Vivi Martins: Do reconhecimento como cultura ao “mimo” que o governo golpista reservou para a moda

A moda nunca foi tão valorizada como nos Governos Lula e Dilma com destaque para alguns pontos da área como foco de investimento da política cultural, consideração à diversidade, à inovação, à sustentabilidade e à inclusão social.

Criatividade + design = palavras-chave para a economia criativa.  Essencialmente relacionada à arte, design, arquitetura e moda tem como foco a pluralidade da expressão da diversidade da cultura brasileira e suas ideias são materializadas em produtos e serviços.

O foco nesse texto é a moda brasileira. Salientamos que essa é diferente de vestuário, diferente de confecção e um elemento chama a atenção e muda tudo quando se relaciona a cultura: a criatividade. A moda, enquanto um produto cultural, se projeta para representar um conceito que o designer projetista queira transmitir para a sociedade. Moda é linguagem, é memória.

De acordo com dados da indústria, o setor de moda movimenta mais de R$ 100 bilhões no país. Dessa forma, soma-se cerca de 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em uma das áreas da economia criativa que dita o ritmo. O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de consumo de moda.

A moda nunca foi tão valorizada como nos Governos Lula e Dilma com destaque para alguns pontos da área como foco de investimento da política cultural, consideração à diversidade, à inovação, à sustentabilidade e à inclusão social. O Governo petista reconheceu que o setor é interdisciplinar e percorre o universo econômico, cultural, social, histórico e artístico da sociedade. Reconheceu a moda como um patrimônio cultural que revela a identidade das comunidades, sendo necessária sua valorização e proteção nos âmbitos da memória, educação, produção, promoção, difusão, fomento e institucionalização. De forma prática, durante esse período houve fortalecimento em diversas vertentes como: na formação dos profissionais da área, na exportação, na valorização do chão de fábrica, no combate ao trabalho escravo, no incentivo a inovação e – sobretudo – no reconhecimento da moda como cultura com ênfase na preocupação com a memória do que é produzido no país. O Brasil reconheceu o simbólico da moda na sua maior institucionalidade que é o Governo Federal. Ao inserir a moda no Ministério da Cultura, através da criação do Colegiado Setorial de Moda e da construção do Plano Cultural do setor, fundamentou-se a consolidação da preservação do simbólico. Assim, a moda deixou de ser ‘artes integradas’ ou ‘outros’ e passou a ser reconhecida e visibilizada como setor no Ministério da Cultura.

Apesar do esforço da mídia em construir um ambiente de otimismo após o golpe, a realidade tem se mostrado bem mais dramática. O setor industrial vem reduzindo dia a dia a produção e o número de funcionários devido à fraqueza tanto do mercado externo quanto interno.

Um conhecido empresário – que enriqueceu a custa da exploração de milhares de trabalhadoras da indústria têxtil brasileira – deu sua opinião que acabou sendo a tônica sobre o (des) governo golpista quando o mesmo começou. Disse “não é só uma mudança de governo, é uma virada de página”(…). Ele foi um dos maiores incentivadores da flexibilização de leis trabalhistas, sob o pretexto de “atualizar a CLT”, o que resultou na precarização e/ou anulação dos direitos dos trabalhadores.

Na atualidade as expectativas que se construíram a médio e longo prazo nitidamente não estão se concretizando e o (des) Governo atual, que prometeu a continuidade do Plano do Setor, a “volta” da confiança e o fim de todos os males da economia, até então, tem colecionado indicadores negativos. Alguns meses atrás o IBGE divulgou mais um: o declínio da indústria têxtil brasileira. A pequena alta da produção industrial nos últimos meses foi completamente anulada por um recuo de mais de 4% em agosto, na comparação com julho. Trata-se da maior queda de um mês para o outro em 10 anos.

O “mimo” que o governo Temer reservou para a moda: esvaziamento da pauta no Ministério da Cultura e inexistência de interesse ou responsabilidade definida em pasta alguma. Nenhuma medida apresentada pelo atual governo tem o poder de barrar o processo de desindustrialização da economia brasileira.

Investir não é preciso, é vital. Adotar estratégias voltadas para estimular a produção criativa tem sempre impacto positivo nos números acima e essa é uma das principais preocupações com setor pelo viés da cultura. Devemos verificar que, em um cenário onde os produtos são cada vez mais parecidos – quase iguais -, a criatividade passou a ser vista como um ativo importante dentro da lógica de agregação de valor, um dos fatores determinantes para aumentar a vantagem competitiva das empresas.

A cultura do Partido dos Trabalhadores acredita que a economia criativa é, sem dúvida, um dos pilares fundamentais para o aperfeiçoamento de nossa matriz econômica onde o simbólico deve ser valorizado e sua força de produção incentivada. Apenas com um governo socialista e criativo existirá a continuação dessa construção através da execução do Plano Setorial de Moda com foco nos esforços para incentivar a criatividade, a inovação e a competitividade da moda brasileira.

Vivi Martins é carioca, designer, direção criativa da marca Patrocínia Josefa, uma das fundadoras do Colegiado Nacional de Moda do Ministério da Cultura, membro da executiva estadual do PT RJ e integrante do Coletivo Nacional de Cultura do PT. 

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