PT, ES, EN | A prisão de Lula não aprisiona a candidatura

Confira o artigo de Luiz Fernando Pereira, advogado especialista em direito eleitoral

Ricardo Stuckert

Lula e Gleisi em Porto Alegre

O ex-presidente Lula teve a condenação confirmada em segunda instância. Ainda há recursos que podem ser julgados no STJ e no STF. E não se pode dizer, antecipadamente, que os recursos não serão providos. Há muitos criminalistas (sem nenhuma ligação com o PT ou com Lula) que sustentam a fragilidade da decisão.

Aqui é importante dizer que sem decisão definitiva nestes recursos a prisão de Lula não aprisiona a candidatura. São temas que não se comunicam.

A Lei autoriza que o PT requeira o registro da candidatura de Lula, em meados de agosto deste ano. Em relação ao ex-presidente existe hoje uma inelegibilidade provisória – que pode ser revogada a qualquer tempo, mesmo depois da eleição. Nenhum especialista na matéria questiona esta conclusão.

A verdade é que não há nenhuma margem legal para um indeferimento antecipado do registro da candidatura de Lula. Nunca houve na história das eleições um indeferimento antecipado. A discussão sobre a inelegibilidade só poderá acontecer lá no ambiente do processo de registro. E desde a Lei 13.165/2015 (que já não pode mais ser alterada para a eleição de 2018 – art. 16 da Constituição Federal), o processo de registro só se inicia em 15 de agosto de 2018. Para insistir: aconteça o que acontecer, o tema do registro eleitoral não pode ser antecipado.

O PT poderá fazer o pedido de registro de Lula em 15 de agosto de 2018 (a campanha só dura 45 dias). Com o pedido de registro, Lula está autorizado a fazer campanha. No final do mês de agosto começa o horário eleitoral gratuito. Se o processo de registro (e a impugnação do registro) de Lula for o mais célere possível (apenas cumprindo os prazos mínimos), não termina no TSE antes da metade de setembro de 2018. E ainda caberia recurso ao Supremo. É assim porque enquanto o registro estiver em discussão (sub judice), Lula (como qualquer candidato) “poderá efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito e ter o nome mantido na urna eletrônica” (art. 16-A da Lei Eleitoral). E o registro de Lula estará sub judice até o dia da eleição, a considerar os casos anteriores.

Ainda que o TSE seja célere, Lula poderá disputar (e ganhar) a eleição mesmo com o registro indeferido. O próprio TSE informou que apenas nas últimas eleições 145 prefeitos ganharam a eleição com o registro indeferido. O exemplo de Lula estaria longe de ser inédito.

Há vários casos de prefeitos eleitos enquanto estavam presos. E, inclusive, com autorização para participar de atos de campanha, como a gravação do horário eleitoral gratuito.

Por que, afinal, a Lei Eleitoral autoriza que alguém concorra com o registro indeferido (e mesmo preso)? Por uma razão singela: tanto a prisão como a inelegibilidade são meramente provisórias e podem ser revertidas mesmo depois da eleição (desde que antes da diplomação).

A possibilidade de reverter a inelegibilidade está expressa no art. 26-C da própria Lei da Ficha Limpa. Por este dispositivo, Lula tem até a diplomação (depois da eleição, portanto) para suspender a inelegibilidade. Como está na atual jurisprudência sempre que houver plausibilidade no recurso interposto, a inelegibilidade deve ser suspensa. Recentemente, Lula interpôs recursos ao STJ e STF contra a decisão do TRF da 4ª Região. Como já mencionado, há professores de direito penal sem nenhuma ligação política que entendem que os recursos veiculam teses juridicamente plausíveis. E a simples plausibilidade dos recursos é tudo que Lula precisa para, a qualquer tempo, suspender a inelegibilidade. Basta a plausibilidade, diz a jurisprudência.

Se a inelegibilidade não for suspensa até a eleição, Lula será eleito com o registro indeferido (como 145 prefeitos ganharam em 2016). A discussão ficaria para depois da eleição. Neste caso, Lula eleito presidente, o Poder Judiciário teria que decidir depois da eleição se o registro (a própria eleição, portanto) é válido ou não.

Por tudo isso, é certo que a legislação brasileira assegura a candidatura de Lula. Nas últimas décadas, muitos foram os casos idênticos ao de Lula (disputa de eleição com inelegibilidade provisória). A Justiça Eleitoral sempre garantiu candidaturas sub judice, diante da possibilidade de posterior reversão da inelegibilidade. O sistema atual não é bom, mas os casuísmos são piores.


Nadie puede aprisionar la candidatura de Lula: La prisión de Lula no aprisiona su candidatura

El ex presidente Lula tuvo su condena confirmada en segunda instancia. Aún hay recursos que pueden ser juzgados en el Superior Tribunal de Justicia (STJ) y en el Supremo Tribunal Federal (STF). Y no se puede decir,  anticipadamente, que los recursos no serán otorgados. Hay muchos criminalistas (sin ninguna conexión con el PT o con Lula) que sostienen que la decisión es frágil.

Aquí es importante decir que, sin decisión definitiva respecto a estos recursos, la prisión de Lula no aprisiona su candidatura. Son temas que no se comunican.

La Ley autoriza que el PT requiera el registro de la candidatura de Lula, a meados de agosto de este año. Existe hoy, en lo que concierne al ex presidente, una inelegibilidad provisional – que puede ser revocada a cualquier momento, incluso después de la elección. Ningún experto en la materia cuestiona esta conclusión.

La verdad es que no hay ningún margen legal para una denegación anticipada del registro de la candidatura de Lula. Nunca hubo en la historia de las elecciones una denegación anticipada. La discusión sobre la inelegibilidad solo podrá ocurrir en el ambiente del proceso de registro. Y, desde la Ley 13.165/2015 (que ya no puede ser alterada para la elección de 2018 – art. 16 de la Constitución Federal), el proceso de registro solo se inicia el 15 de agosto de 2018. Para insistir: pase lo que pase, el tema del registro electoral no puede ser anticipado.

El PT podrá hacer el pedido de registro de Lula el 15 de agosto de 2018 (la campaña solo dura 45 días). Con el pedido de registro, Lula está autorizado a hacer campaña. Al final del mes de agosto empieza el horario electoral gratuito. Si el proceso de registro (y la impugnación del registro) de Lula es lo más célere posible (cumpliendo los plazos mínimos), no termina en el Tribunal Superior Electoral (TSE) antes de mediados de septiembre de 2018. Y todavía cabría el recurso al Supremo. Es así porque mientras el registro esté en discusión (sub judice), Lula (como cualquier candidato) “podrá efectuar todos los actos relativos a la campaña electoral, incluso utilizar el horario electoral gratuito en la televisión y tener su nombre mantenido en la urna electrónica” (art. 16-A de la Ley Electoral). Y el registro de Lula estará sub judice hasta el día de las elecciones, tomando por base los casos anteriores.

Aunque el TSE sea célere, Lula podrá disputar (y ganar) las elecciones incluso con el registro denegado. El propio TSE informó que en las últimas elecciones 145 alcaldes ganaron la elección con el registro denegado. El ejemplo de Lula estaría lejos de ser inédito.

Hay varios casos de alcaldes electos mientras estaban presos. E incluso con autorización para participar de actos de campaña, como la grabación del horario electoral gratuito.

¿Por que, al fin y al cabo, la Ley Electoral autoriza que alguien compita con el registro denegado (e incluso preso)? Por una sencilla razón: tanto la prisión como la inelegibilidad son meramente provisionales y pueden ser revertidas incluso después de la elección (desde que sea antes de la entrega de constancia).

La posibilidad de revertir la inelegibilidad está expresa en el art. 26-C de la propia Ley de Ficha Limpia. Por este dispositivo, Lula tiene hasta el momento de la entrega de constancia (después de la elección, por lo tanto) para suspender la inelegibilidad. Como está en la actual jurisprudencia, siempre que haya plausibilidad en el recurso interpuesto, la inelegibilidad se debe suspender. Recientemente, Lula interpuso recursos al STJ y al STF contra la decisión del Tribunal Regional Federal de la 4ª Región. Como ya se ha mencionado, hay profesores de derecho penal sin ninguna vinculación política que entienden que los recursos vehiculan tesis jurídicamente plausibles. Y la simple plausibilidad de los recursos es todo lo que Lula necesita para, en cualquier momento, suspender su inelegibilidad. Basta la plausibilidad, dice la jurisprudencia.

Si la inelegibilidad no se suspende hasta la elección, Lula será electo con el registro denegado (como 145 alcaldes vencieron en 2016). La discusión quedaría para después de la elección. En este caso, con Lula electo presidente, el Poder Judicial tendría que decidir después de la elección si el registro (la propia elección, por ende) es válido o no.

Por todo ello, es cierto que la legislación brasileña asegura la candidatura de Lula. En las últimas décadas, fueron muchos los casos idénticos al de Lula (disputa de elección con inelegibilidad provisional). La Justicia Electoral siempre ha garantizado candidaturas sub judice, ante la posibilidad de posterior reversión de la inelegibilidad. El sistema actual no es bueno, pero los casuismos son peores.


No one can imprison Lula’s candidacy: Lula’s imprisonment does not imprison the candidacy

Former President Lula had his sentence confirmed by a court of appeals. Other appeals can still be heard by supreme courts STJ and STF. It cannot be said beforehand that these appeals will not be granted. There are many criminal lawyers (with no connection with the PT or Lula) who maintain the fragility of the decision.

It is worth saying in this regard that without a final ruling on these appeals Lula’s imprisonment does not imprison the candidacy. These are independent issues.

The law authorizes the PT to file Lula’s candidacy by mid-August this year. Today the former president is temporarily ineligible – a condition that may be revoked at any time, even after the election. No expert on the matter questions this conclusion.

The truth is that there is no legal space for preliminary rejection of Lula’s candidacy. There has never been such a rejection in the history of the elections. The discussion around the ineligibility can only take place in the environment where the registration is processed. And since the enactment of Law 13165/2015 (which can no longer be amended for the 2018 election – Article 16 of the Federal Constitution), the registration process only begins on the 15th of August of 2018. We insist: whatever happens, the electoral registration issue cannot be brought forward.

The PT may file Lula’s registration by the 15th of August 2018 (the campaign only lasts 45 days). Once his registration is filed, Lula is authorized to start his campaign. Free electoral television programs begin in late August. Should Lula’s registration process (or rejection thereof) move as fast as is possible (just meeting minimum deadlines), it won’t be over until the second half of September 2018. And it could still be appealed at the Supreme Court. This is so because, as long as registration remains under judicial consideration (sub judice), Lula (as any other candidate) “can conduct all acts relating to the electoral campaign, including using the free electoral television time and have one’s name maintained on the electronic voting machine” (Article 16-A of the Electoral Law). And, based on the previous cases, Lula’s registration will be sub judice till election day.

As expeditious as the supreme electoral court TSE may be, Lula may still run (and win) the election even if his registration is denied. The TSE itself informed that, in the last election alone, 145 mayors won their elections with a rejected registration. Lula’s example would be far from unprecedented.

There are several cases of mayors who were elected while in jail. What’s more, they were authorized to conduct campaign-related activities like recording for the free electoral television program.

Why, after all, does the Electoral Law allow someone to run with a rejected registration (and even in jail)? For a very simple reason: both the imprisonment and the ineligibility are merely temporary and can be reversed even after the election (provided this takes place before the electoral diploma acknowledging a candidate’s election is issued).

The possibility of reversing a candidate’s ineligibility is provided for in Article 26-C of the Clean Slate Law itself. Pursuant with this provision, Lula has until the issuance of the diploma acknowledging his election (after the election, therefore) to suspend the ineligibility. Jurisprudence today states that whenever there is plausibility in the appeal filed, ineligibility must be suspended. Recently Lula filed a petition with STJ and STF against the decision by the 4th Region Federal Court. As already mentioned, criminal law professors with no political connections whatsoever argue that appeals convey legally plausible theses. And the mere plausibility of the appeals is all Lula needs to, at any time, suspend ineligibility. Plausibility suffices, jurisprudence states.

If the ineligibility status is not suspended by the election day, Lula shall be elected with a rejected registration (just like the 145 mayors who won in 2016). Any discussion would be postponed till after the election. In this case, with Lula as the President-elect, the Judiciary branch would have to decide after the election whether his registration (his actual election, therefore) is valid or not.

For all of that, it is a given that the Brazilian legislation assures Lula’s candidacy. Over the last decades, there have been many cases that were identical to Lula’s (running for an office yet temporarily ineligible). The Electoral Justice has always upheld candidacies while they were being reviewed, given the possibility ineligibility might later be reversed. The present system is not good, but arbitrary decisions are much worse.

PT Cast