Lula: “Com a ajuda do povo posso consertar este país outra vez”

Em entrevista à Rádio Jornal de Pernambuco, ex-presidente fala que a única maneira de tirá-lo da política é por meio da disputa eleitoral de outubro

Lula concede entrevista a rádio

Em entrevista concedida na manhã desta terça-feira (6) ao jornalista Geraldo Freire, da Rádio Jornal de Pernambuco, o ex-presidente Lula mais uma vez defendeu a atuação de uma Justiça imparcial e que a única maneira de tirá-lo do cenário político é durante a disputa eleitoral de outubro.

“Só há um jeito de me derrotarem: disputem as eleições comigo. Eu perdi três eleições e não reclamei. Não tentem ganhar no tapetão porque eu vou brigar até as últimas consequências”, afirmou.

Em cerca de uma hora, Lula discorreu também sobre temas como a relação com o Nordeste, as propostas para o futuro do país, as possíveis conciliações partidárias e os problemas da condenação sem provas imposta em segunda instância pelo TRF-4 no dia 24 de janeiro, em Porto Alegre.

Sempre tranquilo, Lula foi enfático ao dizer que o julgamento do caso triplex deveria ter sido baseado somente em provas. “Eu imaginava que quando eu fosse para a segunda instância ela serviria para corrigir os equívocos dessa injustiça. Eu fiquei pasmo quando vi na segunda instância os juízes mais preocupados em salvar a cara da mentira contada na primeira instância do que estudar os autos do processo e me absolver.”

Quando perguntado se ainda tentará recorrer da decisão, Lula foi claro: “Quando a gente é inocente, a gente não se curva. Quando a gente é inocente, a gente tem que ficar indignado. E eu sou um cidadão indignado”.

Para o ex-presidente, não se curvar a uma decisão agora vai além de fazer justiça. “De onde eu vim a gente tem honra. E se eu disser que eu respeito a decisão, a minha bisneta quando tiver 10 anos de idade vai me acusar de covarde”, completou.

A seguir, confira os principais trechos da entrevista:

Futuro político

“Eu tinha medo do segundo mandato. Eu sempre tive a preocupação de frustrar a sociedade de não poder fazer melhor do que o primeiro. E, com a ajuda de Deus e do povo brasileiro, eu consegui fazer o segundo mandato infinitamente melhor do que o primeiro. Nós conseguimos fazer com que o povo brasileiro recuperasse o orgulho de ser brasileiro. Recuperasse a autoestima. O Brasil passou a aumentar salário, a distribuir renda, a ter no comércio varejista um crescimento extraordinário, no setor de habitação um crescimento extraordinário, na construção civil, na indústria naval.”

Nordeste

“O povo nordestino, pela primeira vez, teve a possibilidade de não ser tratado como o lugar da mortalidade infantil, da fome, da evasão escolar. O povo nordestino passou a perceber que o Nordeste fazia parte o Brasil e que o progresso estava chegando na região.”

Novas propostas

“Eu tenho a consciência de que eu posso, com a ajuda do povo brasileiro, outra vez consertar este país. Fazer este país voltar a crescer, gerar renda, gerar emprego, gerar salário e não jogar a culpa da desgraça do Brasil em cima da legislação trabalhista ou em cima dos aposentados.

Porque, se fosse assim, no tempo da escravidão o Brasil seria maravilhoso. E não era. Então é preciso parar com essa bobagem, com essa cretinice de um certo tipo de gente da elite brasileira de que o povo tem que voltar a trabalhar como escravo, trabalhar por conta da refeição, receber apenas as horas que trabalha, não ter férias. Não é possível que a gente tenha gente pensando assim no Brasil.

“Quanto mais tranquilidade você der ao povo brasileiro, quanto mais chance de trabalhar, quanto mais chance de comer ele tiver, menos violência a gente vai ter, mais otimismo a gente vai ter e o país vai parar de ter este clima de ódio que está espalhado por todas as regiões do Brasil.”

Lei da Ficha Limpa

“A Lei da Ficha Limpa não foi feita para inimigos. Ela foi feita para o Brasil. Se eu tiver cometido um crime, eu não posso escapar dela ou de qualquer outra lei. A única coisa que eu quero é que eles provem o crime que eu cometi. Eu só quero que eles parem de mentir a meu respeito e mostre ao povo brasileiro qual foi o crime que eu cometi.”

Triplex

“Eu acabo de ser condenado por um apartamento que não é meu e que eu não comprei. O próprio juiz Moro reconhece que o apartamento não é meu, que não tem dinheiro da Petrobras, mas ele me condena e agora coloca em leilão. Sabe, são essas coisas absurdas que nenhum advogado de bom senso pode entender. Porque, se eu comprei este apartamento, tem que ter uma escritura. Tem que ter alguma coisa. A verdade vai prevalecer no final.”

Orgulho de ser brasileiro

“A palavra fugir não existe na minha vida. Eu sou cidadão brasileiro. Tenho orgulho de ser brasileiro. Escapei da fome até cinco anos de idade. Porque para um nordestino que nasce na miséria que eu nasci a chance de sobreviver é muito difícil e eu sobrevivi. Então eu vou encarar qualquer cidadão de cabeça erguida, mas eu tenho certeza, eu tenho fé que a verdade vai vir à tona.”

Auxílio-moradia

“Você não pode fazer um concurso, ganhar 30 mil reais e ganhar auxílio-moradia. Aliás, agora eu aprendi uma nova. O povo brasileiro que não tem aumento de salário, por favor, faça como o Moro: requeiram auxílio-moradia. Ou façam como os procuradores. Como é que pode alguém que ganha 30 mil por mês requerer auxílio-moradia?”

Futuro na Justiça

“Eu sou homem que aprendi ao longo da minha vida a não ter raiva. Eu durmo todo dia tranquilo. O que vai acontecer comigo só Deus sabe. Eu estou muito tranquilo. Moro no mesmo lugar há 20 anos. Vou continuar a dormir no mesmo quarto toda noite. Vou recorrer de todos os processos. Vou continuar acreditando no Poder Judiciário.

“Mas é importante saber que no poder Judiciário tem muita gente honesta e trabalhadora e tem muita gente que utiliza o seu cargo como se fosse um dirigente partidário. Se alguém quiser política, larga a profissão, entra num partido político e vai ser candidato a alguma coisa. O que eles não podem é tentar me destruir com mentiras.”

Ligação com Pernambuco

“Vocês sabem o crime que eu cometi em Pernambuco: fazer este povo pobre comer, fazer o pobre ter orgulho na vida, fazer ele se sentir cidadão ou cidadã, fazer gente da periferia de Pernambuco que jamais pensou em concluir o segundo grau estar fazendo universidade, fazer as pessoas terem trabalho com carteira profissional assinada, legalizar a vida das empregadas domésticas. Este é o crime que eu cometi. Ver a transposição do Rio São Francisco. Uma coisa prometida desde o tempo do Imperador e ninguém fez.”

Popularidade

“Eu tenho uma relação verdadeira com o povo brasileiro. Eu tenho uma coisa que eu dizia na porta de fábrica em 1978 e em 1980: a única coisa que eu tenho medo na vida é mentir para as pessoas que acreditam em mim. Esse compromisso eu fazia na porta de fábrica às 5 da manhã, 11 da noite, meio-dia. E eu não posso trair esse povo que um dia teve coragem e a consciência política de votar num metalúrgico, quase que analfabeto, acreditando que este metalúrgico poderia fazer por ele o que os doutores nunca fizeram. Por que o povo acredita em mim? Porque o povo sabe que eu não sou um presidente. Eu sou um deles.”

Perseguição política

“Qual o político que resistiria ao massacre de 12 anos que eu estou sofrendo? Qual político resistiria a mais de 35 horas de ‘Jornal Nacional’ fazendo matéria negativa, a mais de 60 capas de revista, a mais de mil páginas de jornais? Me diga, qual político resistiria?”

Próximos passos

“A única coisa que eu vou fazer na vida é provar que estou sendo vítima de uma injustiça e que o crime que eu cometi foi fazer que as pessoas do andar de baixo subissem um degrau, uma escada de justiça social. Este foi o grande crime e tem gente que não aceita.”

Sem raiva

“Eu não fico com raiva. Eu fico com pena. Eu conheço muitas histórias contadas por advogado de pessoas que são presas e a primeira coisa que eles recebem é uma orientação para falar do Lula. Qual é a grande mentira que eles contam? É que o Lula sabia. É como se fosse possível eu, aqui de São Paulo, saber o que você está fazendo.

“Um tempo atrás houve um processo sobre a venda de sentenças do poder judiciário. Sabe qual foi a defesa que absolveu os juízes? Que eles não poderiam saber o que estava acontecendo na sala ao lado. E eles querem que eu saiba o que está acontecendo no Acre, no Rio de Janeiro, na Bahia, em Pernambuco, na Bahia, no Sergipe.”

Relação com a imprensa

“Eu não sou censor. Eu acho que quem tem que censurar é o telespectador, é o ouvinte, é o leitor. A única coisa que eu vou propor é um processo de democratização dos meios de comunicação. Tentar criar condições para que os meios de comunicação sejam mais democráticos. Inclusive chamá-los todos para participar de um congresso ou uma conferência que eu quero fazer.

“E eu tenho dito: eu não quero uma imprensa como a cubana, como a chinesa. Eu quero uma imprensa como a inglesa, a americana, a alemã, em que o dono dos meios de comunicação não são donos da verdade. Ele não pode mentir. Ele não pode usar os meios de comunicação para fazer política para destruir alguns e beneficiar outros.”

 

Assista à entrevista completa:

Lula conversa com Geraldo Freire, da Radiojornal de Pernambuco. #lulanoradio

Publicado por Lula em Terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Da Redação da Agência PT de Notícias

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast