Na ‘Folha’, Gleisi defende Lula e convoca luta democrática

Em entrevista, a presidenta do PT acusa processo de ruptura constitucional na tentativa de impedir candidatura de Lula e avisa: ‘Faremos muitos protestos’

Sergio Silva/Agência PT

Gleisi Hoffmann em ato no DCE da UFRGS em Porto Alegre

Em entrevista publicada no domingo (28), no portal do jornal ‘Folha de S.Paulo’, a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann comentou o caso do ex-presidente Lula, condenado sem provas em segunda instância pelo TRF-4, no que se trata de uma sentença eminentemente política.

“Essa sentença do TRF-4 é política, sem prova e sem crime, e está sendo utilizada fartamente para tentar desestabilizar a candidatura do Lula. Ou seja, há um movimento para que não se tenha uma candidatura do campo progressista e popular com viabilidade nas eleições. Para que elas fiquem dentro de um mesmo grupo programático”, afirmou.

Dizendo nunca ter se iludido quanto ao TRF-4, a senadora acusa os desembargadores de terem combinado votos por uma questão corporativa. “Como se justifica que você tem um líder popular da dimensão do Lula, que fez o que fez pelo Brasil, condenado injustamente e preso? Há reação sobre isso. E ela não é só da militância do PT. É uma reação nacional e internacional também”, disse.

Leia a seguir os principais pontos da entrevista concedida à colunista Mônica Bergamo:

A condenação sem provas contra Lula

Nós ainda temos recursos judiciais para apresentar tanto ao STJ [Superior Tribunal de Justiça] quanto ao STF [Supremo Tribunal Federal]. Não acredito que a corte suprema vá deixar acontecer uma barbaridade dessas. Seria uma violência não só contra o Lula, mas contra a democracia e o povo brasileiro, pela representatividade que ele tem no país.

Mas o argumento da representatividade não pode justificar que ele não seja preso, se a lei prevê essa possibilidade. Nós entendemos que a sentença do TRF-4 [Tribunal Regional Federal da 4ª Região] é eminentemente política. Não há provas [contra Lula]. Evidências não podem condenar ninguém. O STF vai recolocar as coisas nos eixos. Nós avaliamos que o tribunal não permitirá essa violência.

Esse processo dá margem a todos os recursos possíveis e imagináveis. Ele tem problemas de conteúdo, de uma condenação sem prova e sem crime, e problemas formais que podem gerar nulidade.”

Nós entendemos que a sentença do TRF-4 é eminentemente política. Não há provas.

“Eles aumentaram a pena. Quiseram mostrar que quem manda são eles, o andar de cima – ainda que esse mandar rompa totalmente com o pacto constitucional de 1988, que considerava o voto popular a coisa mais importante da democracia brasileira.”

Sentença eminentemente política

“Essa sentença do TRF-4 é política, sem prova e sem crime, e está sendo utilizada fartamente para tentar desestabilizar a candidatura do Lula. Ou seja, há um movimento para que não se tenha uma candidatura do campo progressista e popular com viabilidade nas eleições. Para que elas fiquem dentro de um mesmo grupo programático.

Só mudam as carinhas a serem apresentadas à população. Mas os programas, as diretrizes, vão ser os mesmos, com todo mundo comprometido com o mercado, com o poder estabelecido, com a retirada dos direitos, com a entrega da soberania do país.”

A capacidade da classe dominante de ser contra o seu povo, de rasgar as regras e de reestabelecer modos operantes de poder que a favoreçam é impressionante.

Nós subestimamos a capacidade da elite de fazer um golpe por vias institucionais e pelo afrontamento às regras. Nos iludimos. Acreditamos numa classe dominante atrasada, escravocrata e que não tem projeto de nação.

A capacidade da classe dominante de ser contra o seu povo, de rasgar as regras e de reestabelecer modos operantes de poder que a favoreçam é impressionante.

E era o único jeito que ela tinha de desalojar um governo progressista e popular. Tentavam ganhar havia quatro eleições. E mesmo agora, no golpe, vão perder.”

*

“Nós não a respeitamos porque ela é injusta. Não respeitamos no sentido de usar todos os recursos e instrumentos que temos para derrubá-la. E conscientizar o povo de que foi uma decisão política. E sob os holofotes.

É um absurdo o TRF-4 ter gasto R$ 14 milhões em publicidade e comunicação em 2017. Nosso pessoal do jurídico já estuda medidas. O doutor Thompson Flores [presidente do TRF-4] tem que explicar onde gastou esse dinheiro.

Pela primeira vez o tribunal fez uma transmissão ao vivo de um julgamento. Para quê? Para ficar lendo relatório dizendo que tinham provas mesmo sem ter? Tentando convencer? Ou seja, tinha um direcionamento de convencimento da opinião pública. Juiz não tem que convencer o público. Tem que se pautar pela lei. Fizeram uma disputa política. Está absolutamente errado. Eles são suspeitos de terem dado essa sentença.”

Fizeram uma disputa política. Está absolutamente errado. Eles são suspeitos de terem dado essa sentença.

“Eles combinaram o voto sim. E mais: combinaram por uma questão corporativa, de autodefesa, de não abrir nenhum flanco de ataque, entre aspas, ao Judiciário. ‘Vamos enfrentar mesmo que seja ilegal a nossa decisão.’ Muito ruim. Muito ruim.

Mas eu nunca me iludi com o TRF-4. Eu já esperava, pelo comportamento do Thompson. Como um juiz pode se pronunciar fora dos autos num processo que o tribunal dele ia avaliar [o magistrado deu entrevistas elogiando a sentença do juiz Sergio Moro que condenava Lula]?

A secretária dele fez campanha pela prisão do Lula. E ele disse que era o exercício de cidadania. Em qualquer país sério do mundo esse juiz seria afastado.

É infame juiz ficar dando declaração. Se quer aparecer na imprensa, participar do debate político, venha para a política. É uma boa arena. Mas vai ter que aprender a apanhar. Porque ficar resguardado pela toga é muito fácil.

Espero que as instâncias superiores corrijam tudo isso porque vai ficar muito feio para o Brasil. Aliás, já vemos, no mundo, críticas ao TRF-4.”

É infame juiz ficar dando declaração. Se quer aparecer na imprensa, participar do debate político, venha para a política. É uma boa arena. Mas vai ter que aprender a apanhar. Porque ficar resguardado pela toga é muito fácil.

Nós não estamos trabalhando com a hipótese da prisão. Achamos que ela é a mais violenta possível. [Se ela ocorrer] Teremos um período de grande instabilidade (…) das instituições. Como se justifica que você tem um líder popular da dimensão do Lula, que fez o que fez pelo Brasil, condenado injustamente e preso? Há reação sobre isso. E ela não é só da militância do PT. É uma reação nacional e internacional também.”

Lula é o candidato do PT

“Em qualquer circunstância Lula é a nossa liderança e o nosso candidato.”

*

“Primeiro é importante dizer que a candidatura do Lula não se define no âmbito da Justiça criminal e sim da Justiça Eleitoral. E essa discussão se dará a partir de 15 de agosto. Até lá vamos trabalhar com o Lula pré-candidato. E já temos uma agenda de caravanas e seminários para debater plano de governo. Lula continuará conversando com o povo brasileiro. Já houve vários casos de candidatos com sentença que continuaram até o final [das campanhas], se elegeram e foram empossados.”

*

(Dirigindo-se à repórter) Você quer essa manchete: ‘Lula é candidato mesmo preso’. Eu não gosto de trabalhar com hipóteses porque tudo pode acontecer. Ele pode não ser [preso]. Eu sei que estão trabalhando e querem que ele seja [preso] porque, para quem tem o poder, não basta vencer o adversário. Tem que constranger e humilhar.”

Em qualquer circunstância Lula é a nossa liderança e o nosso candidato.

“Isso (cogitar nomes para substituir Lula em caso de impedimento) quem coloca são vocês, da mídia. Dentro do PT não existe nenhuma discussão sobre isso, posso te assegurar. Lula é o nosso candidato.”

Ausência de provas e viés político

“Não se concretizou a propriedade do imóvel para Lula, que seria o benefício que ele teria por ter dado benefícios para a construtora na Petrobras. Então, que prova é essa? O fato só de ele ter ido [no apartamento], de ter tido uma opção de compra?”

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“Isso que fizeram do passaporte do Lula [que foi retido, impossibilitando que ele viajasse ao exterior] é injustificável. O juiz [Ricardo Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal] que fez isso é um desqualificado. Responde até a processo movido pelo Ministério Público. E se mete num caso que não tem nada a ver com ele para ganhar cinco minutos de fama.”

Lula está condenado injustamente. Não tem assessor do Lula correndo com mala de dinheiro nas ruas [referindo-se ao ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures]. O Lula não foi flagrado em gravação pedindo para manter esquema, como o Temer [gravado por Joesley Batista, da JBS]. Querem impedir o Lula e deixar Aécio Neves disputar, Temer disputar…

“É ridículo. O Lula é brasileiro, jamais fugiu à luta ou de qualquer enfrentamento. Aí proíbe o Lula de viajar, de ir para a Etiópia discutir a fome, mostrar o que fez no Brasil. Agora, ao [Michel] Temer é permitido ir à Suíça se encontrar com os ricos e banqueiros. (Ele não está condenado, intervém a repórter.) Não está condenado injustamente. E o Lula está condenado injustamente. Não tem assessor do Lula correndo com mala de dinheiro nas ruas [referindo-se ao ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures]. O Lula não foi flagrado em gravação pedindo para manter esquema, como o Temer [gravado por Joesley Batista, da JBS]. Querem impedir o Lula e deixar Aécio Neves disputar, Temer disputar…”

Necessidade de enfrentamento e participação popular

“Quando eu digo que vamos apostar nas instâncias superiores, eu quero crer que ainda há possibilidade de resgatar pelo menos esse pacto vigente de uma democracia de baixa efetividade. Pelo menos. Agora, independentemente disso, vamos estar mobilizados, todos os dias fazendo manifestações.”

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“Lula tem 40% nas pesquisas e querem impedir que as pessoas manifestem o seu voto. Estamos num processo de ruptura constitucional. Temos que ter um enfrentamento.”

Então a gente não tem o direito nem de levantar a voz para protestar? Mas nós vamos levantar. E vamos fazer muito protesto.

“Eu fiquei abismada porque esse país aceita tantas verborragias de violência, como as do [Jair] Bolsonaro, as do juiz [Marcelo] Bretas, do Rio. O [reitor catarinense Luiz Carlos] Cancellier se suicidou. Não vi nenhum desses analistas de jornais que quase me trucidaram falar nada. É engraçado, né? A eles, tudo é permitido. A nós, nada. Então a gente não tem o direito nem de levantar a voz para protestar? Mas nós vamos levantar. E vamos fazer muito protesto.”

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da “Folha de S.Paulo”

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