Milton Pomar: Não nos intimidarão

Em artigo, petista fala sobre tentativas de desanimar a militância do PT e afastar simpatizantes

Durante a campanha eleitoral de 1996, passamos por uma situação inacreditável, em uma cidade do interior de Santa Catarina: o principal adversário, em sua propaganda de rádio e televisão no início de setembro, apresentou várias entrevistas com mulheres, nas quais elas respondiam o que fariam, se alguém tivesse matado o seu filho. Era evidente que algo muito sórdido estava sendo preparado, só não tínhamos a menor ideia do que poderia ser. Conversando na coordenação da campanha sobre o clima de terrorismo que estava sendo criado na cidade, o nosso candidato revelou que poderia ter a ver com um acidente de trânsito ocorrido com ele há 17 anos, mas do qual fora julgado e inocentado. Por isso, nunca imaginou que pudessem utilizar o episódio na campanha.

Fomos então buscar a sentença no Fórum, e descobrimos que o processo havia sido retirado “em carga” por um advogado ligado aos adversários, há alguns dias, e que ele havia saído da cidade, sem destino conhecido. Traduzindo, não havia como provar a inocência de nosso candidato. E pior, estavam divulgando acusações contra o nosso candidato, extraídas do boletim de ocorrência.

Colocados “contra a parede” pelos adversários daquela forma criminosa, a disposição da maioria dos integrantes da coordenação era “partir para o pau”. Felizmente, a equipe de propaganda ganhou crédito de confiança de algumas horas, para produzir alternativa criativa para resolver a situação, e naquela mesma noite gravamos os programas de rádio e TV com o candidato falando do tal episódio ocorrido com ele, de maneira tranquila e firme, ainda que muito emocionado. Assim, nos antecipamos ao que estava sendo preparado pelos adversários para os dias seguintes. E ganhamos as eleições.

Esse fato, e muitos outros semelhantes, ao longo da trajetória da construção do PT em todo o país, revelam a nossa disposição e capacidade de não nos deixar intimidar frente a posturas criminosas de adversários políticos. A técnica de denunciar na mídia para criar fato político de grande repercussão, obrigando os acusados a perderem tempo se explicando, para provarem que são inocentes, tem sido bem-sucedida contra nós.

Seguidas denúncias divulgadas de maneira impactante visam desanimar a militância do PT e afastar simpatizantes. Por isso, alguns estão na lógica de “defender o PT” e reagir aos fatos criados, ao invés de agir criando fatos – quem tem que se explicar para o povo são nossos adversários, cuja política econômica causou elevado desemprego e aumento da pobreza, no final dos anos 1990; que compraram votos para aprovar a reeleição; privatizaram estatais; remeteram R$50 bilhões para o Exterior via Banestado; utilizaram recursos públicos em suas campanhas eleitorais em Minas Gerais, São Paulo, Paraná…; e outras ações, ainda desconhecidas do grande público, a maioria crimes já prescritos.

Todos eles – todos – utilizam caixa dois nas eleições. Todos eles, de maneira direta ou indireta, compram votos para se eleger. E a grande maioria está até o pescoço em mil e uma formas variadas de corrupção. O sistema político brasileiro foi construído com a compra e venda de votos, e continua assim, essencialmente corrupto. Por isso, quando nossos adversários, novos e antigos, bradam contra a corrupção, apresentam verdadeiro “show” de hipocrisia, geral e absoluta.

O que está em jogo no Brasil hoje não é o combate à corrupção. São os salários e os empregos, dos trabalhadores e trabalhadoras, e os lucros abusivos dos banqueiros e outros capitalistas que vivem de juros, dos empresários do agronegócio e de outros setores da economia, e dos latifundiários urbanos e rurais. A ganância dos capitalistas por mais lucros leva-os a investir na atual disputa política para aumentar o desemprego, visando manter ou até baixar os salários atuais – segundo o Dieese, o salário mínimo deveria ser 4,3 vezes maior do que os atuais R$880,00 –, e para manter as taxas de juros reais mais altas do mundo.

Querem também continuar predando a economia nacional e as finanças públicas, porque isso lhes garante R$500 bilhões anuais de juros da dívida pública, e as maiores taxas de lucro do mundo, de bancos, cartões de crédito, e outras formas de agiotagem legalizada. Endividaram a maior parte da população, quebram empresas, e inviabilizaram a grande maioria dos governos municipais e estaduais, o que caracteriza crime continuado contra a Economia Popular, previsto na legislação brasileira.

Estão em jogo ainda muito mais riquezas do Brasil, a começar pelo petróleo do Pré-Sal, patrimônio nacional estimado em 80 trilhões de dólares, e outros minerais – para os quais fará muita diferença o novo Marco Regulatório da Mineração, que eleva a cobrança de royalties das mineradoras.

Da enorme confusão que vivemos hoje, verdadeiro “Festival de besteiras que assola o país”, criada e alimentada pelos capitalistas e seus representantes políticos derrotados em 2002, 2006, 2010 e 2014, uma coisa é certa: não nos intimidarão.

Milton Pomar é “campanheiro” petista há 30 anos, geógrafo, e mestrando em Estado e Políticas Públicas pela Fundação Perseu Abramo

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