidade evoluiu muito, está muito movimentada”.

“A cidade evoluiu muito, está muito movimentada”, diz Dilza Freire de Menezes. Ela acrescenta que o Projeto São Francisco também beneficiou a população gerando empregos. “Eu mesmo tenho um filho e um irmão que trabalham lá”, conta.

Em Cabrobó, sempre se encontra alguém que trabalha formalmente nas empresas que realizam a obra ou tem parente por lá. “Aqui está tendo muito trabalho”, observa o aposentado Abílio Magalhães, de 73 anos, há 43 na cidade.

Aposentado, Magalhães passa as tardes sentado em frente sua casa, que fica próxima à rua onde mora dona Júlia, que chegou por lá em 11 de abril de 1972, como gosta de repetir. Ele está sempre acompanhado das irmãs Maria Socorro e Mara do Carmo, também aposentadas e admiradoras da presidenta Dilma Rousseff. “Já pedi para a mãe rainha para que Dilma ganhe de novo”, diz Socorro, respaldada por Magalhães e Carmo, que atribuem o desenvolvimento do município às obras do Projeto São Francisco.

“A cidade já teria acabado se não fosse a transposição”, diz Maria do Carmo, ressaltando que hoje há circulação de dinheiro em toda a região.

“Primeiro foi Lula e agora é Dilma”, diz a aposentada, que atribui à presidenta e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a chegada do desenvolvimento na região.

Em alguns trechos, as empresas atuam 24 horas por dia e geram mais de 10 mil postos de trabalho. A transposição é considerada o maior empreendimento hídrico em andamento no país.

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A população de Cabrobó experimenta o progresso com a instalação de indústrias e a geração de empregos

Com uma população em torno de 31 mil pessoas, Cabrobó fica às margens da BR-428, que liga o sertão à Recife. As ruas calçadas por paralelepípedos, lembram uma típica cidade do interior, onde as pessoas ainda se encontram para conversar em frente às casas e onde cavalos e carroças fazem parte da paisagem local. Assim como o que acontece com muitas casas do município, Cabrobó parece ter passado por uma reforma, iniciada com a transposição.

 

Por Edson Luiz (texto) e Cadu Gomes (fotos), enviados especiais da Agência PT de Notícias

 

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