Gleisi Hoffmann: O mercado da beleza, o Parque Beto Carrero e a crise disseminada

Não pensei que um singelo artigo, contrapondo a opinião majoritária de muitos setores da mídia sobre a crise econômica, publicado na semana passada, provocaria repercussão tão polêmica entre alguns jornalistas.…

Foto: Waldemir Barreto /Agência Senado

Não pensei que um singelo artigo, contrapondo a opinião majoritária de muitos setores da mídia sobre a crise econômica, publicado na semana passada, provocaria repercussão tão polêmica entre alguns jornalistas.

Com o artigo “‘Apesar da crise’ é o novo ‘Imagina na Copa’”, quis mostrar o nível absurdo de pessimismo que assola o noticiário brasileiro em relação à nossa economia, tal qual ocorreu no período que antecedeu a Copa do Mundo. Mais do que avaliações, havia apostas de que a Copa não aconteceria, por sermos extremamente incompetentes, desorganizados, inexperientes, enfim, praticamente imprestáveis. A Copa não só aconteceu como foi avaliada como uma das melhores dos últimos tempos. Pouquíssimos foram os meios de comunicação que fizeram autocrítica sobre o assunto.

Vemos agora a história se repetir. É claro que estamos em um momento de dificuldade econômica. Alguns setores da nossa economia enfrentam dificuldades. Temos sim aumento da inflação, do índice de desemprego, crédito mais caro. Sofremos o efeito de uma das maiores crises internacionais, iniciada em 2008. Mas daí a vaticinar que nunca estivemos tão mal, que essa é a maior crise de todos os tempos no Brasil, mais do que exagero desmedido, é apostar contra o país. Avaliações pessimistas, exagero na negatividade são o caminho efetivo para chegar a uma crise de verdade. É aquela velha máxima: “sabe qual a maneira mais fácil de quebrar um banco? Dizer que ele está quebrado!”

Citei alguns exemplos para demonstrar que não estamos em uma crise profunda, e que é muito mais fácil hoje superar as dificuldades econômicas que nos afetam. O resultado positivo da agricultura, o aumento na produção de frangos, a exportação de carnes bovinas e suínas, crescimento de abertura de empresas no país, especialmente de micro e pequenas, venda de telefones celulares e, terminei o artigo citando, o grande movimento no parque de diversões Beto Carrero em Santa Catarina. Juntando isso a uma afirmação que fiz no Senado sobre o crescimento do mercado da beleza, a crítica, desqualificada em alguns casos, prosperou.

Afinal, qual é o problema em citar o setor de estética e de beleza, que vai movimentar R$ 9 bilhões em 2015, ou o setor de diversões, que continua crescendo a olhos vistos? E são dois setores que empregam muita gente. É bom lembrar que já usamos o consumo de iogurte para avaliar o crescimento da renda! Aliás, Karl Kautsky utilizou o aumento do consumo de chocolate para analisar a prosperidade da sociedade europeia, ainda na virada do século XIX para o século XX.

Pedi a minha assessoria que levantasse notícias que trouxeram, no primeiro semestre, informações positivas sobre a economia, especialmente aquelas com o bordão “apesar da crise”. Somente no mês de julho foram coletadas dezenas de páginas. Cito aqui mais alguns exemplos dos títulos: Embraer registra aumento do lucro líquido no segundo trimestre; Lucro da Ambev cresce 27% no trimestre; Após perdas, Vale lucra mais de R$ 5 bi; Cresce lucro dos bancos; Dez anos depois, Dunkin’ Donuts volta ao Brasil; Mais de três mil cidades brasileiras terminaram o primeiro semestre com o saldo positivo na geração de empregos; Brasil atingiu meta do milênio em redução de pobreza e fome, diz ONU; O desemprego no Brasil e na Europa: onde mesmo está a crise? Hyundai vai investir milhões em centro de pesquisa no interior paulista; Confiança da Indústria volta a subir após cinco meses de queda, diz FGV; Na contramão da crise, alguns setores crescem e mantêm investimentos; KFC e Pizza Hut têm planos de expansão agressivos no Brasil; Sem crise! Mercado de casamentos não conhece o que é recessão; etc, etc, etc. São centenas de títulos de jornais que poderia repetir aqui. Deixo esses exemplos para conferência dos repórteres que quiserem debater o tema.

Fico imaginando se essas notícias tivessem o mesmo espaço das notícias ruins que enchem nossos jornais, inclusive no rádio e televisão. Com certeza o pessimismo econômico não estaria afetando tanto nosso país.

É importante pensar sobre isso!

(Artigo inicialmente publicado no Blog do Esmael, no dia 3 de agosto de 2015)

Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Foi ministra-chefe da Casa Civil e diretora financeira da Itaipu Binacional

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