Gleisi defende comitês populares para enfrentar o golpe

Presidenta do PT participou da II Conferência Nacional da Frente Brasil Popular junto com outras lideranças políticas

Larissa Gould/Frente Brasil Popular

Gleisi Hoffmann fala na II Conferência Nacional da Frente Brasil Popular

“A proposta da Frente Brasil Popular de formação dos comitês populares, é fundamental. Temos que abraçar isso, em um primeiro momento de resistência e em um segundo momento para que nos dê sustentação em um governo progressista e popular”, afirmou a presidenta do PT Gleisi Hoffmann neste sábado (9).

Ela participou da II Conferência Nacional da Frente Brasil Popular, realizada na escola nacional do MST em Guararema, com  a presença de centenas de representantes de diferentes movimentos sociais, além do presidente do PCdoB, Valter Sorrentino, e o diretor da Consulta Popular, Ricardo Gebrim.

“Não vamos esperar que o parlamento brasileiro vá ser a sustentação das mudanças que nós precisamos ter. Vamos ter muita luta e muito enfrentamento”, afirmou ela. “Por isso a importância de ter essa frente, que rompe com a visão de que a gente só precisa ter uma frente institucional, político-partidária”, acrescentou.

“Temos que lutar no parlamento também, mas por isso que temos de discutir em caso de vitória nas eleições uma constituinte popular, porque a gente tem que mudar a correlação de forças nesse país do ponto de vista parlamentar. Mas, temos que fazer organização popular e social”.

A presidenta do PT também falou sobre a conjuntura nacional que levou ao golpe e ressaltou a necessidade de se defender a realização de eleições limpas em 2018, com a participação de Lula.

“Diria que na história da humanidade talvez a gente esteja vivendo um dos períodos mais perversos do capitalismo, aonde a gente não tem um freio grande para se contrapor. Nós perdemos o que era de contraponto mais importante, que era o bloco soviético”, avaliou Hoffmann.

“A revolução russa foi um marco de desconstrução do que era colocado, o capital como o centro das ações. Passa a ser o social. Passa a ser o ser humano. Isso tem um impacto na nova ordem social, isso consegue sim frear a face perversa e cruel do capitalismo”.

Mesa de debate na II Conferência Nacional da Frente Brasil Popular

“O que vemos agora com a desconstrução do estado de bem-estar social da Europa é isso, um retrocesso sem precedentes. O capitalismo não precisa prestar contas a ninguém, à massa, à população, aos trabalhadores. Eles vem com tudo, com objetivo de concentração da renda. E não é mais a produção, é a financeirização”.

“Você tem companhias no mundo cujo faturamento é maior que o PIB de vários países. Os estados nacionais perdem a força e com isso perde força a política. A política tem que ser retomar o protagonismo da direção, e não mais a economia ou o capital, pois hoje os estados nacionais estão submetidos a isso”.

Gleisi lembrou que a inserção tardia do Brasil no capitalismo agrava os aspectos da crise no país. “Nunca tivemos um projeto de nação. A gente começou a pensar em nação brasileira no século 20. Um dos exemplos é a construção da nossa universidade. Começamos a ter universidade no século passado”.

A democracia para nós é algo que a gente conhece de maneira muito pontuada e pequena. O maior período de democracia que nós tivemos continuamente se encerra agora com o impeachment da Dilma, que veio após a constituição de 88”.

“Outra coisa que é característica da limitação da nossa democracia é a participação popular, dentro dela a participação das mulheres”, ressaltou a presidenta do PT, explicando que “se efetivamente não tenho metade do eleitorado ou da população participando dos processos decisórios da política não tenho uma democracia plena”.

“Por isso a fragilidade, por isso com um golpe como o impeachment a gente tem uma desconstrução total dos direitos, monumental, que ninguém ousou nesse período de democracia no Brasil. Nem FHC que se pautava pela cartilha liberal ousou desconstruir, porque tinha uma legitimidade do voto, tinha que mediar com a sociedade”.

Segundo Gleisi, com a entrada de Temer a classe dominante decidiu que era hora de “fazer tudo”. “É o desmonte da CLT, a terceirização, o desmonte da previdência social, e principalmente a questão econômica. Essa ação contra a Petrobras é um crime de lesa-pátria”.

“Eles aproveitaram a Lava Jato, a questão da corrupção como instrumento para desestabilizar os governos mais progressistas e populares, e colocam isso como motivo para desregulamentar o mínimo de regulamentação que se tinha na economia, sistema financeiro e de crescimento produtivo”.

Gleisi questionou o fato do Ministério público e do juiz Sério Moro se vangloriarem de devolver 650 milhões à Petrobras enquanto o prejuízo causado à companhia pela operação apneas em 2015 foi da ordem dos bilhões de reais.

“Tiraram a Petrobras de operadora única do pré-sal. Os maiores investimento que fizemos na Petrobras foram para águas profundas e tiram a Petrobras. Agora estão com projeto para terminar com o sistema de partilha e colocar os postos do pré-sal em regime de licitação comum. A partilha era a divisão dos barris de petróleo de cada poço. Vão mudar isso, é um crime de lesa-pátria”.

“Agora vão também privatizar o setor elétrico e entregar as outras riquezas. É a total desregulação do Estado brasileiro. Soma-se a isso a falta de visão dessa classe dominante, que não há nenhuma solidariedade com o povo, mas também pudera. Um país com 300 anos de escravidão, onde a pessoa era coisa, objeto, e não sujeito de direito, o povo é detalhe. A dor, a miséria, não dá sensibilidade para essa gente”.

“Se acostumaram a se desenvolver na dor do outro. Tivemos 300 anos de escravidão e não fizemos nenhum programa de inserção das pessoas. Isso nos dá um legado péssimo do ponto de vista social, que somado à falta de visão de desenvolvimento dá nesse golpe, de desmonte do estado nacional e dos direitos que conquistamos”.

Ressaltando que o golpe contra Dilma Rousseff foi um dos maiores que já ocorreram no país, ela ressaltou a necessidade de união. “Acho sim que temos de buscar uma frente ampla com setores progressistas da sociedade, mas temos que buscar aliança fundamental com povo e com movimentos sociais”.

“É preciso remontar a constituição do estado brasileiro, que foi justamente para recepcionar os filhos da aristocracia, que iam estudar na Europa e quando voltavam iam trabalhar na coroa, no estado brasileiro, na aristocracia. Achamos por um tempo que o estado era neutro e republicano, que ele poderia oferecer saídas. Isso foi uma das questões que mais nos levou a ter problemas em relação à resistência”.

Para Gleisi, “esse estado policialesco que faz a educação como questão de polícia, que faz invasão na Universidade Federal de Santa Catarina, na Universidade de Minas Gerais. Esse estado policialesco é que exclui o povo do orçamento público. É essa casta dos agentes públicos, juízes, políticos, polícia federal, receita, que lutam por eles, por seus privilégios, a despeito de ter um estado que seja para todos”.

O estado policialesco que temos hoje e que criminaliza a política disputa os recursos financeiros e orçamentares, quando diz que uma operação policial pode e deve gastar mais que o social. Entrar novamente no Estado Brasileiro vai significar disputar essa visão, não vai ser fácil”.

“Também temos uma luta de curto prazo, que é a defesa de eleições livres e democráticas em 2018, que é para barrar a continuidade desse golpe. Se não fizermos isso, o estrago que vai ser na nação brasileira vai ser absurdo e não sei se teremos oportunidade de nos recuperar”.

“Se temos a responsabilidade de fazer os comitês pela democracia, também temos a responsabilidade de trazer propostas únicas, e sei que vamos ter, para apresentar ao povo brasileiro e disputar com a direita as eleições de 2018”.

“Vamos defender Lula como candidato, é o que vamos fazer aos estimular os comitês em defesa da democracia, comitês em defesa da candidatura dele. Acho que Lula pode ser fundamental na luta das eleições de 2018 pela possibilidade concreta que ele tem de ganhar a eleição. Não que vá ser fácil um governo de Lula, vai ser muito mais difícil, mas vai ajudar a fortalecer a organização popular”.

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