Angelo Conde Simone: VAMOS! se foi

Uma análise sobre o experimento natimorto da hipocrisia pequeno-burguesa do movimento VAMOS!

Paulo Pinto/Agência PT
Tribuna de Debates do PT

23º Grito dos Excluídos em São Paulo

Enquanto o ex-presidente Lula, a presidenta Dilma e os companheiros mais próximos estão viajando pelo Nordeste do país, figuras menores na política prosseguem com suas habituais experiências, agora no esforço de reunir grupos presumidamente “confusos e insatisfeitos, mas potencialmente progressistas”, para um novo movimento político: VAMOS, de Vamos Mudar. Seu objetivo é discutir um projeto de esquerda para as próximas duas décadas, afirma um líder do movimento, Guilherme Boulos. Há equívocos aí a perder de vista, mas vou tentar apresentar uma visão geral.

Primeiro e muito primeiro: um governo não eleito prossegue com suas políticas que arrebentam com vários setores da sociedade: os assalariados são os mais violentamente atingidos; todo o setor produtivo, exceto o agronegócio, recordando que ambos estiveram de acordo com a tramoia do governo não eleito em primeiro lugar; os pequenos empreendedores individuais, entre outros. Por qual motivo alguém inserido no debate político nacional planejaria os 20  anos futuros quando nem sequer sabemos se teremos ou não eleições gerais no próximo ano? N. 1.

Segundo: presumir que pessoas confusas e potencialmente progressistas estariam dispostas a se juntar ao VAMOS é, no seu núcleo, um argumento elitista. Toma os trabalhadores como seres privados de consciência a respeito de seus interesses. Por essa razão, eles precisariam ser postos sob uma orientação esclarecedora adequada, ou seja, unindo o elemento “potencialmente progressista” com os discursos, digamos do Marcelo Freixo, daríamos origem a um novo ciclo de crescimento das idéias da esquerda. Eles se esquecem que na prática, os trabalhadores “potencialmente progressistas” já votam no PT e em nossos amigos e aliados orgânicos desde a redemocratização, um grupo que muitos deles integram, inclusive. N2

Terceiro: alguns dos nanicos de esquerda no Brasil contemporâneo são filhos do PT, deixando-o por vontade própria ou sendo expulsos. A figura mais proeminente nesse contexto, é o PSOL, ao qual Boulos está bastante ligado. Faz parte da cultura política dos nossos antigos companheiros, agora expatriados, uma tendência fragmentária, resultado em grande medida do seu esquerdismo eleitoreiro: VAMOS seria a reedição dessa tradição. A esperança é que os militantes do PSOL, PSTU, PCB, PCdoB e, e de acordo com as palavras dos líderes dos VAMOS, também PT, fluirão para o VAMOS… N.3

O que foi apresentado nos conduz a entender que, primeiro (1), priorizar 20 anos de planejamento face às próximas eleições gerais, significa de maneira objetiva, que a perspectiva eleitoral para os líderes do VAMOS não é lá muito boa, embora para os trabalhadores signifique uma chance de barrar sua atual pauperização. Quais são as prioridades do VAMOS: planejar um futuro intangível ou a situação material dos trabalhadores? (2) A maioria dos trabalhadores definitivamente não está confusa sobre seus interesses: aumento de salários, direitos trabalhistas, serviços sociais adequados, oportunidades de desenvolvimento; Nós somos mais de 95% do país, então quem está confuso..?  (3) Alguns militantes “auto-exilados” de partidos fragmentários são os principais fundadores da VAMOS, Luciana Genro, por exemplo. Nesse sentido, é provável que o VAMOS sofrerá as mesmas fraturas do PSOL, PSTU e outros. Então, sabe Deus se ele perdurará por 20 anos! Mas não temos de nos preocupar com isso mesmo, pois a intenção não é fundar um novo partido…

Bom, eu conheço um homem que se preocupa com o futuro lutando no presente, que é trabalhador e que não está nem um pouco confuso. Ele representa um elo aglutinador do “movimento” que ele co-fundou há 37 anos. Seu nome é Lula e não importa que crítica se possa aventar sobre ele e seus dois governos: uma análise material a respeito de tudo que está em curso, deixa claro devemos garantir sua eleição no próximo ano. Temos porque é o objetivo adequado para reposicionar os trabalhadores na luta de classes, simples assim. A esquerda tem de concentrar as energias nessa tarefa e não tentar cinicamente construir outro partido pequeno-burguês, fraturado, arrivista e o que é pior de tudo, às expensas da luta de classes.

Aos companheiros petistas, aos camaradas utópicos e sonhadores socialistas, deixo o pedido de que não tentemos fazer meio campo com esse tipo de proposta, pois ela turva a clareza necessária para realizarmos nossa missão e não traz nenhum ganho material pros trabalhadores.

Até a vitória, companheiros!

Por Angelo Conde Simone, estudante de Sorocaba (SP), para a Tribuna de Debates do PT.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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