Economistas defendem especialização do País para recuperar indústria

Os economistas Márcio Pochmann e Cristina Fróes afirmam que o país precisa se inserir nas cadeias produtivas de bens de alta tecnologia

Para retomar o processo de industrialização, o Brasil necessita especializar-se, segundo Marcio Pochmann e Cristina Fróes. Pocchman, da Fundação Perseu Abramo, Fróes, da Universidade Federal do ABC e Airton Santos, do Dieese, se reuniram no Centro de Estudos Barão de Itararé na, segunda-feira (14), para discutir quais são os caminhos possíveis para a indústria brasileira.

A análise dos estudiosos aponta para um cenário difícil. O problema, segundo Froes, é que a lógica de produção hoje é muito diferente da de vinte anos atrás. A produção ocorre em cadeias fragmentadas, dispersas entre diversos países e cuja rota é trancada a sete chaves pelas poucas empresas produtoras. O Brasil, assim como quase toda a América Latina, ficou fora desse percurso. “A produção hoje se dá em grandes monopólios”, afirma Pochmann.

Para o economista, a única maneira de reverter isso é a especialização produtiva. “O Brasil não consegue mais ter uma indústria tão diversa como tinha na década de 1980”, afirma o economista. “Mas teria futuro se focasse em alguns setores industriais”.

Pochmann acredita que o governo deve ajudar a criar grandes empresas nacionais – transnacionais brasileiras. Na década passada, o BNDES estimulou a formação de grandes empresas, a política apelidada de “grandes campeões nacionais”. Para Pochamann, retomar essa política poderia ser uma alternativa. Outra saída é uma integração regional, ou seja, o Brasil ser o centro de uma indústria espalhada pela América do Sul, onde cada país da região produza algo que o outro necessite.

A dificuldade é que a indústria mundial está em desaceleração, ainda que alguns países estejam conseguindo manter-se industrializados. Já os BRICS, com exceção da Índia, estão sofrendo um processo intenso de desindustrialização. Rússia, China, Brasil e África do Sul se encontram em dificuldades.

Nesse novo cenário global, o maior valor agregado (produção que gera bens de maior valor) não se dá mais no chão de fábrica como na década de 1980. Agora, o maior valor agregado está nos produtos de alta tecnologia, na propriedade intelectual (na venda de patentes) e em serviços industriais, como o marketing, por exemplo.

Para voltar a crescer, o Brasil precisaria encontrar uma maneira de se inserir nessa rota. Para isso, é necessário aumentar os investimentos públicos em educação e ciência e tecnologia, e não cortá-los. Por enquanto, o país ainda não foi convidado a entrar nesse percurso.

Para Airton Santos, o Estado brasileiro está capturado pelo capital financeiro. Em sua análise, o PIB do Brasil hoje só cabe para 80 milhões de brasileiros incluídos. Existem 120 milhões de excluídos que não cabem no PIB, isto é: para que essas pessoas pudessem elevar seu padrão de vida, as outras 80 teriam de abrir mão de certos privilégios.

Santos analisa que hoje o Brasil é um país que vive eminentemente da extração e da agricultura. Para ele, esse modelo econômico é insustentável e o Brasil precisa investir na recuperação de sua indústria.

Por Clara Roman, da Agência PT de notícias

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