Haddad: núcleo político de Bolsonaro é de “tutela e intimidação”

Em entrevista ao jornal Valor, o candidato do PT nas eleições de 2018 ainda afirmou acreditar que Bolsonaro teve acesso a relatórios do Coaf antes do 2º turno

Ricardo Stuckert

Fernando Haddad concede entrevista

O candidato do PT nas eleições de 2018, Fernando Haddad, classificou o núcleo político de Jair Bolsonaro como de “tutela e intimidação”, afirmando que este grupo é formado por militares e pelo Ministério da Justiça. Ele falou em entrevista ao jornal Valor nesta segunda (11), e afirmou suspeitar que o candidato do PSL tenha acessado relatórios do Coaf antes do 2º turno.

Questionado sobre a legitimidade das eleições, o ex-prefeito de São Paulo destacou que a ausência de Lula é um dos aspectos que marcaram o pleito. “As investigações sobre o WhatsApp e a maneira como o caixa dois foi utilizado para disparar calúnias contra nossa chapa, é outra. Assim como a ditadura militar foi saudada pelos meios de comunicação como uma coisa benfazeja e 50 anos depois vieram a público se retratar, a história às vezes exige tempo de maturação para que as coisas sejam colocadas no lugar”.

Analisando seu próprio aumento de votos de 31 para 47 milhões entre os dois turnos, Haddad disse que “quando as pessoas falam que foi o sentimento antipetista que elegeu o Bolsonaro, isso é meia verdade. Havia outros 10 candidatos que podiam ter ganhado apoio, que não apoiavam o PT. Mas as pessoas queriam votar no Bolsonaro. E no PT também. Essas duas forças sociais se impuseram”.

Ele acredita que “o discurso ultraconservador do Bolsonaro não é algo que possa ser desconsiderado. Representa uma união de propósitos inédita no Brasil, que venho chamando, inspirado na filósofa americana Nancy Fraser, de neoliberalismo regressivo com aliança conservadora nos costumes, na cultura, na ciência e nos direitos civis, que está expressa no ministério”.

Para Haddad, o Brasil passa a ter uma sociedade civil e uma institucionalidade mais frágeis após 2018. “No Brasil há três núcleos diferentes no governo eleito, um que chamo de fundamentalista, cujo foco são os direitos civis, que une vários ministros de forma coerente. Depois tem o núcleo da economia, que é escancaradamente neoliberal e não está nem aí para direitos civis. Não vai aumentar imposto, então tem duas formas de acomodar: vendendo patrimônios, a agenda de privatizações radical, e cortando na carne. E tem um terceiro núcleo, que é o político, dado basicamente pelo Ministério da Justiça e pelos ministros militares. O destino do governo Bolsonaro vai depender do núcleo político que tem duas possíveis tarefas: a tutela e a intimidação”.

Sobre Bolsonaro, afirmou que “ele teve acesso ao relatório do Coaf, no mais tardar, no dia 15 de outubro. Data em que demitiu o motorista e a filha. Por que teve acesso ao relatório e a sociedade não? São questões que precisam ser respondidas. Por que o Coaf liberou para Bolsonaro e não para a sociedade questões que são de interesse público? Esse expediente, que ao que parece é de peculato, o de usar seu gabinete para fazer vaquinha para si mesmo, é um expediente muito comum no baixo clero. Inexplicável é que só tenhamos sabido agora. Como esse núcleo vai operar é importante saber”.

“Desde o tuíte do Villas Boas, às vésperas do julgamento do habeas corpus de Lula no Supremo, essa interferência, definitivamente, veio à mesa. Qual é o significado disso? Tutela ou intimidação. Você tem um jogador do banco de reserva que está no aquecimento antes de começar o jogo”, afirmou Haddad, em referência ao general Hamilton Mourão, vice do presidente eleito. “Está no aquecimento antes da partida. Para o bem da democracia temos que prestar atenção”.

Sobre Lula, Haddad afirmou que pretende atuar como advogado nos fóruns internacionais, “sobretudo na ONU, quando temos a expectativa de haja julgamento no mérito, do plenário, porque, até agora, apenas dois conselheiros se manifestaram”.

Ele acredita que “a decisão jurídica já está tomada no Brasil, mas para a história terá reflexo. A manifestação do pleno da ONU dizendo que Lula teve seus direitos desrespeitados e a soberania popular foi comprometida é muito importante. Uma figura como ele está pensando na história. Não no conforto da prisão. Tem 73 anos”.

Da redação da Agência PT, com informações do Valor

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