Brasil e Chile debatem a integração sul-americana, no Instituto Lula

Marco Aurélio Garcia defende que união não seja só econômica e embaixador chileno, Jaime Gazmuri, comentou a luta em comum contra a desigualdade

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Debate mostrou que Brasil e Chile estão numa nova fase de integração, que busca partilhar o desenvolvimento com redução da desigualdade

O chefe da assessoria internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, afirmou que a parceria entre os países deve ir além das questões econômicas.  Para ele, o relacionamento não deve ser mais fundado exclusivamente em diálogos tarifários, visto que a celebração do livre comércio se tornou ideológica. “Começou a haver a percepção de que ficávamos divididos ou tentávamos estabelecer uma política de associação entre nós para competir nesse mundo multipolar, de forma conjunta”, disse, durante o colóquio sobre a participação do Chile e Brasil na integração sul-americana, no Instituto Lula.

Garcia afirmou que nos últimos tempos intensificou-se o intercambio intelectual entre Brasil e Chile, devido à harmonia dos governos, que há muito não havia. Ele lembrou as primeiras décadas do século passado, quando houve a primeira forte tentativa de estabelecer uma integração, por meio do Pacto do ABC (Argentina, Brasil e Chile). “Ao reunirmos importantes países, a proposta apontava para a necessidade de uma ação coletiva que desembocasse numa hegemonia, de forte repercussão e influência no conjunto da ordem regional, com compartilhamento de responsabilidades na condução da nossa política externa”, disse.

A criação da instância sub-regional na América Latina, à época, contrastava com a visão hemisférica. Além de não ter prosperado devido às implicações geopolíticas, os membros do Pacto do ABC enfrentavam dificuldades internas em cada país. A ideia de pacto entre Brasil e Chile reapareceu nos anos 50, intensificando-se nos últimos quinze anos, com a participação do Chile como membro associado do Mercosul.

O assessor da Presidência afirmou que, diante do atual cenário, há a necessidade de liderança coletiva entre os dois países. “Podemos aumentar nossa capacidade de integração, se aprimorarmos nossas condições físicas e energéticas, de produção de inteligência e tecnologia”, e apontou a redução da desigualdade social como elemento-chave para conquistar presença internacional. “Hoje temos grande mercado de bens de consumo. Antes, o povo era dado demográfico e passa a ser socioeconômico”, explicou.

 

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Ao lado de Luiz Dulci, o embaixador do Chile no Brasil, Jaime Gazmuri, comentou os desafios que os dois países enfrentam, como reformas nos sistemas políticos

Na mesma linha de raciocínio, o embaixador do Chile no Brasil, Jaime Gazmuri, também citou a desigualdade social como um dos maiores desafios que os dois países enfrentam e que os sistemas políticos precisam de mudanças e reformas profundas, para reformular o pacto social básico. “Esse é o próximo passo para promover uma reflexão comum em beneficio de nossos povos”, disse.

Já o vice-ministro de relações exteriores do Chile, Edgar Riveros, destacou que a amizade Brasil-Chile se deve também à convergência de interesses e de posições cultivadas entre as nações, durante os anos. “No plano bilateral temos muito a avançar na integração. Acredito que o nosso país pode aprender muito com a experiência brasileira. Temos novos planos de cooperação a longo prazo”, concluiu Riveros.

O debate contou ainda com a participação do ex-ministro da secretaria-geral da Presidência da República e diretor do Instituto Lula, Luiz Dulci, e com o reitor da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA), Josué Subrinho. O colóquio é uma realização do Instituto Lula e a embaixada do Chile no Brasil, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO-Chile) e a da UNILA.

 

Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias, com fotos de Sheyla Leal

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