Após chacina no Pará, entidades denunciam aumento da violência

Impunidade, grilagem de terras, concentração da estrutura fundiária e ambiente político-institucional forjado pelo golpe são fatores apontados

José Cruz/Agência Brasil

Após a chacina de dez posseiros durante uma ação desastrosa de reintegração de posse por parte das polícias militar e civil do Pará, as entidades que organizam a luta dos trabalhadores rurais no estado emitiram uma nota para se pronunciar e cobrar resolução do caso.

Lideranças petistas se posicionaram publicamente contra a chacina e nesta sexta-feira (26) a ONU criticou o abuso das forças de segurança brasileiras e a maneira como o estado trata os conflitos agrários.

Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o MST condenam a ação que é pintada como conflito, mas na qual apenas trabalhadores rurais acabaram feridos ou mortos. Nenhum policial foi identificado.

“Trata-se de um crime de Estado, tal qual ocorreu há 21 anos em Eldorado do Carajás, quando 19 trabalhadores foram brutalmente executados”, denunciam no texto.

Confira o texto a seguir:

Imediatamente um dia após a audiência pública realizada na Assembléia Legislativa do Estado do Pará que tratou a respeito da acentuação da violência no campo em território paraense, fomos novamente sacudidos por mais uma chacina de trabalhadores e trabalhadores rurais, desta vez vitimando 10 (dez) pessoas na fazenda Santa Lúcia, situada no município de Pau D’Arco, na região Sul do Pará, durante ação comandada pelas Polícias Militar e Civil do Pará.

A chacina de Pau D’arco é mais um triste episódio que evidencia o acirramento da violência no campo, vitimando trabalhadores e trabalhadoras rurais, a parte mais vulnerável dos conflitos envolvendo a posse e uso da terra no Pará.

As causas estruturais da acentuação dos assassinatos de camponeses nas áreas rurais paraenses estão associadas à impunidade, à grilagem de terras, à concentração da estrutura fundiária e ao ambiente político-institucional forjado pelo golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016.

A chegada dos golpistas ao centro do poder no Brasil, oriundos das bancadas do Boi, da Bala e dos Bancos encorajou politicamente as elites agrárias da Amazônia e as autorizou tacitamente a empregar a violência como o principal meio de apropriação das terras e de extermínio das lideranças camponesas.

Por outro lado, o desmantelamento da política de Reforma Agrária (extinção da Ouvidoria Agrária e do MDA) e a aprovação de medidas perversas em favor do grande capital designado sob o nome de “mercado”, tais como a MP 759/2016 aprovada ontem pelos golpistas na Câmara dos Deputados, conformam a caótica situação atual de supressão de direitos fundamentais e ataques aos bens comuns. Querem a todo custo transformar a terra de trabalho em terra de negócio, mercantilizando todas as esferas da vida.

A barbaridade da ação policial deflagrada pelas forças da PM e Policia Civil paraense em Pau D’arco, sob o pretexto de ter reagido à suposta resistência de famílias que se negavam a cumprir 14 mandados de prisão contra si, revela que o Estado coercitivo anda de braços dados com a morte.

Trata-se de uma frágil argumentação desprovida de qualquer fundamento, pois nenhum policial sofreu dano físico, enquanto do outro lado tombaram dez vítimas fatais, dezenas saíram feridos e outros encontram-se desaparecidos. Em outras palavras, trata-se de um crime de Estado, tal qual ocorreu há 21 anos em Eldorado do Carajás, quando 19 trabalhadores foram brutalmente executados.

Após a ocorrência da chacina, participamos hoje de reunião promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará, onde estavam presentes várias instituições públicas e organizações sociais. Na oportunidade pedimos a mais rigorosa apuração dos fatos e punição dos responsáveis, ficando encaminhadas várias medidas, dentre as quais, a abertura de inquérito por parte do Ministério Público estadual, a reinstalação da Comissão Estadual de Mediação de Conflitos Agrários, audiência em caráter de urgência com o Tribunal de Justiça e visita à área de conflito.

Diante de tantas mortes e descaso por parte do Estado brasileiro, denunciamos nacional e internacionalmente a atuação autoritária, desproporcional e despreparada da Polícia Militar do Pará diante do conflito de Pau D’Arco. Adotaremos todos os protocolos necessários junto aos organismos internacionais de Direitos Humanos para que apurem a responsabilidade do Estado com a escalada de violência contra trabalhadores e trabalhadoras rurais e os movimentos sociais que os representam.

Esperamos que as dez novas mortes não sejam naturalizadas apenas como números frios em uma nefasta estatística que não para de crescer e que infelizmente tende a se intensificar diante de tantas medidas criminosas adotadas pelo governo Temer contra os mais pobres.

Em um Estado onde apenas 8% de proprietários concentra 69% das terras, onde a grilagem se reinventa a cada dia por meios escusos, onde as grandes corporações do agronegócio se expandem violentamente sobre as terras camponeses, que lidera os casos de trabalho escravo e a lista de maiores desmatadores da Amazônia, a solução passa pela democratização do acesso à terra e o reconhecimento de direitos territoriais historicamente violados.

Por fim, nós da CUT, da FETAGRI, do MST e da CPT repudiamos esse massacre, o derramamento de sangue e a criminalização das pessoas e dos movimentos sociais. Chega de barbárie e impunidade!

Reforma Agrária Já! Fora Temer! Diretas Já!

Belém, 25 de maio de 2017.

Central Única dos Trabalhadores – CUT/PA

Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Pará – FETAGRI

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra – MST

Comissão Pastoral da Terra – CPT/PA

Por MST.org.br

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