Benedita da Silva: Foi o povo brasileiro quem Moro condenou

A exclusão de Lula da política segue a sequência lógica da exclusão social do povo. Visa tirar do povo a sua principal arma política e eleitoral

ASCOM

Benedita da Silva

Quando Moro condenou Lula naquelas mil páginas de um processo vazio de provas materiais, mas cheios de muitas convicções políticas, ele deu partida à fase decisiva do jogo golpista que está oprimindo e principalmente enojando o país.

Como já foi dito, a repulsa ao governo golpista, que, ilegitimamente, ocupou o lugar da honesta e legítima presidenta Dilma Rousseff, é uma repulsa que vai muito além da política, é, sobretudo, ética.

E o seu caso mais emblemático é o fato de Aécio Neves ter sido inocentado pelo Supremo, perdoado pelo Senado e blindado pela mídia, mesmo que diante de robustas provas materiais. E isso acontece simplesmente porque Aécio é filho da Casa Grande. E todos nós estamos cansados de saber que quando um playboy pratica um malfeito, ele cometeu um “erro”, mas se for pobre e negro, é crime.

O crime de Lula foi ser presidente e mudar a vida do povo. Foi tentar fazer do Brasil um país soberano e respeitado no mundo. Mais do que um simples indivíduo, Lula expressa a esperança dos oprimidos na mudança de suas vidas, um projeto de justiça social. O julgamento de Moro é político porque não julgou o Lula indivíduo, mas o que ele representa e a ameaça que constitui para a continuidade do golpe.

A natureza política desse julgamento foi muito bem retratada pela capa da Isto É, quando, num ringue de boxe, Moro era retratado ao mesmo tempo como juiz e adversário de Lula. De fato, durante todo o tempo do processo e até a condenação injusta de Lula, o julgamento contrapôs o capataz da Casa Grande ao líder rebelde da Senzala. A missão de Moro era a de usar a força bruta da justiça dos poderosos, a condenação sem provas, para excluir da política aquele que ousou, representando o povo oprimido, ampliar a democracia a ponto de se eleger presidente da República, até então um cargo exclusivo das elites oligárquicas.

A exclusão de Lula da política segue a sequência lógica da exclusão social do povo. Visa tirar do povo a sua principal arma política e eleitoral. A democracia ampla dos direitos do povo, que Lula defende, é totalmente estranha ao que a minoria milionária e dominante entende por democracia: regime dos privilégios das elites oligárquicas e da violência contra o povo.

A democracia dos golpistas, dos banqueiros, da FIESP, do capital estrangeiro, do Departamento de Estado americano, é a “democracia” do Mapa da Fome e do Mapa da Violência. Da perseguição aberta e tolerada a todos aqueles que defendem os direitos humanos. É um regime que não apenas suprime direitos dos trabalhadores, mas também tira a vida da juventude negra, dos camponeses e dos indígenas. No regime golpista cabe aos trabalhadores tão somente a função de subsistir como força de trabalho. Direito é privilégio de rico.

O rápido crescimento da reação da sociedade contra a condenação de Lula, inclusive internacionalmente, mostra que a “questão Lula” não é um problema exclusivo do PT, mas um fator decisivo da democracia, tanto da luta contra o golpe quanto da conquista do Estado Democrático de Direito e do restabelecimento dos direitos dos trabalhadores e do povo em geral.

Sua condenação sem provas, uma acintosa violência do Estado de exceção a que o Brasil está submetido, feriu profundamente o sentimento democrático da sociedade. O reconhecimento da inocência de Lula virou bandeira política contra o golpe e intensificou os debate nas redes sociais. A defesa de Lula é sinônimo de luta por nenhum direito a menos e por Diretas-Já.

Benedita da Silva é Deputada Federal pelo PT/RJ

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