Em Santa Marta, Lula explica por que não querem o PT de volta

Em ato no bairro de Nova Santa Marta, antiga ocupação na cidade de Santa Maria (RS), Lula explicou porque a elite tem medo que ele retorne durante Lula pelo Brasil

Ricardo Stuckert

Lula visita a Nova Santa Marta, na cidade de Santa Maria

O bairro de Nova Santa Marta, antiga ocupação que foi urbanizada com obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), no município de Santa Maria (RS), foi palco de mais um grande encontro entre o povo e o ex-presidente Lula na noite desta terça-feira (20), em ato durante a etapa sul da caravana de Lula pelo Brasil.

Acompanhado da presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff, da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, do ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra e do ex-ministro Miguel Rossetto, entre outras lideranças políticas, Lula falou ao público porque as elite não admitem ver o PT governando o país.

“Eles não querem que a gente volte porque, durante os 12 anos de governo do PT, quando a Dilma ganhou as eleições em outubro de 2014, o Brasil tinha o menor nível de desemprego do mundo e da historia do Brasil. Era 4,2% de desemprego”, relembrou o ex-presidente.

˜Eles não querem que nós voltemos porque, durante 12 anos, o salário mínimo aumentou nesse país, conforme o PIB e a inflação. Não querem que a gente volte porque durante 12 anos todas as categorias organizadas de trabalhadores receberam aumento real de salário.”

“A gente teve coragem de criar o piso salarial de professores. Não querem que a gente volte porque criamos o Prouni e colocamos filho dos pobre nas universidades. Colocamos mas jovens na universidade em quatro anos do que eles colocaram a vida inteira, nós aprovamos as cotas para que meninos e meninas negras pudessem entrar na universidade. Eles não querem que a gente volte porque pela primeira vez o filho do pedreiro pode entrar na universidade e virar doutor”, afirmou Lula.

Ele relembrou a aprovação da lei que destinava recursos dos royalties do pré-sal à educação, a expansão das escolas técnicas pelo país, a regulamentação da profissão de empregada doméstica, que “deixou de ser tratada como escrava”. “No governo do PT criamos mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada”, acrescentou o ex-presidente.

“Essas são as razões por que não querem que a gente volte. Pela quantidade de terra desapropriada para a reforma agrária. Não querem que a gente volte porque a gente criou o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) para comprar alimento do pequeno produtor. Não querem que a gente volte porque o pobre assou a ter direito de comer filé, ter carro, televisão, celular.”

Para Lula, as elites “não querem que o povo aprenda a ter cidadania, a andar de cabeça erguida. A vida inteira eles acharam que pobre gosta de se vestir mal, andar mal”.

Ele citou o episódio no qual a Polícia federal invadiu sua casa e revirou todos os cômodos em busca de indícios de algum crime, sem encontrar nada. “Deveriam ter vergonha e ter pedido desculpa pelo que fizeram!”

Para o ex-presidente, “eles têm medo que a gente possa voltar e provar que esse país pode ser feliz, que a autoestima seja recuperada, que volte a ter emprego, que a gente retome a indústria naval. Estão destruindo tudo, entregando o petróleo que é nosso para as empresas multinacionais. Até a Embraer está sendo vendida para a Boeing”.

“Eles querem acabar com o Banco do Brasil, com o BNDES, com a Caixa, querem vender a Petrobras, vender tudo que a gente construiu. Eu quero dizer para eles, se preparem porque, se essa elite golpista não tem competência para cuidar do país, nós do PT já provamos que temos competência para cuidar”.

Lula disse estar na expectativa de ser lançado candidato. “Quero provar que um torneiro mecânico que tem apenas um diploma do ensino básico e um curso do Senai tem mais capacidade de governar esse país do que essa elite que está governando com todos os seus diplomas.”

“Eu não vou vender esse país. Esse país tem que ter autodeterminação. É um país grande, tem seis mil quilômetros de fronteira com a América do Sul, oito mil quilômetros de fronteira marítima, o povo mais extraordinário do mundo, trabalhador, e que ama esse pais. Não vamos nos enganar com esses grã-finos que andam fazendo passeata com bandeira do Brasil e de noite vão para Miami gastar dinheiro”.

Segundo o ex-presidente, “eles mexeram com a pessoa errada”. “Eu quero dizer para vocês que caráter não se vende em shopping center, não se vende na feira, tampouco honra. Sou um nordestino que não morri de fome até completar 5 anos de idade, sei o que é a fome, mas aprendi com uma mulher analfabeta o que é ter caráter e honra”.

“Se juntar todos os meus acusadores, os três que me julgaram do Rio Grande do Sul, o Moro e a Polícia Federal, se colocar em uma prensa e espremer, não tem 3% da honestidade que eu tenho!”

O ex-presidente também elogiou a atuação de Olívio Dutra e Miguel Rossetto no estado, relembrando que os conheceu no movimento sindical nos anos 1970.

“Quando eu ganhei as eleições, eu queria o Rossetto em Itaipu, mas ele foi para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e realizou um bom trabalho. No mandato da Dilma e no meu, disponibilizamos 50 mil hectares de terra para a reforma agrária, significa que metade de tudo que foi feito na reforma agrária foi feito em 12 anos de governo do PT”.

“Eu fico satisfeito com a possibilidade da candidatura do companheiro Rosseto e de a gente voltar a ter o PT governando o estado do Rio Grande do Sul”, afirmou Lula.

“Eu convivi com o Olívio Dutra quando prefeito de Porto Alegre e quando foi governador, e vi a perseguição da qual o Olívio foi vitima da imprensa gaúcha porque o Olívio tem o hábito de olhar pelos que mais precisam. A história saberá julgar o mandato de governador do companheiro Olívio Dutra”.

Lula ainda criticou os fazendeiros que receberam crédito nos governos do PT e sempre se colocam contra o partido, apesar de não terem deixado de ganhar.

“Quando damos dez reais a uma pessoa humilde, ela fica agradecida o resto da vida. Quando você da 1 milhão para que os fazendeiros comprem máquinas, não só não são agradecidos, como passam o tempo inteiro falando mal do governo do PT!”

“Por mais que a gente financiasse a agricultura no Rio Grande do Sul, toda eleição eles se colocavam contra nós. Em 2006 eu vim aqui, via as caminhonetes mais modernas, mas os fazendeiros tinham apenas dois prazeres: quando pegavam dinheiro do governo e quando davam o calote”, lembrou.

“Eu estou cansado de ver cavalo comendo maçã e cansado de ver criança crescer sem comer uma maçã. Essa gente derrubou a Dilma e não quer que a gente volte”.

Gleisi, Lula e Dilma em Santa Marta

Dilma: Quiseram nos tirar porque sabem que nem o presidente Lula, nem eu, nem ninguém do PT aceitaria fazer as reformas que eles queriam

A presidenta legítima Dilma Rousseff relembrou os golpes que sofreu durante seu período de vida e se estendeu sobre o processo de 2016, que começou com um impeachment sem crime de responsabilidade e segue avançando, agora na tentativa de impedir uma candidatura de Lula.

“Quero dizer que sofri dois golpes de Estado. O primeiro foi um golpe militar. Eu tinha entre 20 e 23 anos. Nesse golpe, eu aprendi que os golpes tem uma característica, eles não gostam de ser tratados pelo nome. Não gostam de reconhecer que golpe é golpe. Quando a gente usa a palavra, a gente acusa o caráter antidemocrático, antipopular, contra o país, de quem dá o golpe”, afirmou a presidenta.

“O segundo golpe que sofri foi esse de 2016. Nos dois casos eles podem ser diferentes na forma, mas no conteúdo são muito parecidos. Na forma o golpe militar simplesmente derruba a democracia como um machado que derruba uma árvore. O golpe parlamentar é como se a árvore da democracia fosse corrida e destruída por dentro, por parasitas que destroem a democracia”.

Para Dilma, o golpe foi dado porque a oposição não tem o menor apreço pela democracia no país. “Sempre que a democracia prosperou, os direitos do povo foram respeitados. Sempre que a democracia regride, eles não são respeitados. Eles não deram o golpe por uma razão contra a minha pessoa. Me tiraram do governo, me feriram, praticaram contra mim o pior dos atos que era a injustiça e não queriam reconhecer que eram golpistas”.

“Eles quiseram nos tirar porque eles sabem que nem o presidente Lula, nem eu, nem ninguém do PT aceitaria fazer as reformas que eles queriam ver feitas”, ressaltou, em referência à reforma trabalhista e a tentativa de reforma da Previdência.

“Nós ganhamos quatro eleições presidenciais consecutivas. Na quarta, com 54 milhões e meio de votos, eles perceberam que através de métodos democráticos não conseguiriam praticar o que queriam praticar contra o Brasil e seu povo. Dai dar o golpe com impeachment sem crime de responsabilidade”.

“É importante que eles lembrem que deram esse golpe, que não é apenas o ato do impeachment. O impeachment é o inicio do golpe, mas ele continua quando, sem voto, eles começam a executar um programa contra vocês, contra os brasileiros”.

“Tiram o pobre do orçamento, acabam com educação e saúde, fazem a reforma trabalhista que acaba com trabalho formal, criam o trabalho precário, onde você fica à disposição do patrão e não sabe quando será chamado. Fazem isso com professores, trabalhadores, empregadas domésticas”.

“Sabiam que não seríamos a favor da terceirização. Pega uma pessoa, transforma ela em empresa e não paga os direitos trabalhistas. Sabiam não deixaríamos o Minha Casa, Minha Vida acabar, não deixaríamos de ampliar o acesso a educação, iríamos defende o petróleo até o fim”.

Para Dilma, a intenção dos golpistas é similar a intenção de destruição física em uma guerra, mas o a tática é a tentativa de destruição moral e cívica. “Passam a mentir sobre sua vida, passa a mentir sobre o que você fez. Aí temos a distorção da Lava Jato, porque a Lava Jato foi distorcida, ela se tornou um elemento de destruição do inimigo e o inimigo éramos nós”.

“Com o desenrolar das investigações, o povo começou a assistir mala para lá e para cá, apartamento cheio de malas, quem tinha dinheiro em paraíso fiscal. Mas queriam nos destruir de qualquer forma. Assim como no impeachment tentaram dar aparência legar a uma injustiça descarada”, relembra a presidenta.

“Aconteceu um fenômeno, eles estavam sem candidato, os golpistas. O que apareceu foi a extrema direita, que alimenta o ódio, a intolerância, todas características incompatíveis com a democracia. E quem cresce é uma pessoa que garantiu a soberania, os direitos sociais”.

“Esse processo não poder ser completado até as eleições e tem uma pessoa que é uma grande ameaça, que é o Lula. Ele é uma pessoa de convívio fácil, uma pessoa com experiência na negociação. Eles temem o Lula porque sabem que tem certas coisas que ele prefere morrer a fazer”.

“Lula não tira direito de trabalhador, Lula não persegue mulher, Lula que propôs a lei Maria da Penha. Lula sabe o peso imenso da exclusão e do privilégio. Sabe na carne o que é ser excluído, mas sabe a visão dessa elite que foi acostumada a controlar na violência, na escravidão, porque até 130 anos atrás tinha escravidão nesse país”.

“Sabem que o Lula não alienará o nosso patrimônio. Ele é autor de toda a política do pré-sal, portanto ele não é confiável para uma elite absolutamente reacionária, arbitrária e violenta. Por isso ele tem de ser afastado. Eles não têm candidato”, acrescentou a presidenta.

“Esse processo está previsto para ter efeitos para impedir que ele participe da eleição. Eles não tem candidato, aí faz pesquisa de intenção de voto e qualquer instituto mostra que Lula tem o dobro dos votos de qualquer outro candidato, além disso tem a menor rejeição, porque as pessoas percebem que estão usando o maior crime contra a democracia”, afirmou Dilma.

Lula visita a Nova Santa Marta, na cidade de Santa Maria

Gleisi: Não tivemos medo na ditadura, não tivemos medo da repressão e não temos medo da direita organizada

A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann , falou sobre as ações violentas que estão sendo praticadas, por grupos organizados, contra a caravana de Lula e afirmou que providências já foram tomadas.

“A caravana é pacifica e democrática. Infelizmente, nos deparamos nos últimos dias com uma reação muito ruim. Milícias armadas, instrumentalizadas pela direita, estão ameaçando a caravana. Colocam em risco o direito de ir e vir.”

“Não temos medo do enfrentamento, não temos medo do regime democrático, as manifestações da direita sempre respeitamos. O que não aceitamos é quando isso é colocado por milícias armadas, que querem atingir física e moralmente o adversário”, destacou a presidenta do PT.

“Por isso hoje nós reforçamos com o governador e com o ministro da Secretaria Nacional de Segurança Publica. É direito desses dois ex-presidentes andar pelo Brasil, discutir com o povo brasileiro, apontar soluções. A eles tem que ser assegurado o direito de ir e vir e a integridade física.”

Gleisi destacou que “esta caravana é do bem, e nasceu para saber como está o Brasil. Nós passamos por um golpe, tiraram a Dilma com uma violência nunca vista. Não podemos esquecer que essa gente que fez o golpe, que incentiva essas práticas fascistas, são som mesmos que perderam quatro vezes as eleições, e sabiam que a única maneira de chegar o poder era dando um golpe. Agora querem continuar dando um golpe retirando o maior líder do país de disputar as eleições”.

“O Lula ganha e vai ser nosso candidato. Nós vamos lutar todos os dias por essa candidatura. Lula é inocente, não tem crime, não tem prova, é um processo que foi feito para persegui-lo. O crime que acusam o Lula e ter feito, um apartamento em troca de benefícios pararam empreiteira, não conseguem mostrar qual foi o beneficio para a empreiteira e não conseguem provar que o apartamento era do Lula”.

Para a presidenta do PT, “eles tem medo do Lula”. “Lula é inocente, não vai ser o Judiciário, o Ministério Público ou a Polícia Federal que vai decidir quem vai ser o candidato pelo PT. Será o povo e a militância petista. E o Lula será candidato pelo povo e pela militancia petista”.

“Queremos dizer a esses com milícias organizadas, usando da intolerância e da violência: não temos medo. Não tivemos medo na ditadura, não tivemos medo da repressão e não temos medo de enfrentar vocês”, afirmou Gleisi.

Lula visita a Nova Santa Marta, na cidade de Santa Maria

Olívio Dutra: “Queremos eleger pessoas comprometidas com projeto coletivo e transformador”

O ex-governador Olívio Dutra também falou sobre o golpe que retirou Dilma do governo em 2016 e reiterou a importância de defender a candidatura de Lula, fazendo política diariamente.

“O golpe em agosto de 2016 retirou do governo uma mulher valente, digna, justa, que é a companheira Dilma e cujo mandato termina agora em 2018”.

“Temos que dizer que queremos ser sujeitos de uma política que o povo constrói nos municípios, na unidade federativa e na federação, que esteja sob controle do povo”, destacou o ex-governador.

“O companheiro Lula está sendo acusado sem nenhuma prova porque não há o que provar, a não ser provar que ele recuperou esse país, entregou esse pais desenvolvido. Os que o acusam tem que comprovar e eles não tem o que comprovar. Se nos acusam de corruptos e ladrões, estão dando tiro nos pés porque corruptos e ladrões eles sempre foram”.

“A maioria dos que nos acusam e financiaram o golpe do impeachment tem contas fabulosas no exterior, tem renúncias tributárias. Nos nossos governos não perderam nada, ganharam e muito, o que incomoda eles é que o povo ganhou, em uma proporção que eles não queriam”

Dutra elogiou o povo que construiu a ocupação do bairro Santa Marta e destacou que “a luta não é pequena, nem de curto prazo”.

“Queremos que amanhã, se fosse possível pudéssemos dizer que Lula ganhou em todos os terrenos e nós vamos elegê-lo Presidente da República. Com ele temos que eleger governadores, o Miguel Rossetto vocês conhecem bem, representa um projeto coletivo de todos nós, que precisa ser retomado para esse estado retomar a dignidade”.

“Precisamos reeleger com Lula e, com Miguel, dezenas de deputados e deputadas federais e estaduais, homem e mulheres, negros, índios. É fundamental meus companheiros, que façamos política todos os dias a qualquer momento. Política não é ter cargo e mandato, queremos eleger pessoas comprometidas com projeto coletivo e transformador. Queremos que nos representem, e não que nos substituam”, afirmou o ex-governador.

Lula pelo Brasil

A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos estados do Sul do país, em março, é a quarta etapa de um projeto que deve alcançar todas as regiões do país nos meses seguintes. No segundo semestre de 2017, Lula percorreu todos os estados do nordeste, o norte de Minas Gerais, o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.

O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista.

Por Clarice Cardoso, da Redação da Agência PT de Notícias, enviada especial ao RS

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