Contribuição do Secretário de Organização Nacional do PT, Florisvaldo Souza, para o Seminário de Organização.

Veja abaixo a contribuição do Secretário de Organização Nacional do PT, Florisvaldo Souza, que falou na abertura do Seminário Nacional de Organização.

Seminário Nacional de Organização do PT foi realizado em São Paulo, dos dias 27 e 28 de agosto, e contou com a presença de 164 participantes que militam em 26 estados ocupando cargos de direção nacional, estadual e municipal. 

Foram discutidas propostas para melhorar o funcionamento e a organização do Partido, a síntese das propostas apresentadas pode ser lida aqui.

Veja abaixo a inserção do Secretário de Organização Nacional do PT, Florisvaldo Souza, que falou no seminário:

Os últimos 35 anos e o PT daqui a 35 anos.

O presente texto procura resgatar algumas preocupações com as questões organizativas do Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação.

É importante salientar que, apesar de tentar ser fiel aos fatos, diferentes interpretações e avaliações sempre são possíveis.

O objetivo deste texto, portanto, é funcionar como contribuição para um resgate histórico e necessário desta bela trajetória de organização partidária, que marcou, nos últimos 35 anos, a construção desta experiência partidária que agregou diversar forças políticas com o objetivo de transformar a realidade brasileira.

Entretanto, tudo está sujeito à superação. O PT agora precisa olhar para a frente, para os próximos 35 anos. Corrigir rumos e criar novas expectativas na sociedade, mostrando que sua capacidade de se reinventar é o combustível que manterá o PT com o firme compromisso de inovar e melhorar cada vez mais a vida das pessoas

 Os anos 80: Os núcleos e a organização de base

Os núcleos de base foram o primeiro instrumento de organização do Partido dos Trabalhadores, formalmente regulamentados em 1981 através de um Regimento Interno aprovado durante o primeiro Encontro Nacional do PT, normalmente compostos por, no mínimo, 21 membros, os núcleos eram responsáveis pelas tarefas de filiação, arrecadação financeira e escolha de delegados e candidatos. Além disso, a nucleação fazia parte de uma estratégia que era, ao mesmo tempo, de construção partidária e de campanha eleitoral e, também, de mobilização social no contexto da redemocratização brasileira.

Os núcleos foram também a primeira tentativa de criar normas para o funcionamento do Partido. O regulamento dos núcleos previa o registro de seus integrantes junto às instâncias partidárias e a apresentação de uma proposta de contribuição financeira regular e mensal para o respectivo Diretório. A depender do domicilio eleitoral e do formato do núcleo (por categoria ou por movimento social, local de trabalho ou local de moradia) havia uma regra que determinava a instância na qual o núcleo devia ser registrado e para qual Encontro aquele núcleo poderia eleger delegados.

Funcionando como células autônomas do PT, os núcleos mostram-se uma importante ferramenta de mobilização e foram fundamentais na construção do Partido, numa época em que os filiados e filiadas preenchiam fichas de cartolina que eram comumente guardadas em caixas de sapato.

A Carta Eleitoral de 1982 já mostrava preocupação em evitar que os núcleos e diretórios fossem corrompidos, desativados ou transformados em comitês individuais de candidatos. A partir de 1984, com a aprovação do primeiro Regimento Interno, o debate em torno do funcionamento do PT ganha maior consistência, na medida em que se pretende materializar o potencial existente no conjunto dos trabalhadores organizados e nos movimentos sociais em “força orgânica, que se traduza em crescimento, em número e qualidade, de filiados, núcleos e Diretórios. ”

Em decorrência da necessidade de abrir o Partido para aqueles que queriam organizar-se politicamente, de forma a superar um tipo de funcionamento que não se resumisse apenas à “adaptação de antigas tradições da esquerda à legislação ditatorial sobre partidos políticos”, começam a surgir as primeiras preocupações com a transformação dos núcleos e dos diretórios em “instâncias burocráticas e fechadas” e também com a ampliação da organização do PT para além do ABC paulista.

Era muito claro naquela época que a atuação dos núcleos não poderia ficar limitada às tarefas de legalização e interiorização. Sem os núcleos o PT seria pouco diferente dos partidos tradicionais. Mas, apenas os núcleos não eram mais suficientes para garantir uma ligação estreita entre o PT e o movimento popular.

Melhorar a vivência partidária era também motivo de preocupação. Os núcleos eram concebidos para se transformar em organismos vivos, espaço de reflexão onde filiados e filiadas poderiam discutir livremente sua realidade cotidiana e trocar experiências sobre seus problemas. Entretanto a experiência mostrava que na prática os núcleos transformavam-se em meros “locais de reuniões, muitas vezes inúteis, que jamais [propiciavam] a oportunidade de um encontro entre trabalhadores com diferentes experiências de vida e de cultura”. De fato, havia um hiato que necessitava ser superado para permitir a convivência entre intelectuais tradicionais e militantes das organizações tradicionais de esquerda com aqueles que vinham do chão de fábrica, na igreja, nas escolas e no campo.

O teoricismo exagerado da vanguarda partidária precisava ser superado de forma a se conectar com as lutas concretas dos trabalhadores, organizando a ação partidária de baixo para cima, articulando a atuação da militância dentro do PT e nos movimentos sociais.

Neste contexto, surge a necessidade de implantar no PT um programa de Formação Política, capaz de preparar filiados e filiadas para a “luta ao lado dos trabalhadores”, cumpre também a importante função de qualificar os espaços de militância nos núcleos e nos diretórios.

Este esforço para ampliar a organização do PT enfrenta também grandes limitações financeiras. Documentos do III Encontro Nacional já mencionam dificuldades na arrecadação junto aos filiados e filiadas e o financiamento do partido já muito dependente, principalmente, na instância nacional da contribuição de parlamentares petistas.

A contribuição individual de cada filiado ou filiada na época era equivalente ao preço de um cafezinho por mês, entretanto, constatou-se que a grande maioria não pagava regularmente sua contribuição, e o que era arrecadado na base não tinha o devido percentual repassado aos Diretórios Estaduais e ao Diretório Nacional.

Avaliou-se na época que boa parte das dificuldades financeiras residiam no “amadorismo” com o qual a questão era tratada internamente. Neste sentido, foram tomadas iniciativas como “profissionalizar um cobrador” para recolher contribuições a domicílio de cada filiado ou filiada, criar comissões de finanças em todas as instâncias do Partido, instituir um carnê anual de contribuição e fichas de controle financeiro.

É interessante notar que a primeira tentativa de elaborar um cadastro organizado dos filiados e filiadas, com formulários de filiação padronizados e com uma “Carteira de Identificação Partidária” serviu não para identificar e organizar melhor o conjunto de filiados e filiadas, mas para criar as condições para controlar o pagamento das contribuições partidárias.

O III Encontro Nacional contribuiu com um profundo debate sobre o funcionamento e com a apresentação de um diagnóstico detalhado das dificuldades e das limitações do PT. Apesar disso, o Encontro Extraordinário, convocado seis meses depois, na véspera da escolha de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, já apresenta uma avaliação pessimista em relação à aplicação do programa aprovado em 1984.

A persistência dos problemas identificados em 1984 caminhava para um ciclo vicioso, onde a falta de recursos limitava a organização do PT e, ao não se avançar com a organização, não se conseguia ampliar a arrecadação. Apesar desta avaliação pessimista o debate sobre organização partidária avançou muito pouco depois do Encontro Extraordinário de 1985. As eleições de 1986 assumiram o centro da pauta partidária e, do ponto de vista interno, o debate sobre o direito a tendência e sobre a concepção do PT protagonizaram as principais discussões.

Apesar disso, foram realizados, naquele período, seminários sobre organização que modificaram o Regimento Interno do Partido e definiram uma plataforma eleitoral, que previa uma campanha de arrecadação financeira que combinasse “duração, continuidade e amplitude” e critérios detalhados para escolha de candidatos.

É a partir do seu V Encontro Nacional, realizado em 1987, que o PT passa a se definir como força política socialista, independente e de massas.

O direito a qualquer grupo de militantes de constituir-se como tendência é aprovado, ao mesmo tempo em que se reafirmava o PT como partido e não como frente de partidos ou organizações, admitindo-se a composição proporcional na composição do Diretório Nacional, mas reservando à Comissão Executiva Nacional a decisão sobre a participação ou não das minorias na Executiva.

Do ponto de vista da construção do PT, o V Encontro Nacional deu por superado o processo de legalização do Partido. Entretanto, ainda eram evidentes as limitações enfrentadas na organização e no funcionamento interno: “aumentam as tarefas e cresce nossa base social, mas a nossa estrutura não corresponde às necessidades” dizia a resolução política aprovada naquele Encontro.

No geral ainda permaneciam as mesmas dificuldades diagnosticadas em 1984: uma estrutura que ainda era muito voltada para dentro do Partido; a necessidade de melhorar o funcionamento dos núcleos, onde havia “uma enorme distância entre os nossos desejos e a realidade”; a fragilidade econômica e as dificuldades para levar formação política para o conjunto dos filiados e filiadas.

Entretanto, há, em 1987, uma mudança importante na forma como o PT passaria a funcionar. Apesar dos núcleos ainda ocuparem um papel fundamental dentro do partido, o V Encontro passa a conceber os núcleos como “formas organizativas” melhor adequadas para aqueles que “têm uma militância política mais regular” e que, portanto, era necessário incorporar novas formas de participação para incorporar filiados e filiadas “dispostos a formas de colaboração mais eventuais ou mais localizadas em alguma área”.

Com base nesta nova orientação, que era uma decorrência direta da concepção de um Partido de massas, o V Encontro decide também “avançar para ter um contato permanente com o maior número possível de filiados, inclusive os que não se dispõem a ter uma militância regular ou mesmo eventual”.

Neste novo arranjo organizativo a imprensa do Partido passa a te maior atenção na ação estratégia do PT, tornando-se o embrião de uma política de comunicação do PT.

Os anos 90: As vitórias eleitorais

O resultado das eleições de 1989 transforma definitivamente o PT. Fica claro, a partir do início dos anos 90, que o funcionamento partidário precisaria responder ao nítido “descompasso entre o crescimento da importância do PT e o crescimento da sua estrutura orgânica”.

Durante os primeiros 10 anos o PT organizou-se de forma a estabelecer o melhor tipo de relação entre o partido e o movimento social. Mas os resultados eleitorais e o crescimento institucional do partido trouxeram consigo a necessidade de um novo modelo de organização que pudesse lidar com o autoritarismo, a burocratização, e que mantivesse a autonomia dos movimentos frente aos governos petistas e que, sobretudo, garantisse que o funcionamento cotidiano do partido não ficasse limitado às campanhas e disputas eleitorais. O PT estava, pela primeira vez, diante da relação, tantas vezes conflituosa, entre a atuação no Partido, no governo e no movimento social. Como alternativa para mediar as tensões entre as três frentes de atuação partidária, começam os debates a respeito da necessidade de assegurar a presença dos prefeitos e líderes de bancadas nas instâncias de direção.

Se durante o V Encontro Nacional, o PT decidiu se aproximar daqueles filiados e filiadas com um tipo de militância menos orgânica, o crescente viés institucional faz com que, a partir do VII Encontro Nacional, surja a preocupação com as formas de se relacionar “com os grandes contingentes despolitizados e inorganizados da sociedade”.

Entretanto, as dificuldades para ampliar a inserção do partido naqueles setores da sociedade seriam muitas, já que o diagnóstico do VII Encontro Nacional a respeito do funcionamento dos núcleos e dos diretórios era ainda mais pessimista que o diagnóstico realizado em 1984.

A necessidade de transformar as instâncias partidárias em “janelas abertas para a sociedade”, uma orientação que já havia sido apontada em 1987, ganha novo impulso neste período, quando o PT passa a incorporar como atividade partidária a realização de festas, palestras e mutirões de visitação porta a porta. Neste sentido surgem, de forma mais consistente, a necessidade a ampliar a comunicação do PT e de investir em um “canal de comunicação direta da direção com a militância e com os simpatizantes do Partido”.

O processo de reformulação organizativa iniciado durante os V e VII Encontros vai se consolidar no I Congresso Nacional do PT que, de certa forma, encerra o período de consolidação do PT, que já havia se transformado em um “dos principais partidos do País, com presença institucional, social e organizativa nacional”.

Ao mesmo tempo em que ficava claro que o PT havia se tornado a mais bem-sucedida experiência de organização partidária brasileira, atingindo patamares infinitamente superiores ao dos demais partidos políticos da época, permanecia, do ponto de vista interno, a avaliação de que a estrutura interna do PT não correspondia à sua representatividade social e à sua força real.

Tratava-se, naquele momento, de tentar consolidar as condições para adequar as instâncias do Partido à participação de um novo tipo de militante, menos afeito ao “ritual de reuniões demoradas, constantes e cansativas” e criar as condições que abririam o PT para a participação de “uma camada mais ampla de petistas”.

Este debate levaria à elaboração de um novo regimento interno, que teria como princípios básicos, a descentralização regional e a maior autonomia dos Diretórios; a interiorização através da adequação das formas de funcionamento do PT às realidades locais; a profissionalização de quadros e funcionários; a consolidação do processo de regulamentação do funcionamento das tendências; a garantia de creches nos Encontros e convenções do Partido; e a criação de Coordenações Setoriais com atribuições dirigentes para a Juventude, o Movimento Negro, comunidades indígenas, portadores de deficiência e a elaboração de “ um projeto político a partir das diferentes realidades socioeconômicas dos estados, e que contemple áreas como: meio ambiente, saúde, educação, habitação e, fundamentalmente, a questão agrária, fundiária e agrícola”.

Há também uma reformulação no processo de escolha e composição das direções que passaram a ser eleitas em parte, através de chapas e, em parte, a partir de representações regionais e sociais, além da garantida de uma presença mínima de 30% de mulheres em todas as instâncias. O processo de filiação também foi alterado naquele processo. O VII Encontro já havia manifestado a preocupação com a concorrência entre as tendências e procurado garantir que a filiação se mantivesse como prerrogativa das instâncias do Partido e não de suas tendências internas.

Em consequência, o I Congresso introduz a preocupação com a necessidade de definir mecanismos para formalização das filiações, até então uma tarefa exclusiva dos núcleos, e decide dar início a um processo nacional de refiliação e dando inicio à uma nova metodologia de filiação, que estabelecia que, a cada 20 pedidos ou a cada bimestre, os diretórios municipais organizassem, obrigatoriamente, uma plenária, com a presença dos novos filiados e filiadas para confirmar a filiação. Do ponto de vista do seu funcionamento interno, o PT passaria a lidar, ao longo dos anos 90, com dois desafios – que não eram exatamente uma novidade, mas que se tornavam cada vez mais prementes – o seu crescimento institucional e a disputa interna. E seria necessário enfrentar estes desafios, com a dificuldade adicional de não ter conseguido superar as dificuldades enfrentadas durante os anos 80.

É a partir disso que os núcleos passam por um processo de esvaziamento de suas funções.  A partir do I Congresso a composição mínima dos núcleos passa de 21 para 9 componentes e suas tarefas de filiação e arrecadação passam a ficar cada vez mais centralizadas nos Diretórios Municipais.

Ao mesmo tempo que exigiu a criação de novos mecanismos, capazes de equacionar a relação do PT com os Movimentos Sociais e com os governos e parlamentares petistas, o crescimento institucional do PT  trouxe o acesso aos recursos do Fundo Partidário e às doações de campanha.

Isto fez com que a preocupação com a sustentação financeira – um tema central no final da década de 80 – ficasse praticamente despercebido na resolução sobre Construção Partidária aprovada no I Congresso.

Com mais acesso ao tempo de propaganda partidária em Rádio e TV, o I Congresso traz para o centro do debate a preocupação com a comunicação partidária, que passa a ser entendida também como instrumento de organização, fazendo com que a política de comunicação ocupasse boa parte do debate do X Encontro Nacional. Durante o início da década de 90 diversas iniciativas de comunicação, principalmente através do Diretório Estadual de São Paulo, foram colocadas em curso: O Jornal Brasil, a Revista Teoria e Debate e o Linha Direta. Tratava-se naquele momento de aperfeiçoar – inclusive de profissionalizar – a estrutura de comunicação do PT.

Durante o X Encontro Nacional o tema da sustentação financeira volta à pauta, através de uma perspectiva totalmente nova em relação ao debate travado durante os anos 80, a regulamentação das doações ao partido: “A última campanha eleitoral e os últimos dois anos são um retrato da ausência de uma política de arrecadação de recursos por parte da direção nacional de nosso Partido, e o preço que pagamos foi caro, principalmente no caso das doações das empreiteiras ”.

A atual Lei dos Partidos Políticos tramitava no Congresso Nacional e seria sancionada em setembro de 1995. O PT posicionou-se em favor do aumento da dotação do Fundo Partidário e de lutar para “pôr fim à atual forma de doações sem controle, limites e transparência”.

Do ponto de vista interno, o remédio adotado para melhorar a arrecadação entre os filiados e filiadas era muito semelhante ao que já havia sido proposto em 1984: superar o amadorismo e investir na profissionalização da arrecadação.

Neste sentido manteve-se durante o X Encontro Nacional o debate sobre a organização de uma Campanha Nacional de Refiliação que, assim como em 1984, tinha o objetivo de organizar e ampliar a arrecadação financeira do PT, mas que, a partir de agora, também pretendia conhecer os dados socioeconômicos e organizar uma mala direta que possibilitasse o envio de material impresso, através do correio e de um “sistema de ligação via fax”.

Fruto destas tentativas mais organizadas de criar um Cadastro Nacional de Filiados, surgem, a partir de 1995, as primeiras estimativas a respeito do número de filiados e filiadas do PT. Segundo aqueles dados o PT teria, naquela época, em torno de 700 mil filiados e filiadas.

Os anos 2000: Um Novo Estatuto e o PED

Sem conseguir superar da avaliação de que o “Partido está muito voltado sobre si mesmo” e que funcionava a contento apenas durante os períodos eleitorais, o II Congresso Nacional aponta as linhas gerais de funcionamento e de organização do PT que permaneceriam em vigor durante os anos 2.000 e, de maneira geral, até a realização do 4° Congresso.

As condições materiais de funcionamento passam a ser muito mais favoráveis, o Diretório Nacional passou a funcionar em uma nova sede com melhores condições para o funcionamento, com reflexo direto na política de comunicação através do Linha Aberta e do PT Notícias, que pretendia se transformar em um jornal de circulação nacional, além da entrada do Partido na era da comunicação via Internet. A Fundação Perseu Abramo já entrava em funcionamento e o Foro de São Paulo havia sido criado.  O avanço das relações no campo institucional, onde havia permanente “relação com os governadores” e “ação conjunta com os prefeitos”, não se refletiam na relação junto aos movimentos sociais, onde as “divisões internas do partido” limitavam a ação do PT na CUT, UNE e na Central de Movimentos Populares. Caberia às Secretarias e Coordenações Setoriais o papel de melhor organizar a relação entre o PT e os movimentos sociais. Neste período são definidos os critérios para distribuição do Fundo Partidário e os critérios para contribuição partidária dos detentores de cargos eletivos e para os repasses instâncias.

Se, em 1987, havia a preocupação de aproximar o PT de filiados e filiadas dispostos à uma militância menos orgânica, e, a partir de 1990, de se aproximar dos setores despolitizados e não organizados da sociedade. A partir de 1999, buscou-se um tipo de organização que levasse o PT a permear toda a sociedade, levando o Partido até “a juventude, trabalhadores informais, pequeno micro e médios empresários, além de reconstituir nossos laços com setores tradicionais petistas, como os operários industriais, amplos setores da classe média, artistas e intelectuais”. Isto implicava em um novo processo de filiação, que não se confundisse com mera a arregimentação para a disputa interna e “contar número em encontros partidários” .

Isto fez com que um novo processo de filiação fosse elaborado, com base na aprovação dos nomes pela maioria da executiva do município, mediante a divulgação prévia dos nomes dos novos filiados e filiadas. Este processo faz com que os Núcleos de Base, já com suas funções bastante esvaziadas, percam a prerrogativa de eleger delegados e passem a funcionar como instância de participação e debate e não mais de deliberação.   Neste sentido era necessário “transformar cada sede do PT num centro de atividade política, cultural e de lazer, numa referência de solidariedade, útil para a comunidade e aberta diariamente para proporcionar aos jovens, às mulheres, aos idosos uma área onde eles possam se encontrar, estudar, aprender e ensinar”.

Tratava-se da reafirmação de uma concepção de Partido de massa, socialista e democrático, e foi esta concepção que norteou a elaboração do Estatuto do PT e de um novo formato de escolha das Direções Partidárias em todos os níveis, através do voto direto dos filiados e filiadas, o PED.

O primeiro PED foi realizado em setembro de 2001, quando todos os dirigentes do PT foram eleitos pelo voto direto, uma mudança importante na organização do PT, que o consolidou a concepção de Partido de massas ao mesmo tempo em que, no momento em que o direito de tendência é regulamentado e consolidado no Estatuto, resolve o problema da representatividade e da proporcionalidade nas direções do partido.

Sete chapas nacionais e seis candidatos a presidente disputaram o PED, em um processo que envolveu 221 mil filiados e filiados e envolveu 2.504 municípios, organizando diretórios em 45% dos 5.561 municípios brasileiros.   Balanços anteriores indicavam que o PT estava organizado seja, antes da realização do PED, em 4.016 municípios entre Comissões Provisórias e Diretórios Municipais. Deste total de municípios, 2.843 estavam aptos a realizar o PED.

Embora ainda em fase de implantação o Cadastro Nacional de Filiados contabilizava 867.290 filiados e filiadas aptos a votar naquele PED. Este número, no entanto, materializou-se em uma participação efetiva 227.461 filiados e filiadas. Embora a participação, em relação ao número total de filiados e filiadas, tenha sido baixa, verificou-se naquele ano uma participação maior, se comparada aos 212.320 que participaram dos encontros de base de 1999.

A partir da avaliação objetiva do PED, o XII Encontro Nacional adota três importantes medidas para o funcionamento do PED: o recadastramento nacional de Filiados e Filiadas; a realização de um processo extraordinário de eleição para ampliar a organização do PT de 2.504 municípios para 3.500 Diretórios em todo o Brasil; e, finalmente, centralizar a contribuição dos ocupantes de cargos eletivos e de confiança em uma conta corrente única nacional.

A adoção de uma conta corrente única para o pagamento de contribuições partidárias procurava superar a dificuldade de se recolher as contribuições e organizar o repasse entre as instâncias, que passaria a ser feito do Diretório Nacional, para as instâncias estaduais e municipais.

Consolidavam-se, com esta medida, todas as diversas tentativas anteriores de profissionalização da arrecadação financeira, materializada através da criação do Sistema de Arrecadação Financeira, o SACE.

A realização de eleições extraordinárias nos municípios que não conseguiam realizar o PED, revela a fragilidade da organização e funcionamento das instâncias do PT nos pequenos municípios. O recadastramento dos filiados e filiadas estendeu-se de 13 de dezembro de 2001 até 15 de fevereiro de 2003, com 308 mil filiados e filiadas registrados no Cadastro Nacional, consolidando um instrumento que forneceu à Direção Nacional condições arbitrar as prévias eleitorais, os processos de eleição das direções e e escolha de delegados e delegadas, além de criar as condições para a consolidação do SACE e para a comunicação com os Filiados e Filiadas.

Ao controlar a emissão dos Formulários de Filiação e ao assumir o controle sobre o registro dos filiados e filiadas no Cadastro Nacional, a Direção Nacional passou a exercer amplo controle sobre o processo de filiação.

O PED realizado em 2005, além de uma resposta da militância aos ataques sofridos durante a crise daquele ano, revelou um avanço quantitativo e qualitativo da organização partidária, quando concorreram 10 chapas nacionais e 7 candidatos a presidente. Participaram daquele processo 315 mil filiados e filiadas em 3.650 municípios brasileiros, correspondendo a 66% do território nacional.

Em 2007, durante o 3° Congresso Nacional, realizado já durante o segundo mandato do Presidente Lula, vai apontar para a “significativa perda do vigor no nosso diálogo com os movimentos sociais e populares, com a intelectualidade e com a nossa militância”. E, neste sentido, procura “oferecer correções ao partido”.

Uma destas tentativas de correção é a intenção de fortalecer as Secretarias e Coordenações Setoriais, para organizar a atuação dos filiados e filiadas nos movimentos sociais e “funcionar como representação institucional do PT”, para criar espaços de articulação entre o Partido, o Governo e os Movimentos Sociais.

Ao mesmo tempo em que se mantém a preocupação em oferecer formação política para os novos filiados e filiadas e “facilitar o acesso de quem quer se filiar ao PT” o 3° Congresso Nacional, reafirma a proporcionalidade como método de escolha das direções do Partido, entende a necessita de “permanente aperfeiçoamento” do PED e define normas para a sua fiscalização.

O 3° Congresso convoca, de forma extraordinária, um novo PED ainda para aquele ano. O PED 2007, mobilizou 330 mil filiados e filiadas em 3.253 municípios, com 9 chapas nacionais e 7 candidatos à presidência.

A direção eleita em 2007, cumpriu um curto mandato, conduzindo o Partido durante as eleições municipais de 2008, e preparando um novo PED, realizado em 2009, que contou com 8 chapas nacionais e 6 candidatos, mobilizando a participação de 518.192 filiados e filiadas em 4.207 municípios.

A partir de 2008, um sistema informatizado de filiação é implantado no Partido. Conectando, através da internet, as instâncias municipais ao Cadastro Nacional de Filiados, este sistema devolveu aos Diretórios Municipais as prerrogativas de incluir, excluir e alterar o Cadastro de Filiados mantendo o seu caráter de cadastro unificado e suprimindo a necessidade de utilização dos Formulários de Filiação, que não eram emitidos pelo Diretório Nacional em quantidade suficiente e nem distribuídos adequadamente a todos os Diretórios Municipais.

O período recente e a Reforma Estatutária

Os Delegados e Delegadas eleitos em 2009, reuniram-se em 2011, para uma etapa do IV Congresso que teria como única pauta a revisão do Estatuto aprovado 10 anos atrás. Entre as diversas medidas aprovadas, que incluem a paridade de gênero e a adoção de cotas de etnia e geração em todas as instâncias partidárias, são aprovadas uma série de medidas que buscam reduzir a participação de filiados e filiadas com praticam um tipo de militância menos orgânica. Além disso, a filiação ao PT passa a ficar condicionada à participação em uma plenária de filiação, para o novo filiado ou filiada seja apresentado ao Partido.

Outra medida importante, do ponto de vista da sustentação financeira, foi a consolidação do SACE como instrumento exclusivo para o pagamento das contribuições financeiras de todos os filiados e filiadas. Com base nestas regras, em 2013, com 6 candidatos e 8 chapas nacionais inscritas, o PED foi realizado em 3.429 municípios com a participação de 421.832 de um total de 809.344 filiados aptos.

O 5º Congresso Nacional pautou duas importantes decisões do ponto de vista do nosso funcionamento atual. A primeira delas, a avaliação do PED e sua manutenção como forma de escolha das direções partidárias e, a segunda delas, a proibição do financiamento privado do PT.

Construindo os próximos 35 anos

Em que pese a decisão em favor da manutenção da escolha das direções através de eleição direta, deve se debater, mais profundamente o tipo de funcionamento que o PT precisa para ter as condições de mobilizar a sociedade em torno de um projeto para o pais.

A opção por uma Partido de massas, aberto a todos e todas, não implica em abrir mão de uma militância engajada e orgânica. Ao contrário, significa oferecer às condições para que nossos filiados e filiadas possam exercer sua militância política.

É urgente a criação de um novo tipo de vivência partidária, que ofereça formação política, com espaços menos formais e, inclusive, reconhecendo as novas formas de militância virtual.

É sintomático que o debate sobre a proibição do financiamento privado do PT, ocorra ao mesmo tempo em que se reuniu as condições para a profissionalização de um eficiente sistema de arrecadação financeira e que se decidiu desvincular o direito de voto do pagamento das contribuições partidárias dos filiados e filiadas que não exercem cargos.

A busca pela – necessária e importante – profissionalização, não escondeu o problema fundamental – que afeta tanto os mais orgânicos militantes quanto os mais distantes filiados e filiadas – a falta de uma cultura de sustentação financeira através da base; entendida como um fim em si mesmo, e não como uma contrapartida ao direito de voto.

É necessário ter claro que o amadurecimento desta cultura de sustentação financeira está ligado ao despontar daquele novo tipo de vivência partidária. Afinal, se não há formação política constante, se a comunicação é insuficiente, se as atividades partidárias não são capazes de entusiasmar as pessoas, o que há para ser financiado?

Neste sentido é importante refletir sobre a burocratização das instâncias partidárias. Devemos combater, de forma enfática, o funcionamento meramente protocolar dos nossos diretórios. O simples preenchimento de documentos dentro dos prazos estabelecidos não significa uma vida partidária pujante, ao contrário, pode muitas vezes esconder uma instância atrofiada e inerte. Ao passo que, o caminho inverso, a ausência de qualquer tipo de formalidade, pode levar ao total descrédito das instâncias.

Trata-se de simplificar e facilitar o funcionamento do PT, não há uma regra que obrigue o filiado ou a filiada a saírem de suas casas. Mas há regras que fazem com que o filiado ou a filiada prefiram ficar em casa.

Veja aqui como foi o Seminário.

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