Campanha pelo impeachment é violentamente sexista, avalia NYmag

Revista norte-americana publica artigo e afirma que a perseguição contra Dilma evidencia um pesado e histórico preconceito contra as mulheres

(foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

Uma das revistas semanais mais lidas de Nova Iorque, a “New York Magazine” publicou artigo, na última sexta-feira (22), em que acusa a campanha de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff de ser “violentamente sexista“. A publicação lembra que os dois últimos presidentes – Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – também enfrentaram acusações similares e nenhum sofreu processo de perda do mandato. O artigo é assinado por Marc Hertzman, doutor em história da Universidade de Wisconsin (EUA).

Desde o início do processo de impeachment de Dilma, outros diversos veículos internacionais denunciaram o golpe em curso no Brasil e manifestaram preocupação com a condução do caso por Eduardo Cunha (PMDB).

No texto, o doutor afirma que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e outras lideranças que pedem a saída de Dilma “são acusados de roubar somas espetaculares dos cofres públicos para seus próprios bolsos” e o vice-presidente Michel Temer (PMDB) também é acusado de corrupção.

“Não há dúvidas de que o processo de impeachment advém de um longo histórico de tratamento misógino relegado à Dilma”

Para Hertzman, a votação na Câmara dos Deputados, classificada como “infame processo”,  se tornou “caricaturalmente sexista“. “Enquanto se desenrolava, era difícil não ver aquilo como uma caça as bruxas”. Um dos votos citados foi de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que, lembra a publicação, disse em 2014 que uma outra deputada “não valia a pena ser estuprada”.

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“Não há dúvidas de que o processo de impeachment advém de um longo histórico de tratamento misógino relegado à Dilma. Seus críticos rotineiramente colocam sua feminilidade em xeque – e a zombam sem qualquer pena”, afirma o semanário norte-americano, que destaca que imagens “cruéis e grotescas” em referência a Dilma circulam na internet e em adesivos. Em março, a secretaria das Nações Unidas pelos direitos das mulheres no Brasil protestou contra a “violência política sexista” contra a presidenta.

O artigo também elogia a atuação de Dilma durante a luta contra a repressão e ressaltou a coragem da presidenta. “Seus atos enquanto guerrilheira e política deixariam Elizabeth Jennings e Claire Underwood orgulhosas”.

“Quando as autoridades a capturaram em 1972, ela passou 22 dias sendo torturada com choques elétricos vindos de baterias de carros e socos tão fortes que quebraram seus dentes, e causam problemas físicos até os dias atuais. Que ela ainda tenha qualquer carreira política é um atestado de sua paixão e perseverança – ela teve seus direitos políticos cassados por 18 anos após deixar a prisão – e é uma exemplo da reforma social pelos pobres.”

O doutor também lamenta a atual situação política no Brasil. “Um dos momentos mais marcantes de Rousseff como presidenta veio em 2014, em uma entrevista coletiva em que ela anunciou a Comissão da Verdade, um grupo que visava estudar os abusos de direitos humanos cometidos por Ustra e outros durante a ditadura. Durante sua fala, ela chegou a chorar. Esse fato não foi nem político e nem falso, mas a emoção crua de alguém que viveu durante um período horrível de violência e depois se encontrava em uma posição de poder. Agora, homens como Cunha e Bolsonaro estão perto de tirá-la de seu cargo.”

“Como esses homens disseram, ‘tchau, querida’, o Brasil se prepara para dizer olá novamente ao passado que – apesar dos imensos esforços de Rousseff e outros – não foi deixado para trás”

“O espetáculo de um grupo quase que integralmente formado por homens brancos falando na Câmara de Deputados, com cartazes para cima, caras vermelhas e gritos pode se tornar a imagem da política atual brasileira. Como esses homens disseram, ‘tchau, querida’, o Brasil se prepara para dizer olá novamente ao passado que – apesar dos imensos esforços de Rousseff e outros – não foi deixado para trás”, finaliza a publicação.

Leia a tradução do artigo na íntegra: http://bit.ly/1T1Z1HG

Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias

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