Claudete Mittmann: Articulação entre golpistas e monetaristas para tomar de assalto o poder

A diferença entre o golpe atual e o de 1964 é que as reformas feitas na época não foram tão violentas e imediatas como as atuais

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Claudete Mittmann é professora aposentada, presidenta do Instituto Paulo Stuart Wright e militante histórica do PT/SC

A diferença entre o golpe atual e o de 64 é que as reformas feitas na época não foram tão violentas e imediatas como as atuais. Agora as reformas estão sendo feitas com mais celeridade e aprofundamento.

Diferente de 64, o governo atual não se legitima pelo golpe em si. Em 64 os militares afirmavam que a revolução confirmava a tomada do poder por si mesma, sem a necessidade de alianças externas a ela.

O professor e historiador da UDESC Reinaldo Lohn esclarece que a construção para a implantação da política monetarista que estamos vivendo via coalizão entre o golpismo e o monetarismo, não iniciou agora. Ela se estrutura pela construção sistemática do discurso anti-estatizante que toma corpo no governo Geisel com o apoio da imprensa.

Os ataques se concentravam nas áreas dos direitos sociais especialmente na educação saúde e segurança que sofrem com o discurso da ineficiência do serviço público, colocando grande parte da responsabilidade deste fracasso nas costas da classe trabalhadora.

O governo de Fernando Henrique Cardoso assume este discurso e seu governo é dominado pelos monetaristas fortalecendo os setores conservadores da sociedade. Mas diferente de agora, seu governo consegue mantê-los afastados do centro do poder.

Esta política esfria durante os governos Lula e Dilma, que retomam a papel do estado como responsável pelas políticas de bem estar social. Suas gestões conseguem avançar em vários setores, mas não o suficiente para corrigir as distorções históricas e as perdas da classe trabalhadora.

Isto não agrada os conservadores e monetaristas que se unem aos golpistas para tomar o poder, restabelecer sua hegemonia e visão política no país. Sua aliança com os golpistas é estratégica para dar legitimidade e manter um governo completamente frágil.

Esta fragilidade do governo é fundamental para que possam manipulá-lo colocando-se no centro das decisões e, desta forma, impor sua agenda. Este é o motivo que mesmo com os escândalos escancarados o governo não cai.

Suas organizações com lideranças treinadas pelo monetarismo internacional apoiadas pelo capital financeiro, como a Fiesp, atuam na imprensa, nas ruas, escolas e igrejas. Seu objetivo é desconstruir o discurso da luta de classes desqualificando pessoas e entidades.

Ao tomarem de assalto o centro do poder governamental, os monetaristas se articulam em torno dos ataques aos direitos sociais e a desestruturação do mundo do trabalho e a fragmentação das entidades de classe especialmente os sindicatos.

Tivemos uma amostra de sua ação quando setores da própria categoria denunciaram o Sindicato dos Trabalhadores em Educação na Rede Pública de Ensino do Estado de Santa Catarina (SINTE/SC) por estar enviando trabalhadores a Brasília para protestar em defesa dos nossos direitos e contra o golpe em curso no país.

Isto demonstra a capacidade de articulação e influência dos monetaristas, pois se o magistério que a priori deveria ser uma categoria politizada é influenciada desta forma, imaginem como fica a cabeça da classe trabalhadora?

Isto pode explicar em parte a grande dificuldade em mobilizar a população para fazer o enfrentamento, mesmo quando sua vida profissional está sendo estraçalhada.

Claudete Mittmann é professora aposentada, presidenta do Instituto Paulo Stuart Wright e militante histórica do PT/SC

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