Bancada do PT repudia atitude do secretário de Segurança de São Paulo

Em audiência pública na Assembleia Legislativa, o secretário não prestou informações e foi “agressivo”. Por determinação do Ministério Público, o caso passou a correr em segredo de justiça

(Foto: Edison Temoteo/Futura Press/Estadão Conteúdo)

A bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) repudiou o posicionamento do secretário de Segurança do estado, Alexandre de Moraes, durante audiência da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, na quarta-feira (2), por não explicar o vazamento de dados de testemunhas da chacina de Osasco e Barueri, o andamento das investigações e a briga pelo comando do processo.

De acordo com o líder da Bancada na ALESP, Geraldo Cruz, que assina a nota, o secretário não ouviu os apelos para que o debate não fosse “apequenado” e “partidarizado”, e também não conseguiu explicar o que pensa e o que fará o estado sobre o “terrível” crime e seus desdobramentos.

“Todas as vezes em que foi questionado pelos parlamentares, o que se viu foram truculência e despreparo”, observa a nota.

A nota ressalta que os deputados discutiram apenas a chacina de 13 de agosto, sem cobrar o secretário sobre os recentes escândalos de corrupção descobertos em sua pasta e que envolvem parte da cúpula da polícia, ou mesmo os resultados medíocres na solução de homicídios.

“Como resposta, o secretário teve um comportamento pequeno, desferindo ataques contra o governo federal e tentando eximir o governo paulista de responsabilidade na onda de chacinas em São Paulo”, acusa a nota.

De acordo com a nota, diferentemente do passivo de 90% de homicídios sem solução pela polícia paulista, a Polícia Federal, de responsabilidade da União, tem atuado de forma firme, autônoma e inteligente no combate ao crime organizado em todo país e em todas as esferas.

“O que deixa a óbvia sensação, para nosso povo, de que o crime mais perverso praticado contra alguém, o assassinato, fica impune em São Paulo”, observa a nota.

Segundo a nota, ao adotar o ataque como estratégia para fugir do debate, Moraes deixou de dar respostas a familiares de vítimas de crimes desse tipo, bem como acusou indevidamente a imprensa pelo correto trabalho de denunciar a vulnerabilidade de testemunhas da chacina, ao terem seus dados pessoas expostos à consulta pública. A bancada acusa o secretário de não aceitar o debate de como reduzir as chacinas que ocorrem no estado e punir os responsáveis.

“Essa seria a melhor resposta a uma mãe sobre sua tragédia pessoal, não a virulência e o despreparo de um secretário de Estado que não está à altura do cargo que ocupa”, observa a nota.

O deputado estadual João Paulo Rillo (PT) criticou a decisão da Secretaria de centralizar as informações sobre a chacina e classificou como falida a segurança pública. “Todos nós somos vítimas de um fingimento e de um governo frouxo que não tem inteligência, que não consegue manifestar-se com dignidade, energia ou solidariedade”, cobrou o deputado.

O assessor de imprensa do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo (TJM-SP), Ricardo Nonato, informou, nesta quinta-feira (3), que o TJM-SP acatou determinação do Ministério Público (MP) para que o caso corra em segredo de justiça. Os dados não foram vazados, eles foram acessados porque eram públicos.

Leia na íntegra da nota:

“Nota de repúdio da bancada do PT sobre a participação do secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, na Comissão de Direitos Humanos

Qual é o comportamento que se espera de um secretário de Estado durante uma audiência de uma comissão do Poder Legislativo que discute uma terrível chacina que vitimou 19 pessoas no Estado mais rico do país?

Espera-se que tenha preparo, firmeza, transparência e tranquilidade para apresentar ao Legislativo e ao povo de São Paulo o que a inteligência da polícia paulista faz para esclarecer esse terrível crime. Espera-se a apresentação de um plano para que esse tipo de ação não ocorra mais. Espera-se responsabilidade, para que as famílias vitimadas saibam que o Estado se preocupa com sua dor e que as testemunhas serão protegidas, de modo que possam ajudar a esclarecer esse crime e punir, com o rigor da lei, os responsáveis, sem que fiquem vulneráveis a vingança e a “queima de arquivo”.

Espera-se transparência, para que todos saibam que o Estado não manipula informações para esconder o drama de nossa sociedade que, ao que tudo indica, convive com o ressurgimento de grupos de extermínio. O governo não pode transformar “chacinas” em “crimes múltiplos”, apenas para esconder os crescentes casos no Estado de São Paulo.

Não foi o que se viu. Os apelos para que o debate não fosse “apequenado” e “partidarizado” não foram ouvidos pelo secretário. Não bastou que, despreparado, não conseguisse explicar os motivos que levaram ao vazamento de informações sobre testemunhas, o que coloca em risco a vida dessas pessoas. Não bastou que não conseguisse explicar como andam as investigações e a briga no comando do processo, e que o tribunal militar e a cúpula da polícia civil parecem não trabalhar de forma unificada, e, mais grave, não bastou que não conseguisse explicar o que pensa e o que fará o Estado sobre o terrível crime e seus desdobramentos. O secretário Alexandre de Moraes foi além.

Todas as vezes em que foi questionado pelos parlamentares, que se comportaram exatamente como prevê o regimento interno da Casa e as regras da boa convivência democrática, questionando, cobrando e exigindo as respostas que o secretário insistia em não dar, o que se viu foram truculência e despreparo. Isso porque os deputados discutiram apenas a trágica chacina, sem cobrar o secretário sobre os recentes escândalos de corrupção descobertos em sua pasta e que envolvem parte da cúpula da polícia ou mesmo os  resultados medíocres na solução de homicídios.

Como resposta, o secretário teve um comportamento pequeno, desferindo ataques contra o governo federal e tentando eximir o governo paulista de responsabilidade na onda de chacinas em São Paulo.  A Polícia Federal, de responsabilidade da União, tem atuado de forma firme, autônoma e inteligente no combate ao crime organizado em todo país e em todas as esferas. Sua atuação na solução de crimes é reconhecida pelos brasileiros, diferente da inteligência da polícia paulista, incapaz de solucionar mais de 90% dos homicídios praticados em nosso Estado. O que deixa a óbvia sensação para nosso povo de que o crime mais perverso praticado contra alguém, o assassinato, fica impune em São Paulo.

O secretário adotou o ataque como estratégia para fugir do debate real: como reduzir as chacinas que ocorrem em nosso Estado e punir os culpados. Essa seria a melhor resposta a uma mãe sobre sua tragédia pessoal, não a virulência e o despreparo de um secretário de Estado que não está à altura do cargo que ocupa.

Alexandre de Moraes também atacou a imprensa, que corretamente divulgou o quanto as testemunhas ficaram vulneráveis por culpa da ação irresponsável de investigadores do caso. A própria delegada Marilda Pinheiro, presidentes da ADPESP (Associação dos Delegados de Polícia de SP), afirmou que os delegados estão “indignados” com a ação precipitada que, ao praticamente avisar os suspeitos que estão sendo investigados, pode inviabilizar o “conjunto probatório” contra os culpados, fazendo com que ninguém seja punido.

Esse é o secretário de Segurança Pública de São Paulo. O que o povo paulista pode esperar de alguém que se comporta assim?

Geraldo Cruz

Líder da Bancada do PT na Assembleia Legislativa”

Da Redação da Agência PT de Notícias

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