Brasil vive complô com ajuda da mídia e Judiciário, diz filho de Jango

Em entrevista à Agência PT de Notícias, João Vicente Goulart, compara a situação política vivida pelo Brasil em 1964 e em 2016, fala sobre a democracia, entre outros assuntos

João Goulart, Filho do ex-presidente durante entrevista exclusiva. Foto: Lula Marques/Agência PT

O filho do ex-presidente João Goulart (Jango), deposto em 1964 pelo golpe militar, João Vicente Goulart, vê inúmeras semelhanças entre o golpe contra o governo de seu pai e a tentativa de retirar a presidenta Dilma Rousseff do poder. Ele afirma que, sim, um golpe está em curso contra o governo atual e que ele é apoiado pela grande mídia, empresários e por parte do judiciário. 

Em entrevista à Agência PT de Notícias, João Vicente, que também é filósofo e presidente do Instituto Presidente João Goulart (IPG), conta que o pai tinha um projeto de governo diferente e a direita, na época, não suportou a aprovação de seu governo. Mais de 70% da população aprovava o governo de Jango, mas a pesquisa feita pelo Ibope só foi revelada décadas mais tarde.

Entre as reformas desejadas por Jango estava a agrária, eleitoral e estudantil, além da Lei de Remessa de Lucros. João Goulart também foi, segundo João Vicente, o primeiro líder do ocidente a entender que o País não poderia ignorar a economia chinesa. Parceria econômica que o Brasil só faria anos mais tarde no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  

“Meu pai assumiu o governo em um modelo parlamentarista e em seguida articulou um plebiscito para que lhe devolvessem os poderes presidenciais para avançar o trabalhismo no Brasil, que eram as reformas de base do seu governo. No plebiscito ele obteve 84% dos votos a favor e depois disso as classes dominantes decidiram derrubá-lo”, explica. 

O golpe de 1964 teve o apoio da Rede Globo de Televisão, que pediu desculpas anos mais tarde pelo erro no aniversário de 50 anos da emissora. Porém, segundo João Vicente, a emissora ainda é uma das maiores apoiadoras do golpe que está em curso no País atualmente. 

João Vicente afirma que, hoje, o Brasil tem a grande mídia como apoiadora do golpe, assim como em 64, usando sistematicamente da repetição para divulgar fatos contra o governo que não interessam ao processo de impeachment. Durante o governo de Jango, mais de 200 pequenos filmes foram criados e transmitidos pela televisão em um ano e três meses. 

Jango
“Se você tiver ligado no Jornal Nacional na última semana você não saberá quantas vezes as gravações liberadas para a TV por um juiz de 1ª instância foram transmitidas em rede nacional. Inclusive, as ligações grampeadas que não têm nada a ver com nada”, comenta. João Vicente é enfático ao dizer que o Brasil vive diante de um complô político que tem a ajuda da mídia e do Judiciário. 

Ele comparou o juiz Sérgio Moro a um sicário americano. De acordo com ele, os sicários estavam no Brasil em 1964 para promover ações encobertas patrocinadas pela CIA, agência de inteligência civil do governo dos Estados Unidos, com a função de desestabilizar o governo e promover propagando adversária.

“Temos um agente, que é um juiz de 1ª instância, gravando a Presidência da República e divulgando em menos de uma hora as gravações para a maior rede de TV do País. Eu pergunto, como isso funciona? Qual a autoridade desse juiz para destruir uma nação?”, indaga.

Para ele, a oposição quer assumir o governo através de um judiciário e isso, institucionalmente, não está correto. “A decisão do ministro Gilmar Mendes de suspender a posse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro-chefe da Casa Civil, por meio de uma ação feita por uma advogada que trabalha com ele, é um exemplo disso. Qual instituição que sobrevive com o comportamento de outro poder que funciona assim?”, questiona.

João GoulartJoão citou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) como uma das financiadoras do golpe de 64 e uma das grandes apoiadoras do impeachment da presidenta Dilma. 

“Eu nunca vi uma federação iluminar um prédio pedindo golpe, um impeachment. Isso não é papel de empresário, fomentar a desestabilização constitucional da nação brasileira. Isto é papel de cínico, conspirador. A Fiesp está no golpe e a grande mídia está na conspiração”, enfatiza. 

O presidente da IPG pediu cuidado com a situação democrática atual. João Vicente afirma que a democracia brasileira mostra, depois dos 21 anos dos militares no poder, uma compostura muito grande, mas que ainda precisa ser lapidada. 

“Não podemos forçar a democracia através de um golpe, que não seria dado pelos militares mas através do Poder Judiciário. O importante é sabermos que temos que lutar pela democracia”, disse para em seguida fazer um apelo aos parlamentes.

“A democracia é um bem. Tenham responsabilidade ao votar o impeachment. Lembrem-se de 64. Os próprios parlamentares foram vítimas daquele golpe tremendo que houve contra a nação brasileira. Um golpe de 21 anos de perseguição, tortura, morte e fechamento do Congresso Nacional”, argumenta. 

João Vicente pede para que a população vá às ruas defender a democracia conquistada após muita luta e sangue derramado e, principalmente, para derrubar o impeachment.

Por Danielle Cambraia, da Agência PT de Notícias

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