Elio Gaspari: A conta está barata para o PSDB

A complacência que amparou e viciou o PT quando ele estava na oposição, hoje ampara e vicia os tucanos O governador tucano Beto Richa chamou de “bandido” o auditor da…

A complacência que amparou e viciou o PT quando ele estava na oposição, hoje ampara e vicia os tucanos

O governador tucano Beto Richa chamou de “bandido” o auditor da Receita paranaense que acusou a caixa da última campanha do PSDB de ter recebido R$ 2 milhões de uma quadrilha de servidores que fraudava crimes tributários. Luiz Antonio de Souza, o autor da acusação, está preso e vem colaborando com o Ministério Público. Ele é réu confesso num crime de corrupção de menores, mas, no caso das fraudes, há outros 14 servidores envolvidos, e o ex-inspetor-geral de fiscalização da Receita estadual passou duas semanas na cadeia depois de permanecer foragido por 40 dias. Deixou a penitenciária encapuzando-se.

Souza confessou ter praticado bandidagens na Receita, amealhando um patrimônio de milhões de reais. Pedro Barusco, o “amigo Paulinho” e os empresários que vêm colaborando com as investigações das petrorroubalheiras também são delinquentes e o comissariado petista atolou-se tentando desqualificá-los. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Souza não citou o governador nominalmente. Mencionou um pedido que recebeu do ex-inspetor-geral e apresentou a nota fiscal de uma compra feita com seu CPF para que 70 divisórias fossem entregues no comitê tucano. Richa preferiu a retórica dos comissários petistas, desqualificando o denunciante. Antes, havia representado sem sucesso contra o promotor que conduz a investigação das fraudes.

O PT está pagando hoje pela promiscuidade em que se meteu ao tempo em que as boquinhas de seus quadros limitavam-se a mordidas em concessionários de serviços municipais. Coisa do século passado, fortaleceu hábitos que desembocaram no escândalo da Petrobras. Quem foi complacente ao julgar as roubalheiras petistas daquela época, vê hoje o tamanho de seu engano.

Nenhum grupo político tem o monopólio da virtude, mas todos são responsáveis pela maneira como se comportam diante do pecado.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que “nunca se roubou tanto em nome de uma causa”. O tucanato paulista, contudo, ainda carrega nas costas o escândalo do cartel de equipamentos ferroviários. Em 2008 a Siemens reconheceu que participava de um contubérnio para fornecimentos ao metrô de São Paulo e demitiu o presidente da sua filial brasileira “por grave contravenção das diretrizes da empresa”. Isso era resultado de uma faxina interna da Siemens e nada tinha a ver com política. Quando ela resolveu colaborar com as autoridades, o governador Geraldo Alckmin anunciou que pretendia processá-la: “As outras empresas não confessaram, mas a Siemens já confessou”. Sendo “ré confessa” devia devolver “centavo por centavo”. Sobrou para quem estava ajudando a Viúva. Passados sete anos, José Dirceu pegou uma cadeia, o “amigo Paulinho” está de tornozeleira, mas ninguém foi em cana pelo velho caso paulista. Até hoje não apareceu prova de que dinheiro arrecadado pela quadrilha tenha ido para a caixa do PSDB. Seria um roubo sem causa.

Rápido no gatilho ao reprimir manifestações de professores, Beto Richa conseguiu o impossível: rivaliza com a doutora Dilma em matéria de desgoverno. No caso das fraudes ocorridas na Receita Estadual nos últimos dez anos, já há 62 pessoas denunciadas pelo Ministério Público.

(Artigo originalmente publicado nos jornais “O Globo” e “Folha de S. Paulo”

Elio Gaspari é jornalista

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