Lula encerra caravana com grande ato contra a escalada de ódio e em defesa da democracia

Ao lado de Manuela e Boulos, o ex-presidente encerrou a etapa sulista de Lula pelo Brasil

Ricardo Stuckert

Ato suprapartidário com Lula, Guilherme Boulos e Manuela D'Avila

Nove dias para fazer valer a democracia. É ousada por si só a ideia de um ex-presidente colocar o pé na estrada, a bordo de um ônibus, para percorrer o Brasil. Fazê-lo em tempos de golpe é um ato de coragem e de reafirmação: das ruas (e das estradas) não sairemos.

A ideia de percorrer o Sul do país foi exclusiva de Lula. Ao longo dos meses que levaram o planejamento desta que foi a quarta etapa da jornada do ex-presidente pelas entranhas do país, não foram poucas as tentativas de dissuadi-lo do plano. Presidente mais popular da História do Brasil, Lula também já pode se dizer o mais perseguido. E a estrutura montada para destruir sua reputação, que o fortalece perante o povo que já percebeu uma nítida caçada à figura daquele que mais fez pelo país, desta vez acabou por se traduzir – de forma física e ostensiva – em ódio. “Eu teimei muito pra fazer o final dessa caravana.Tinha gente que achava que a gente não ia conseguir. O meu agradecimento do fundo do coração a todos que estão aqui”, disse nesta quarta-feira (28), ao encerrar seu itinerário na cidade de Curitiba.

O Sul foi a região onde a caravana de Lula encontrou seus maiores desafios. De Bagé a Curitiba, o ódio se manifestou por meio de ovos, pedras, chicotes, rojões, pregos na estrada, tratores – alguns financiados pelo governo Lula, cabe ressaltar – e, por fim, tiros. Alguns feridos. Um padre, um professor, quatro mulheres, idosos, jornalistas. Os alvos também já são “os milhões de Lulas”, figura que o ex-presidente usa para lembrar aqueles que o querem destruir de que ele já não é mais apenas um.

O ato desta quarta-feira marca a conclusão de um dos processos mais firmes de enfrentamento ao golpe de 2016. “É bom guardar o rojão pra fazer a festa da minha posse no dia primeiro de janeiro”, avisou Lula. A multidão que tomou a Praça Santos Andrade esperava do ex-presidente uma fala sobre o atentado desta terça-feira (27), mas o discurso de Lula não se resumiu ao ataque. O ex-presidente queria, mais uma vez, falar sobre o país. E rediscuti-lo. E ao lado de Manuela d’Ávila e Guilherme Boulos demonstrar que a luta pela retomada da democracia não recuará e nem se fragmentará. Está, agora, mais fortalecida do que nunca.

É significativo também que a agenda de Lula tenha priorizado o interior dos estados. O ex-presidente não vai a caravana apenas para falar, elas são desenhadas para ouvir. Desde sua concepção, das Caravanas da Cidadania, Lula tem as viagens como uma base de coleta sobre o povo brasileiro e suas mais variadas particularidades, em um país de dimensões continentais.

“A Caravana foi pensada não apenas para que a gente pudesse falar, mas para que a gente pudesse ouvir as pessoas. As coisas mais importantes que a gente ouve nas caravanas não estão nos discursos. Estão nos testemunhos que as pessoas dão. É isso que vale à pena”, lembrou Lula, ao encerrar seu itinerário. “Eu aprendi uma lição em 89. Na campanha presidencial você não tem tempo de conhecer o Brasil. Resolvi que se eu quisesse governar  eu teria que conhecer profundamente a alma do povo brasileiro”.

E esse vínculo de quem pode olhar no olho e ali se reconhecer preencheu todo o resto da caravana, que não se baseou exclusivamente no ódio, mas disputou com ele com muito carinho e solidariedade. Dos reitores que por todo o país resistem contra os retrocessos na educação à gratidão das famílias que tiveram suas vidas transformadas pelos programas em benefício da agricultura familiar. Do discurso de um jovem professor de matemática que não sonhava em ter um diploma, ao encontro com líderes latino-americanos como os ex-presidentes Pepe Mujica, do Uruguai, Rafael Correa, do Equador, e Fernando Lugo, do Paraguai. Lula não quer apenas recuperar a soberania do Brasil, o ex-presidente tem no horizonte a retomada de uma América Latina forte e integrada.

Dos conselhos de Pepe Mujica, a quem o ex-presidente Lula pediu que compartilhasse sua sabedoria, um já se faz valer. “As derrotas da esquerda são filhas de suas divisões”, disse Mujica, que certamente estaria satisfeito em participar do ato que encerrou a caravana. “Defender Lula não é tarefa apenas dos petistas e lulistas. É tarefa de todos que defendem a democracia”, disse Manuela d’Ávila, ao lado do ex-presidente. Já Guilherme Boulos convocou a criação de uma frente unificada da esquerda. “Todos sabemos que na esquerda temos diferenças de posição e de ponto de vista. Nossa tradição não é da intolerância e do pensamento único. E agora vamos nos unir parar enfrentar o fascismo”.

A Lula coube encerrar reafirmando aquela que talvez seja uma de suas mais importantes mensagens hoje. “Eles acham que sou eu o problema desse país. O Lula é apenas um ser humano. Mas nós não somos um amontoado de ossos e de água. Nós somos uma ideia. Eles não conseguirão prender o sonho”. E aos 72 anos e com plena disposição, avisou: “já estou planejando mais duas caravanas”.

De lula.com.br

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