Apesar de ameaças, estudantes mantêm protestos nas universidades

Mesmo após ações autoritárias e Bolsonaro dizer que universidades não são locais de protestos, alunos de todo o país se mobilizam contra o fascismo

Coletivo Negro Afromack

Estudantes do Mackenzie protestam contra racismo e fascismo em São Paulo

Intimidação de professores, retirada de faixas a favor da democracia e ameaças não foram o suficiente para conter estudantes de universidades federais e privadas. As mobilizações recentes, aliás, mostraram o quanto será difícil Jair Bolsonaro conter os protestos nesses espaços públicos.

A nova leva ocorreu logo após o resultado das eleições. Estudantes das universidades de São Paulo (USP) e de Brasília (UnB) mobilizaram milhares de pessoas contra Bolsonaro, nessa segunda-feira (29).

Os atos foram respostas, segundo o jornal Folha de S.Paulo, a manifestações convocadas por grupos pró-Bolsonaro que se dizem “contra o comunismo” e a “doutrinação de esquerda”. Isso apenas alguns dias após o próprio Bolsonaro dizer, nas redes sociais, que universidades não eram locais para mobilizações.

Na USP, o protesto “contra o fascismo” e pela democracia atraiu em torno de mil pessoas na Cidade Universitária, no bairro do Butantã, segundo estimativa da guarda universitária. Já o evento favorável ao militar reuniu apenas 20 manifestantes – a maioria sequer era da instituição, segundo estudantes.

Outra mobilização minúscula a favor do capitão reformado foi feita na UnB, onde apenas 10 pessoas compareceram. A resposta foi dada por cerca de 200 estudantes, que reagiram em local próximo com gritos contra o fascismo.

“Negraiada”

Já nesta terça-feira (30), uma grande mobilização ocorreu na universidade privada Mackenzie contra um jovem eleitor de Bolsonaro. Dezenas de alunos pediram que o rapaz, que cursa direito na instituição, seja expulso após divulgar um vídeo preconceituoso nas redes sociais, além de mais segurança na instituição.

O vídeo mostra o jovem indo votar no domingo (28) em Londrina, no Paraná. Ele diz: “indo votar a ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo. Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”.

O estudante foi suspenso pelo Mackenzie. Ao saber do episódio, o escritório de advocacia em que o rapaz trabalhava desde julho como estagiário anunciou sua demissão.

Apesar as mobilizações contrárias ao militar, uma instituição de ensino em Minas Gerais chegou a fechar as portas nesta terça-feira (30) devido a declarações dadas por Bolsonaro.

As aulas foram suspensas pela Fundação João Pinheiro, de acordo com o jornal O Tempo, após circular nas redes sociais um vídeo no qual o militar cita nomes de nove de professores da fundação, criticando-os em sua maneira de lecionar. A reportagem afirma que “optou por não publicar o vídeo para não expor os professores citados”.

Sem medo de ameaças

As ações contra Bolsonaro mostraram que alunos e alunas não temem as tentativas de intimidação que ocorreram recentemente. Na semana passada, a Justiça Eleitoral e a Polícia Militar interviram em universidades públicas. Os relatos incluem suspensão de eventos, apreensão de materiais e faixas e cartazes foram removidas de instituições de ensino superior.

No Twitter, a senadora Regina Sousa (PT-PI), que será vice-governadora do Piauí a partir de 2019, protestou contra as ações da Justiça Eleitoral. “[O] judiciário brasileiro manda apreender faixa com a frase ‘mais livros, menos armas’. Que recado quis dar? Inacreditável!”, criticou a parlamentar, que atualmente preside a Comissão de Direitos Humanos do Senado.

Em um dos casos mais chocantes, policiais militares entraram armados em um campus da UEPA no município de Igarapé-Açu (PA) para averiguar o teor ideológico de uma aula e ameaçaram de prisão um professor. A polícia foi chamada por uma das alunas, que é filha de um policial, após o docente ter feito uma menção à produção de fake news.

Bolsonaro e apoiadores reagem

A preocupação é tão grande com os protestos que a equipe de Jair Bolsonaro está mapeando os mandatos dos reitores das universidades federais, de acordo com a coluna da jornalista Denise Rothenburg, do jornal Correio Braziliense, nesta terça.

O objetivo, segundo Rothenburg, é “tentar influir na composição das listas tríplices que saem das comunidades acadêmicas, para que o presidente da República escolha os novos reitores, e não deixar essas instituições como foco de manifestações contra o futuro governo, antes mesmo de o presidente eleito começar a governar”.

As reações também envolvem tentar calar professores. É o que pretende a deputada estadual eleita por Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo (PSL). Em post nas redes sociais, ela pede que estudantes enviem vídeos a um determinado número de telefone com denúncias de professores que criticarem Bolsonaro em sala de aula. O anúncio conta com a assinatura do movimento “escola sem partido”.

Após a repercussão do caso, mais de 274 mil pessoas assinaram uma petição no site Avaaz pedindo a impugnação da deputada eleita.

Ana Caroline já tinha histórico de polêmicas. Ela chegou a entrar com uma ação contra a professora Marlene de Fáveri, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), sua orientadora no mestrado. Caroline acabou reprovada e denunciou Fáveri de “perseguição ideológica”. O juiz do caso, no entanto, considerou o pedido improcedente por falta de provas.

Por PT no Senado

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