Fraga deixa claro que é contra aspirações de bancários do BB

Economista de Aécio negou a privatização dos bancos públicos, mas não esclareceu a função deles num eventual governo do PSDB

Em videoconferência promovida ontem (20) pela Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb), Armínio Fraga não agradou aos bancários. Com discurso pouco informado sobre a atuação das estatais, o economista escolhido por Aécio Neves (PSDB) não explicou com clareza qual seria a atuação dos bancos públicos caso o candidato tucano vença domingo.

“A gente entende que ele vai agir contra todas as nossas reivindicações”, disse Eduardo Araújo, presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília. “Nós queremos um setor financeiro democrático, e a proposta deles (PSDB) é ter um sistema que quer apenas controlar a inflação a qualquer custo. Ou seja, tirando dinheiro da população para alimentar banqueiros.”

Para Araújo, Fraga demonstrou não conhecer o papel do Banco do Brasil e dos bancos regionais como agente de desenvolvimento econômico e social do País. “Pelo que ele demonstrou ontem, estava pouco interessado nos bancos da Amazônia e banco do Nordeste. Nem tinha pensado no assunto.”

Durante a videoconferência, Fraga disse não ter a intenção de privatizar os bancos públicos e reforçou a participação efetiva nas políticas públicas. No entanto, para Araújo, o discurso de Fraga foi para “tentar desfazer os estragos” das declarações anteriores, como quando Armínio manifestou “não saber o que vai sobrar no fim da linha, talvez não muito,” dos bancos públicos.

Em relação ao BNDES, afirmou não ter proposta clara. “Nós não temos qualquer meta de tamanho para o BNDES. Mas eu digo, talvez ingenuamente, que um país que deu certo, à medida do tempo, a função do BNDES vai evoluir.”

A entrevista foi moderada por Sergio Riede, presidente da Anabb. Ao ser questionado sobre temas mais específicos do Banco do Brasil, Fraga não pareceu preparado para responder. “São, não sei quantas, mais de cinco mil agências e postos (depois vocês podiam me dar o número exato, porque eu…eu…eu… Não fiz a pesquisa) espalhados por todo o Brasil. Não há nada no agronegócio, no campo, que não tenha passado pelo Banco do Brasil.”

Aparelhamento – Riede pediu para o economista ser mais específico e citar exemplos da “politização” e “aparelhamento” do banco, que Aécio diz existir. Fraga defendeu a promoção pela história, talento e mérito dos funcionários, independentemente da afiliação partidária ou preferências ideológicas.

De maneira confusa, Fraga tentou citar os exemplos e explicar a composição do banco. “Eu observo, mas não tenho opinião…Muito francamente… Os postos de direção do banco cresceram muito nos últimos dez anos, talvez”. E continuou: “Se não me falha a memória era um presidente e seis vice-presidentes, e não me lembro quantos diretores, eram poucos. É…Isso evoluiu. Os postos foram sendo preenchidos e eu não saberia dizer especificamente, ‘olha, me parece que aqui e ali houve algum problema’. Essa é uma coisa mais genérica. Se não há problema, tudo bem. É…eu…tanto melhor.”

Lucro – Segundo Riede, o lucro do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e do BNDES foi muito significativo nos últimos anos. Ele questionou Fraga sobre como seria a competitividade de mercado dos bancos, idealizada pelo PSDB.

Para responder, Fraga comparou as cotações dos bancos. Segundo ele, o Banco do Brasil estava cotado a 30% acima do valor patrimonial, enquanto os “dois privados grandes” (Bradesco e Itaú) estavam cotados a duas vezes o valor patrimonial.

Fraga também foi questionado sobre os direitos dos funcionários. Riede lembrou o período do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando o Banco do Brasil passou por um “enxugamento” no quadro de funcionários, com a diminuição de mais de 30 mil trabalhadores. Segundo o presidente da Anabb, à época, o governo considerou que o Banco estava “inchado” e havia alguns “direitos trabalhistas excessivos”.

Os concursados empossados depois de 1998 reclamavam a inferioridade dos salários quando comparados aos de funcionários antes da posse. Segundo Riede, os trabalhadores chamam de “direitos genéricos – aqueles que parecem que são, mas não são”. E perguntou se haveria algum ajuste em relação à política de salários, ao tamanho do quadro de funcionários ou privatização de todo ou parte do Banco do Brasil. Para Fraga, não há nenhuma razão para “voltar ao tempo de hiperinflação”, assumiu.

Bancos regionais – Ao ser questionado sobre a função dos bancos regionais, como o Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Nordeste, Armínio confirmou seu desconhecimento. “Eu confesso que não ando acompanhando de perto o que acontece por lá. Então eu não teria, assim, nada de específico.”

Banco Central – Armínio Fraga não acredita num Banco Central como quarto poder, mas voltou a defender a autonomia do órgão. “Num primeiro momento, sem mexer na lei. Mas Aécio já deixou claro que em algum momento ele consideraria discutir esse assunto”.

Segundo ele, a autonomia operacional do Banco Central teria a função de cumprir orientações do Executivo. Porém, a partir do momento em que a inflação sair da meta, o Banco Central terá uma importante decisão a tomar quanto a velocidade de voltar ao ideal. “A inflação hoje está acima da meta há bastante tempo e terá de ser discutida e resolvida de maneira gradual para que aconteça de maneira virtuosa, que é o acredito que vai acontecer.”

 

Por Aline Baeza, da Agência PT de Notícias

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