Milton Pomar: E os bancos, o judiciário, as grandes indústrias, os latifundiários?

Milton Pomar ressalta que a grande mídia só cita a Odebrecht e a Petrobras, mas faltam centenas de grandes empresas na devassa nacional anunciada

Milton Pomar é campanheiro. Foto: Divulgação

Quem assiste o noticiário na TV fica com a convicção de que existem apenas duas empresas no Brasil: a Odebrecht e a Petrobras, responsáveis pelo “maior caso de corrupção da história”, nas palavras do apresentador do show diário de propaganda. E que a corrupção está restrita aos políticos profissionais, em Brasília e em alguns governos estaduais.

Mas… e as demais grandes empresas, aquelas que costumam ser apresentadas em anuários com o ranking das 500 maiores do Brasil? – Nenhuma outra delas financiou parlamentares e executivos, municipais, estaduais e federais? Os bancos, por exemplo, maiores beneficiários do assalto à Economia Popular via juros predatórios, não financiaram pesadamente as campanhas eleitorais e, entre uma e outra eleição, seus lobistas preferidos?

E os integrantes do judiciário, não há mais nenhum envolvido em falcatruas, além dos poucos punidos administrativamente pelo CNJ com aposentadoria? E as grandes empresas comerciais e as grandes indústrias, dos diversos segmentos – todas elas conseguiram crescer mantendo-se distantes do sistema político que lhes favorece???

Por último, as megaempresas de insumos do “agronegócio” e grandes agroindústrias, nacionais e multinacionais, não há umas 100 delas que bancaram a bancada ruralista, de preferência pela via informal do “caixa dois”? (Ou os representantes da aristocracia rural se elegeram às próprias custas?)

As manobras diversionistas da Propaganda realizada pela Mídia, em parceria íntima com integrantes do judiciário, PF, e integrantes de alguns partidos de direita, não conseguem esconder esse óbvio: faltam centenas de grandes empresas na devassa nacional anunciada!

Quando a presidenta Dilma Roussef afirmou que não ficaria “pedra sobre pedra” no combate à corrupção, talvez ela não estivesse se referindo à apropriação de dinheiro público via “salários” da magistratura, o maior deboche com quem trabalha no serviço público – enquanto dezenas de milhares recebem seus salários parcelados, no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, algumas centenas não apenas continuam recebendo em dia, como seus “salários” e pensões alcançam inacreditáveis R$50 mil a R$150 mil.

A remoção das pedras deverá escancarar o que consegue o lobby dos representantes das empresas não-citadas: renúncia fiscal, transformada legalmente em “incentivos fiscais”. Na maioria dos casos, também apropriação legalizada de dinheiro público. Durante a ditadura militar, centenas de grandes empresas foram beneficiadas dessa forma, para “desenvolver” a Amazônia, o Centro-Oeste e o Nordeste. A maioria não se deu ao trabalho de realmente efetuar os investimentos aprovados, limitando-se a embolsar o Imposto de Renda que haviam deixado de serem obrigadas a pagar. Nos governos civis, essa lógica continuou, via empréstimos não-pagos de usineiros, incentivos para grandes fazendas de soja em “regiões de fronteira agrícola” e outras criativas formas de transferência de dinheiro público de maneira legalizada para grandes empresas de todos os setores.

O montante de dinheiro que o Estado deixa de arrecadar, com esses incentivos para grandes empresas, pode ser avaliado pelo valor que a Ford teve que devolver para o Rio Grande do Sul, por decisão judicial: R$216 milhões. Esse dinheiro voltou aos cofres públicos graças à firmeza do governo Olívio Dutra, do PT.

A coisa funciona tão bem, que nenhum dos “especialistas” entrevistados pelas TVs toca no pagamento dos R$500 bilhões de juros da Dívida Pública, no caso do governo federal, e da renúncia fiscal e sonegação, no caso dos governos estaduais.

Uma única operação judicial-policial-midiática, essencialmente contra duas grandes empresas, comprovadamente está quebrando a Economia nacional. Será por isso que estão preservando as outras grandes empresas que financiam o sistema político? E as milhares de médias empresas, financiadoras das campanhas para prefeito e vereador, das 650 cidades com mais de 50 mil habitantes, que lhes possibilita a compra massiva de votos? – Elas estão preservadas para garantirem vitória da Direita, na eventualidade das Diretas Já e da Reforma Política?

Milton Pomar – geógrafo, “campanheiro” aposentado.

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