Dilma: “Corrupção nos EUA supera a do Brasil”

Em entrevista na Universidade de Berkeley, presidenta eleita lembra que no fim de 2011 havia demitido quase todos os diretores corruptos da Petrobras

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Presidenta eleita Dilma Rousseff na Universidade de Berkeley

Em palestra proferida no Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, a presidenta eleita Dilma Rousseff afirmou hoje que, apesar de julgado e condenado pela imprensa, o ex-presidente Lula está conseguindo convencer a população de que é vítima de perseguição.

Da entrevista com Dilma após palestra na universidade de Berkeley:

A Transparência Internacional diz que o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo. O que você pensa disto?

Dilma Rousseff: Considero esta afirmação ingênua. Extremamente ingênua. Por que? Do meu ponto de vista, a mais extraordinária corrupção dos últimos tempos foi a crise de 2008, que nasceu aqui. Ou vocês acreditam que a manipulação do subprime e a crise financeira que se seguiu foram eivadas de boas condutas?

Na televisão, em Genebra, me perguntaram o que eu achava da corrupção no Brasil. Eu disse que ela dependia muito da lavagem de dinheiro que ocorre por lá.

A mesma coisa ocorre com o crime organizado no Brasil. Achar que o crime organizado no Brasil está nas favelas é a mais pura tolice. O crime organizado está onde está o dinheiro.

Os paraísos fiscais existem e assim são chamados porque o grosso de seus recursos advém de sonegação em outros países. Ou seja: não pagamento de impostos ou engenharia tributária ou ocultação de recursos.

Nesta formação de recursos você tem corrupção, droga, terrorismo, tráfico de armas. É assim que funciona. E funciona em rede.

E países têm definições diferentes do que é corrupção e o que não é. Tem muita coisa que é considerada corrupção no Brasil que aqui nos Estados Unidos não é. Lobby, por exemplo. O Brasil não disciplinou o lobby. O que é hipocrisia, porque o lobby existe.

Mas acho que, em que pese essas ressalvas, havia que combater a corrupção. Não por um moralismo qualquer, mas porque a corrupção tem um fortíssimo fator de disrupção social, de concentração indevida de poder e de utilização do dinheiro público num país que, como o nosso, não pode jogar dinheiro pela janela.

No início do governo Lula, quando era chefe da Casa Civil, eu fui acusada de bolivariana porque que exigi que determinada licitação tivesse cláusulas muito claras para impedir o sobrepreço.

No caso da Petrobras, todas as pessoas estão sendo julgadas. Eu as conheci, assumi o governo em 2011 e no final do ano estavam todas demitidas. Não porque eu soubesse que eram corruptos, mas pela convivência eu os achava incompetentes. Se soubesse que eram corruptos os teria demitido no segundo dia do governo, mas a gente não sabia que eles eram corruptos. Há uma exceção: um geólogo de primeiríssimo nível, que descobriu o pré-sal, e que pediu para ser afastado da diretoria que ocupava porque estava doente.

Descobrir corrupção não é trivial. Tivemos que fazer leis, fortalecer o ministério público, fortalecer a Polícia Federal. Há mil formas de esconder a corrupção. Uma delas chama-se paraíso fiscal.

É muito grave não controlar paraíso fiscal. Nos últimos anos, eu participei das reuniões do G20. Logo depois das crises de 2008 e 2009, um dos maiores problemas do G20 foi buscar formas de controle dos paraísos fiscais. Até então eles eram livres, leves e soltos.Ninguém os controlava. Os paraísos fiscais funcionam em forma de rede. A sustentação desta rede não caiu do céu, é financeira.

Veja aqui o discurso na íntegra da palestra de Dilma: Dilma.com.br

Vídeo do discurso:

Por Equipe Dilma Rousseff

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