Marcos Coimbra: Pesquisas fora de hora

É perceptível o medo que as oposições têm de Lula. Na política, nas corporações e na “grande imprensa”, se inquietam com a possibilidade de uma candidatura do ex-presidente em 2018. Podemos estar certos: elas próprias não acreditam no que alegam quando dizem não o temerem

Foto: Nélio Rodrigues/Divulgação

É perceptível o medo que as oposições têm de Lula. Na política, nas corporações e na “grande imprensa”, se inquietam com a possibilidade de uma candidatura do ex-presidente em 2018. Podemos estar certos: elas próprias não acreditam no que alegam quando dizem não o temerem.

A sério nenhum expoente oposicionista endossa o raciocínio simplório de que a atual crise de popularidade da presidenta Dilma Rousseff, somada ao desgaste da imagem do PT causado pela Operação Lava Jato, eliminam a chance de sucesso de uma candidatura de Lula. Repetem-no para convencer a plateia e a si mesmos, mas a cada vez que reiteram a tese de que Lula não venceria, mais revelam o quanto creem em sua força.

De uns tempos para cá, para tentar demonstrar o enfraquecimento do ex-presidente, uma das estratégias mais utilizadas tem sido a divulgação de pesquisas de intenção de voto. Apenas nas últimas semanas, foram cinco, todas com Lula em segundo lugar, atrás dos possíveis nomes tucanos.

É claro que a razão de ser de algumas foi somente fortalecer a hipótese da candidatura de Aécio Neves pelo PSDB. Obrigado a enfrentar Geraldo Alckmin e José Serra, considerados favoritos na disputa interna por muitos, Aécio faz o mesmo que Serra fez com ele em 2010. Desta feita, em razão do recall de 2014, o argumento de “estar na frente nas pesquisas” lhe é favorável, e não será surpresa se sua pré-campanha promover a multiplicação de levantamentos de agora em diante.

O alvo principal sempre é, porém, Lula. O discurso sobre sua “fraqueza” visa apenas secundariamente a opinião pública. Embora não seja irrelevante desmotivar seus eleitores no horizonte de daqui a três anos, o jogo é de curto prazo e seu objetivo não é a sociedade, mas o interior do sistema político.

Ao afirmar que Lula seria derrotado em 2018, as oposições apostam no efeito imediato no Congresso Nacional. Não é segredo que a perspectiva do retorno do ex-presidente mantém minimamente articulada a base parlamentar do governo e que, sem ela, as dificuldades de Dilma Rousseff, que já são grandes, seriam ainda maiores.

É, no entanto, um despropósito pretender retirar conclusões como essas de pesquisas de intenção de voto feitas nas condições atuais e tão longe da próxima eleição. Em fases como a que vivemos, quando a população se sente insatisfeita e descrente no governo, elas tendem a captar atitudes e opiniões exclusivamente conjunturais, de pouca utilidade preditiva. A característica da pesquisa de ser a “fotografia de um momento” se acentua e, a mais de três anos de distância, a suposição de “a eleição ser hoje” mostra-se completamente sem sentido.

A se considerar que a popularidade atual do governo Dilma é muito parecida com aquela de Fernando Henrique Cardoso no início do segundo mandato, podemos tirar daquele período alguma lição que nos leve a compreender o presente e a imaginar o futuro. Mais especificamente, a entender que impacto tem uma crise de popularidade nas intenções de voto na eleição seguinte, na qual o governante não é candidato, mas seu partido ou grupo político vai concorrer.

Como sabemos, FHC começou pessimamente o segundo mandato, em meio a uma grave crise econômica, com inflação e desemprego na estratosfera, acossado por denúncias de favorecimento a grupos econômicos e obrigado a lidar com uma oposição política ativa, manifestações de rua e pedidos de impeachment. Em razão disso, sua popularidade caiu a níveis muito baixos: segundo dados de uma pesquisa do Instituto Vox Populi feita em setembro de 1999, apenas 8% da população avaliava positivamente o governo.

Como é de se supor, o cenário eleitoral era desfavorável ao condomínio tucano-pefelista. Em nenhuma das inúmeras pesquisas realizadas pelo Vox Populi entre 1999 e 2000, a soma de quaisquer candidatos do PSDB e do PFL ultrapassou 14%. José Serra, o tucano mais forte, nunca foi além de 7%. A medir a situação por elas e de acordo com os demais institutos, o governismo estava fadado a uma derrota acachapante em 2002.

Não foi o que vimos quando a eleição chegou. Serra só ficou atrás de Lula, disputou com ele o segundo turno e alcançou cerca de 40% dos votos válidos, quase exatamente o mesmo porcentual de Alckmin em 2006. Ou seja, na hora de votar, prevaleceram as identidades mais profundas do eleitorado e não a conjuntura da avaliação do governo.

Se, em 2002, Serra cresceu, apesar de sua limitadíssima identificação popular, imagine-se o favoritismo com que Lula pode chegar em 2018. O que, aliás, explica o medo das oposições e por que elas tentam, de qualquer maneira, impedir sua candidatura.

Marcos Coimbra é sociólogo, presidente do Instituto Vox Populi e colunista da Carta Capital e do Correio Braziliense

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