Cantalice: Tivemos a ilusão de que elite brasileira era democrática

Em entrevista à revista latino-americana Nueva Sociedad, o vice-presidente do PT analisou a situação política no Brasil e o governo golpista de Michel Temer

Fundação Perseu Abramo

Alberto Cantalice

O vice-presidente e secretário de Comunicação do Partido dos Trabalhadores, Alberto Cantalice, em entrevista à Mariano Schuster, da revista Nueva Sociedad, da Argentina, analisou a situação do Brasil sob o governo golpista de Michel Temer e afirmou que elite brasileira nunca foi democrática.

Apesar do avanço de setores conservadores no país, Cantalice mostrou-se otimista e fez uma avaliação positiva da união de movimentos sociais de esquerda: “Houve um despertar dos movimentos sociais”, disse. “Muitos estavam um pouco distanciados do processo político e manifestavam uma certa insatisfação. No entanto, esse golpe fez com que se articulassem setores muito amplos – incluindo a classe artística e intelectual, que tinha uma atitude mais reticente com o governo – e se unissem a nós na luta por restabelecer a democracia”, afirmou.

O vice-presidente do partido também analisou o rompimento da aliança entre PT e PMDB: “Esse golpe, parlamentar, midiático e empresarial, se produziu quando setores empresariais e dos meios de comunicação pressionaram a maioria do Congresso, e o PMDB em particular. O PMDB e o PT têm suas diferenças; o PT é de esquerda e o PMDB, de centro. Eles também tem gente de esquerda, mas a maioria é de centro-direita. E esses setores foram pressionados e acabaram cedendo a essa política de derrubar o mandato legítimo de Dilma Rousseff para colocar em seu lugar o vice”, disse.

Reforma política

Cantalice lamentou o partido não ter conseguido fazer uma reforma política nesses treze anos de governo, mas ponderou: “Uma primeira medida para encarar a reforma política era acabar com o financiamento empresarial de campanhas, o que já conseguimos. O segundo é que se estabeleça o sistema de voto distrital misto onde as pessoas não votem em um candidato em particular, mas também em uma lista de partido”, afirmou Cantalice.

Para ele, esse sistema permitiria uma conciliação: “Nós do PT queremos que se vote por lista, e a direita quer voto distrital de maioria simples. E nenhum dos dois têm força pra impor a sua visão. Quem sabe isso permita que avancemos em um sistema distrital misto: uma metade se elege tendo em conta a conformação por lista, a outra por distrito”, afirmou.

Sobre a importância do fim do financiamento empresarial de campanha para o combate à corrupção, o vice-presidente do PT afirmou que esse tipo de financiamento uma das raízes do problema, mas também que a prática é um fenômeno estrutural. “É algo que sempre existiu. Um grande jurista como Rui Barbosa escreveu, no começo do século 20, um discurso em que afirma que o brasileiro tem vergonha de ser honesto. Por quê? Porque já naquela época a corrupção era muito grande. E o financiamento empresarial de campanhas fortaleceu ainda mais”.

A revista reconheceu que, durante os governo do PT, “milhões de pessoas deixaram para trás a pobreza e conseguiram, graças às políticas governamentais, acesso a bens e serviços desconhecidos para eles”. Depois, perguntou se, apesar disso, o partido faz auto-crítica por perder o apoio de parte da população que historicamente representou.

“Um grande problema é que não nos dedicamos a politizar fortemente a sociedade. E por outro lado, o PT teve a ilusão de que a elite brasileira era democrática. E a elite nunca foi democrática. É regida por interesses econômicos. Ao sentir que esses interesses não estão satisfeitos, rompe”, afirmou Cantalice. “No Brasil isso foi historicamente assim. Anteriormente já derrubaram governos constitucionais para garantir os interesses dessa elite”, lembrou.

O petista também reforçou que houve um golpe à democracia no Brasil. “Perder e ganhar eleições é normal, mas no caso do Brasil, houve um golpe. Porque se a gente perde a eleição, a gente aceita. Se perdemos honestamente, limpamente, fazemos autocrítica e buscamos novas alternativas para chegar ao coração e à mente da população”, disse.

Por fim, o vice-presidente do Partido dos Trabalhadores  analisou as primeiras medidas do governo de Temer e seu caráter entreguista, em especial em relação ao pré-sal.

“Querem retomar as privatizações, querem derrubar a soberania operacional da Petrobrás e do Estado sobre as reservas do pré-sal, que foi a maior conquista da sociedade brasileira. O pré-sal pode fazer que o País dar um salto de qualidade em educação, saúde pública, em programas de transferência de renda. Querem entregar o pre-sal às multinacionais, e por isso, entre outros motivos, deram o golpe”, finalizou Cantalice.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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