Deputado federal Décio Lima: Terra Brasilis

Líder da oposição no Congresso Nacional analisa em artigo os rumos do país que, para ele, está “mergulhado no abismo do preconceito e da arrogância”

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Deputado federal Décio Lima

Nos mapas antigos, antes da chegada dos europeus, o nosso gigante “deitado eternamente em berço esplêndido” aparecia como Terra Brasilis, terra dos índios, da ingenuidade e da simplicidade.

Mudou muito e agora tornou-se um espaço humano de tamanha complexidade que chegou a merecer, provavelmente por inspiração de Tom Jobim, a frase que simboliza a idiossincrasia reinante: “o Brasil não é para principiantes”.

Realmente como explicar aos novéis, àqueles não iniciados em brasilidade, algumas das decisões judiciais baseadas em interpretação criativa e seletiva, aplicadas com uma enganosa candura (ou seria “caradura”?) como por exemplo no voto surreal pronunciado por uma Ministra do STF que assim se expressou:

“sou a favor da garantia constitucional de que ninguém seja preso sem sentença transitada em julgado mas, como a maioria decidiu que é contra, voto contra, mesmo sendo aqui, o plenário, o lugar onde isso deve ser discutido”.

Ou como aceitar que um Bispo emérito que, por presidir um ato ecumênico, uma Celebração da Palavra in memorian à uma sua amiga de longa de data, esteja sendo ameaçado, vilipendiado, execrado (há até quem diga que por causa disso vai abandonar a sua crença religiosa)?

Enquanto isso um outro personagem, empresário da noite, proporcionando um espetáculo dantesco, em pretensa homenagem a um Juiz e a uma Ministra da Suprema Corte, em um bordel, em festejo regado à cerveja de graça, além de “outras alegrias”, receba encômios e elogios por iniciativa tão grotesca?

Mais grave, o tal empresário pródigo em bondades espetaculosas, além das mordomias oferecidas em ambiente libertino, prometeu a ampliação dessas facilidades a quem se dispusesse a praticar um assassinato. Dá para acreditar que isso possa ficar no campo da galhofa, do gracejo? Há como explicar tamanhos absurdos?

Há quem diga que o substrato racional (?) que sustenta todo esse circo em que foi transformada a realidade brasileira tenha a ver com fascismo. Não concordo. É bem diferente, é bem mais arraigado na alma de um estamento absolutamente equivocado e mergulhado no abismo do preconceito e da arrogância.

Vêm de uma visão escravagista renitente e mal dissimulada. É o velho Brasil de sempre, igualzinho ao que sempre foi, onde uma elite equivocada pensa que tudo sabe e tudo pode.

Trata-se evidentemente de uma visão de mundo eivada de arrogância na medida em que parte da premissa de que povo não sabe o que quer, não sabe votar, não sabe dizer quais são as suas prioridades, e, portanto, é irresponsável, o que faz com que alguém deva assumir a responsabilidade de guiá-lo para o “desenvolvimento” e o “progresso”.

Constituem uma elite equivocada porque querem privilégios, que percebem quase como um direito divino. Seus negócios devem ser subsidiados, seus interesses pessoais e familiares são prioritários e por isso o espaço público deve ser privatizado, a fim de satisfazer essa mesquinharia míope.

Quando percebem (quase sempre de forma tardia) que a nação se orienta para o novo (e para o povo), quando sentem que a questão social possa merecer prioridade e, em decorrência, não mais privilegiará os poderosos, partem simplesmente para um golpe de Estado, para um autoritarismo solerte, esperto e de mal disfarçada legalidade.

Há, contudo, o contraditório. E vem do povo que em pesquisas revela querer fazer voltar ao poder uma figura humana que sabe que a liderança implica dever, missão, tarefa comunitária e em favor das gentes.

Um povo que vem demonstrando mediante o acolhimento esperançoso a Caravana da Paz; é o povo que em vigília nas cercanias de um cárcere injusto, a cada manhã grita em uníssono: Bom-dia, Lula!

É o povo que sem descanso, sem medo, cheio de uma energia contagiante está dizendo ao mundo – QUEREMOS LULA LIVRE! TERRA BRASILIS

Décio Lima é deputado federal (PT-SC)

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