“Nós vamos manter a candidatura do Lula até o fim” diz Padilha

Ex-ministro ainda atacou a direita brasileira fragmentada após o golpe, defendeu uma aliança de centro-esquerda e falou sobre projeto de nação

Paulo Pinto/Agência PT

Alexandre Padilha: “Parece que a sangria para vender, que é uma prática e uma postura do ministro Guedes e Bolsonaro, ultrapassa a autonomia dos municípios e ultrapassa qualquer conhecimento em relação ao SUS”

O vice-presidente do PT e ex-ministro Alexandre Padilha afirmou que o partido irá defender a candidatura de Lula à presidência da República até o fim em entrevista ao site Huffington Post Brasil, publicada nesta quarta-feira (7).

“Nós vamos manter a candidatura do Lula até o fim. A gente não admite essa sentença com a inocência dele”, afirmou Padilha, reforçando que o voto em Lula está bem consolidado, apesar de “toda a pancadaria” que o ex-presidente sofre da mídia.

Ele também ressaltou que apesar do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, a direita está fragmentada no Brasil. “Quem fez o golpe no País não conseguiu construir lideranças que mantenham as políticas do golpe. A única liderança que semearam e nasceu da intolerância é o [deputado federal Jair] Bolsonaro. Vão ter que se resolver entre eles”, afirmou.

Ele lembrou que candidatos como Geraldo Alckmin tem pouco a mostrar e muito a esconder, “com os cartéis de trem, das concessões rodoviárias, de todos os escândalos agora da merenda escolar”. Sobre o governador de São Paulo, ele ainda afirmou que “é uma figura que não tem projeto para o Brasil, o Brasil não é o estado de São Paulo”.

Padilha reforçou a violência de um potencial impedimento de candidatura de Lula, pois isso representa um ataque ao direito de voto de parcela expressiva da população brasileira.

“Se quiserem inviabilizar a candidatura do Lula, vão pagar o preço disso. Vamos fazer um debate muito intenso com a sociedade brasileira sobre a violência que querem cometer de impedir que o Lula participe das eleições. Para nós, está muito claro. O Lula não participar é tirar o povo do jogo, é permitir que o povo não jogue as eleições.”

Para 2018, Padilha também destacou a necessidade de uma ampla aliança de centro-esquerda e a necessidade de se eleger uma base sólida para o Congresso.

“Em 2002 chegamos a cerca de 90 deputados e nós queremos daí para mais, para atingir a maior bancada e para isso todo esforço de conversar com companheiros e companheiras que já foram candidatos a cargos majoritários, já tiveram outras posições, foram candidatos a governadores, senadores em outras situações poderem ser candidatos a deputados federais para ampliar essa bancada do partido”.

Leia a íntegra da entrevista

O ministro Gilmar Mendes, que presidiu o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afirmou que se há uma certeza é de que um político condenado em segunda instância se torna ficha suja e terá candidatura barrada.

Alexandre Padilha: Quero ver eles barrarem. Nós vamos manter a candidatura do Lula até o fim. A gente não admite essa sentença com a inocência dele. Vamos manter até o fim, e eles vão ter que barrar se quiserem barrar e justificar porque estão barrando.

Vão ter que arcar com as consequências de barrar a candidatura de um homem que é inocente, por um crime que ele não cometeu, com a sentença absolutamente injusta. Mesmo se cometerem a violência de prendê-lo, ele vai ser nosso candidato. Dia 15 de agosto nós vamos registrá-lo como nosso candidato.

A expectativa é que o ex-presidente seja condenado novamente no caso do Sítio de Atibaia agora em março. Mais uma condenação não torna o processo ainda mais conflituoso?

Pode ser um conflito para o [o juiz Sérgio] Moro, para quem dá a condenação, condenando um homem sem crime cometido. Conflito para quem está fazendo isso. Para nós, está claro que há um conflito com as regras democráticas. A forma como os desembargadores do TRF-4 julgaram o Lula é absolutamente diferente da forma como eles julgaram os outros 154 processos.

A imprensa fez essa comparação. A comparação com os tempos de julgamento do Eduardo Azeredo, que teve a prescrição inclusive, e o tempo que foi para julgar o Lula em segunda instância…. É conflito para Curitiba, para quem está rasgando a Constituição, desvirtuando o processo do Código Penal.

Lula está em primeiro lugar, mas as outras candidaturas ainda não estão definidas. O PT teme que este cenário mude?

As outras candidaturas vão disputar entre elas. O voto do Lula está bem consolidado. Ter essa votação mesmo com toda pancadaria, toda perseguição que o Lula está sofrendo, mostra que é um voto muito consolidado, daí para mais.

Quando começar horário eleitoral e ele puder começar a se defender, a difundir o que ele vai fazer daqui para frente, a tendência é crescer mais ainda. Acho que as outras candidaturas disputam entre si, disputam outro nicho, o anti-Lula. Mais uma vez o fator Lula é decisivo nas eleições. As outras candidaturas passam por ele.

E como ficam as outras candidaturas da esquerdas?

Respeito todas elas, mas acho que elas não têm a musculatura que o Lula tem. No campo da centro-esquerda, respeitando as candidaturas que existem até hoje, vamos conversar muito, acho que não são candidaturas que têm a musculatura e a história que o Lula tem e a identificação com o povo brasileiro.

Acho que esse é o momento decisivo de união da centro-esquerda. O que está em jogo primeiro é impedir a continuidade do golpe. E o que pode impedir é justamente essa identificação popular que o Lula tem com uma parcela grande do povo brasileiro. As candidaturas, respeitando todas elas, não tem essa força popular, não trazem o povo para o jogo e para a disputa.

Vamos ter muito tempo para conversa ainda, teve uma unidade muito importante na defesa do direito do Lula ser candidato. Todos se manifestaram favoravelmente, mesmo que em tempos diferentes. Tem uma unidade em torno da reforma da Previdência, nós temos unidade contra a retirada dos direitos da aposentadoria pública, unidade em torno da retomada dos investimentos da saúde e educação.

Saiu um dado muito importante da redução dos investimentos em saúde e educação no país, aquilo que é a PEC do congelamento já acontecendo na prática, não só congelando, mas reduzindo os investimentos. Tem um terreno de unidade que precisamos semear cada vez mais.

No outro campo, do de quem fez um golpe, existe uma fragmentação entre eles. E acho que vai continuar fragmentado. Na verdade, quem fez o golpe no País não conseguiu construir lideranças que mantenham as políticas do golpe. A única liderança que semearam e nasceu da intolerância é o [deputado federal Jair] Bolsonaro. Vão ter que se resolver entre eles. Acho que vai ter muita disputa entre eles para ver qual deles consegue disputar com Lula.

Você disputou o governo de São Paulo com Alckmin, qual análise faz da decisão dele de querer concorrer ao Planalto?

É um governo vazio. O Alckmin tem muito pouco a mostrar para o Brasil dos 30 anos de governo do PSDB, o qual ele faz parte. Tem muito pouco a mostrar para o Brasil e muito a esconder, que é o esforço dele, com os cartéis de trem, das concessões rodoviárias, de todos os escândalos agora da merenda escolar.

Nesse tempo todo, ele tem muito pouco a mostrar. Acho que é uma figura que não tem projeto para o Brasil, o Brasil não é o estado de São Paulo. Para construir um projeto para o Brasil não pode ter o olhar só da Avenida Paulista nem do Palácio do Morumbi. Acho que esse que é o olhar limitado que ele tem sobre o País. Tem pouco a mostrar, muito a esconder, e o olhar deles para o Brasil, é um olhar limitado à Paulista e ao Morumbi.

No meio de 2016, após o impeachment, o PT tinha a meta de se unificar. Como ficou?

O PT tinha um desafio importante que era se unificar em uma estratégia única e comum para enfrentar o turbilhão que o Brasil vive. O Brasil vive um turbilhão do sistema político e tentaram transformar o PT no principal alvo desse turbilhão, embora esse turbilhão tenha atingido todos os partidos de todos os espectros, inclusive alguns com escândalos muito mais graves, mas tentavam fazer com que o PT fosse o único alvo.

Teve gente que decretou a morte do PT. Então, a primeira estratégia era se unificar em torno de uma estratégia comum para enfrentar esse turbilhão e acho que isso o PT conseguiu, se unificou em torno da candidatura do Lula, vai com ela até o final.

Se quiserem inviabilizar a candidatura do Lula, vão pagar o preço disso. Vamos fazer um debate muito intenso com a sociedade brasileira sobre a violência que querem cometer de impedir que o Lula participe das eleições. Para nós, está muito claro. O Lula não participar é tirar o povo do jogo, é permitir que o povo não jogue as eleições.

Segundo desafio era ter uma direção com uma postura mais ativa, mais presente, de conexão com a sociedade. Acho que isso a presidente Gleisi [Hoffmann, senadora pelo Paraná] está conseguindo de forma muito intensa.

Acho que tem um terceiro desafio agora que o campo da esquerda enfrenta: renovar um projeto para o País. Qual é a saída que inclua a maior parte do povo brasileiro para crise econômica, política e institucional que o País vive. O País vive uma crise econômica, da qual não saiu. O dado mais intenso para nós é a taxa de desemprego, ultrapassou 12%. A promessa de atração de investimentos, de recuperação de investimentos que o governo Temer e o PSDB fizeram não vem se consolidando.

Um dos exemplos é o cancelamento da assinatura do contrato do metrô aqui em São Paulo. Nós acreditamos que um país como o Brasil não tem chance de se desenvolver sem uma forte política de redução da desigualdade social ou regional, isso não é possível sem fortes investimentos em educação e saúde, é o contraponto do que o atual governo se propõe e o PT tem o desafio de juntar uma frente de centro-esquerda, uma frente bastante ampla que rebata esses temas também.

Queremos uma frente de centro-esquerda, uma frente ampla primeiro para recuperar o que o Temer tirou, mas também para enfrentar os temas que o País tem, como a segurança pública.

Achamos que temos o desafio de apresentar para o País uma proposta de segurança pública que não seja nem a inoperância do governo Temer e também não seja a tese do armamento do Bolsonaro, é possível fazer algo diferente a partir das experiências internacionais, das experiências bem avaliadas no País. Acho que esses são uns desafios que temos pela frente. E o PT, depois desse turbilhão, passa a ser o partido com 20% de preferência do povo brasileiro.

Mesmo no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, do PT, esses dados não estavam bons. Para isso, teria que tomar algumas medidas, provavelmente impopulares…

O PT tem propostas para isso. Para a gente poder ampliar os recursos para educação e saúde, a gente precisa recuperar os recursos do pré-sal que o governo Temer retirou. Era um aporte importante de recursos e talvez seja o principal passaporte para o futuro brasileiro a correta exploração do recurso do pré-sal e como transformar essa riqueza mineral em uma riqueza humana.

Segundo, o Brasil precisa fazer uma reforma tributária. A classe média brasileira, os trabalhadores não podem continuar pagando a maior parte dos impostos no País, é preciso cobrar mais do andar de cima.

O Brasil precisa discutir seriamente imposto sobre grandes heranças, heranças milionárias que acontecem no País onde quem ganha não contribui em nada para o estado brasileiro, a contribuição é ínfima comparada a países da Europa, comparada até mesmo com os Estados Unidos.

Um dos quesitos fundamentais para a gente poder voltar a investir em saúde e educação é reduzir os impostos em saúde e educação e ampliar os impostos e recuperar mais recursos daqueles que sonegam e contribuem menos.

É preciso rediscutir taxação sobre atividades nocivas à saúde, imposto sobre cigarro, bebidas, agrotóxicos. é possível voltar a ampliar investimentos sem cortar direitos.

Essa tese de que para ampliar investimentos têm que cortar do aposentado, do povo mais pobre, nós já provamos que é possível ampliar políticas sociais, não jogando esse peso para a maioria do povo brasileiro. Pelo contrário, tem que jogar esse peso para quem hoje retém a maior parte da riqueza deste país.

Qual a meta do partido, além do Lula?

O centro da estratégia é a eleição do Lula e a gente poder fazer a maior bancada que a gente já fez. Em 2002 chegamos a cerca de 90 deputados e nós queremos daí para mais, para atingir a maior bancada e para isso todo esforço de conversar com companheiros e companheiras que já foram candidatos a cargos majoritários, já tiveram outras posições, foram candidatos a governadores, senadores em outras situações poderem ser candidatos a deputados federais para ampliar essa bancada do partido.

Nós queremos que o Lula governe, mas queremos que ele tenha uma bancada que permita que volte a ampliar os recursos para saúde e educação, que a gente retome o pré-sal para o povo brasileiro, com exploração por parte da Petrobras, que a gente acabe com a PEC do congelamento. Para poder fazer essas mudanças é preciso uma grande bancada.

Você acha possível refazer alianças históricas?

PCdoB, PSB, acho possível. Nunca foi tão necessário a união de todas as esquerdas. É muito importante essa união para combater a tentativa do Temer de acabar com a aposentadoria pública agora, para enfrentar que a política do Temer, do Alckmin, do [presidente da Câmara dos Deputados] Rodrigo Maia (DEM-RJ) e também para garantir o direito não só do Lula, mas de todos os seus candidatos. Nunca foi tão importante essa união das esquerdas e eu aposto nela.

Da Redação da Agência PT de notícias com informações do Huffingon Post

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