Nosso partido segue insuportavelmente vivo, afirma Jefferson Lima

Em entrevista à Agência PT, o secretário de juventude do PT fala sobre as atuais pautas da juventude, da mudança geracional dentro do Partido e faz um balanço do 3º ConJPT

Foto Lula Marques/Agência PT

As atuais pautas da juventude brasileira, a mudança geracional dentro do Partido dos Trabalhadores e o balanço do 3º Congresso Nacional da juventude do PT, que aconteceu entre os dias 19 e 22 de novembro, foram os principais assuntos abordados pelo secretário nacional de juventude do Partido, Jefferson Lima, em entrevista à Agência PT.

“Nosso partido segue insuportavelmente vivo. E na juventude, temos uma juventude negra, indígena, trabalhadora, de periferia, que está atuante e com muita disposição, discutindo direitos, o município, seu estado, sua região e o Brasil”, afirmou.

O secretário fez questão de destacar o papel dos jovens petistas para enfrentar o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, aberto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB).

“Nós da Juventude do PT não vamos aceitar nenhuma tentativa de golpe e vamos manter nosso processo de mobilização com unidade dos movimentos sociais, para fazermos esse enfrentamento real e necessário. Estamos juntos aos movimentos que defendem a democracia”, garantiu.

Jefferson, reeleito no último Congresso da Juventude, também falou dos próximos passos da nova gestão da JPT e os desafios para a juventude do partido. A defesa da taxação das grandes fortunas e de uma nova política econômica também foi abordada.

Confira a entrevista:

Qual o seu balanço do 3º Congresso da Juventude do PT? De todo o processo, desde os congressos municipais?
Jefferson Lima – Fizemos o maior Congresso da história, com mais de 160 mil aptos a participar, quase 20 mil envolvidos nas etapas de base, abrangendo 1000 municípios e 26 estados da federação. Nele, o que vimos foi uma juventude mobilizada do morro ao asfalto, da terra firme aos rios amazônicos, uma juventude petista com a cara do Brasil e cheiro de povo com muitas propostas e vontade de discutir política. Nosso partido segue insuportavelmente vivo.

Na etapa nacional, tivemos mesas de debate, grupos de discussão e muita discussão programática com lideranças dos movimentos sociais e da intelectualidade, com os convidados internacionais que vem mudando a cara da América Latina. Um dos pontos altos foi o Ato de Abertura com o Presidente Lula, que participou pela primeira vez de um congresso da JPT e entusiasmou muito nossa militância. Ao contrário do que muitos pensam, não temos uma JPT cartorial, que passa o dia comentando o que sai na imprensa golpista ou mesmo na blogosfera progressista. Temos uma juventude negra, indígena, trabalhadora, de periferia, de locais onde se viaja 2, 3 dias de barco para chegar que está atuante e com muita disposição, discutindo direitos, o município, seu estado, sua região e o Brasil.

Como será essa nova gestão à frente da secretaria nacional da Juventude do PT?
JL – Será marcada por muitas lutas, como a continuidade das lutas contra o fechamento das escolas em São Paulo, pelo Fora Cunha e a agenda homofóbica, racista, machista e contra os direitos dos trabalhadores, além de tudo, golpista, do presidente da Câmara, tal como foi aprovado no 3º Congresso da JPT.

Vamos lutar também por mudanças na política econômica, mas com propostas concretas e não apenas com chavões, como nos pediu o presidente Lula na abertura do nosso Congresso. Queremos que os ricos paguem pela crise que eles mesmos criaram. O estado brasileiro precisa fechar suas contas para realizar novos investimentos, mas estes recursos têm que vir da taxação das grandes fortunas, heranças, lucro líquido dos bancos, uma tabela diferente do Imposto de Renda, que alivie a carga dos mais pobres, da nova classe trabalhadora e da classe média, taxando os que podem mais. E, claro, não vamos abrir mão de seguir lutando contra o extermínio da juventude negra, contra a redução da maioridade penal e o fim dos autos de resistência. Vamos construir muitas campanhas públicas em conjunto com os movimentos sociais, com a Frente Brasil Popular.

Queremos a aplicação do programa vitorioso nas urnas em 2014, para avançarmos no sentido das reformas populares. Aliás, estas também foram propostas aprovadas no nosso III Congresso. Tudo isso é necessário para termos uma JPT para lutar por mais transformações no Brasil e não limitada a congressos a cada dois anos.

Não podemos deixar de falar dos últimos acontecimentos desta semana, com a abertura de processo de impeachment pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) contra a presidenta Dilma Rousseff. Qual sua opinião sobre isso? E qual o papel da Juventude do PT nesse cenário?
JL – O chantagista do Eduardo Cunha cometeu mais um crime político e nós da Juventude do PT não vamos aceitar nenhuma tentativa de golpe e vamos manter nosso processo de mobilização com unidade dos movimentos sociais, para fazermos esse enfrentamento real e necessário. Estamos juntos aos movimentos que defendem a democracia. Faço um chamado a toda a nossa militância para que, com muita calma e tranquilidade, possamos montar nossa estratégia e continuar o processo de mobilização nas ruas e nas redes, pedindo o Fora Cunha e defendendo a nossa democracia e o governo da presidenta Dilma.

Voltando ao tema do Congresso da Juventude, passado esse momento, quais as ações da Juventude do PT?
JL – Já estamos nos somando às ocupações das escolas de São Paulo contra o fechamento de mais de 90 delas da rede estadual de ensino. Mesmo com a decisão do governo Alckmin de suspender as medidas, não podemos desmobilizar, pois ele ainda pretende aprovar essa “reorganização” nos próximo ano, penalizando a educação e a juventude de baixa renda, que mais precisa de acesso e de investimento neste momento de crise econômica. Passei esta última semana em São Paulo nessas mobilizações contra o neoliberalismo que governa o estado desde os anos 80, e aproveito para convidar a juventude petista de luta de todo o Brasil para se somar ao movimento.

Quais os principais desafios da JPT nesse próximo período?
JL – Mudar completamente o seu modelo de organização. Vamos organizar a JPT nos locais de estudo, trabalho e moradia, para fazer debates abertos à população, atividades permanentes de convencimento popular e jornadas solidárias e torná-la uma organização de massas, com as bases participando e elegendo suas direções, com ocupação das sedes do partido para atividades culturais e formação política e com a construção de espaços não mais para se medir maiorias e minorias internas, mas de debate político de verdade. Vamos incentivar que, no próximo Processo de Eleições Diretas do PT, a juventude ocupe não mais só as cotas nas instâncias partidárias, mas assuma a dianteira do resgate dos Diretórios Zonais, para preparar a transição geracional com mais qualidade e levar o PT de volta às bases, ampliando o diálogo que já temos muito forte com os movimentos sociais. Vamos construir uma juventude e um PT mais popular, com ações e jornadas populares e em vários momentos de solidariedade.

Você costuma falar na mudança geracional dentro do PT. O que é isso? O que isso significa?
JL – É a nova geração do partido assumindo as tarefas de condução do PT. Queremos fortalecer o partido e suas instâncias com a força social e política da juventude. Não queremos esvaziar o partido, dialogar apenas com jovens intelectuais de classe média que faz atos políticos só contra o PT e suas lideranças em dias de domingo. Queremos um partido renovado e preparado para enfrentar o golpe, a agenda conservadora e caminhar para as reformas populares. Temos novas lideranças na base do partido, nos movimentos sociais, nos governos. Vamos articular tudo isso em uma nova organização que leve adiante o sonho e o projeto dos nossos fundadores e, principalmente, faça o povo a enxergar como uma aliada da luta política diária por melhores condições de vida.

Gostemos ou não da ideia, está posto um “terceiro turno” em nosso País, fruto da ascensão conservadora e o consequente acirramento da luta de classes. Para isso, precisamos de uma Juventude do PT preparada para uma prolongada disputa de hegemonia. Por isso, chegou a hora desta nova geração de Petistas, companheiros e companheiras que são filhos e filhas dos últimos anos dos governos do PT, conduzir de fato os rumos do Partido no próximo período, reafirmando e atualizando a linha do Socialismo Petista.

O que a juventude brasileira quer hoje? Quais as principais pautas da juventude brasileira hoje?
JL – A juventude brasileira, que é produto do crescimento com inclusão social dos governos Lula e Dilma, quer uma vida melhor do que já tem, quer melhor serviços públicos e mais direitos, quer resolver os impasses da inclusão social não solucionados ainda, como é o caso do extermínio da juventude negra. Uma outra parte da juventude, a das classes mais favorecidas, quer o retrocesso, justamente contra estes avanços experimentados pela nova classe trabalhadora. Nós vamos estruturar uma organização capaz de lutar lado a lado com a primeira e contra esta segunda agenda. No meio disso, terá a disputa de valores sobre que País devemos ser. Neste caso, apontamos o sentido socialista da nossa luta, contra o horizonte neoliberal, representado pelo PSDB, Rede e estes grupos juvenis de direita como o Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua, entre outros.

Seremos, sobretudo, uma JPT contra a direita e o neoliberalismo. Vamos dizer à juventude: o futuro não é um Brasil autoritário, intolerante, violento, de desemprego, volta da fome, da dependência externa, dos valores consumistas, de ser uma nação da “segunda divisão”.

Em 13 anos de governos do PT realizamos grandes avanços. Porém, mesmo que tenhamos vivido o maior período de desenvolvimento econômico e social de nossa história, as estruturas construídas na formação do Estado e da sociedade brasileira foram e são gestadas, em seu íntimo, ainda por uma elite que não tolera a partilha de direitos e oportunidades, na mesma proporção que deflagra o sexismo, o racismo, a LGBTfobia e o preconceito de classe. Por isso, a estrutura política do país abre um novo patamar de exigências, que aponta para reformas do Estado, a qualificação dos serviços públicos e o bem-viver.

No último dia de congresso, houve um movimento de setores da juventude do PT, que se retiraram do processo. Como foi isso? Qual a repercussão desse fato para a juventude do PT?
JL – Lamentamos profundamente a decisão de alguns de desprezar os fóruns internos do partido e não participar da plenária final, ainda mais depois de terem participado das etapas municipais e estaduais, eleito secretários da JPT em cidades e estados, terem participado das mesas de debate, do ato com o presidente Lula, dos grupos de discussão, da votação da tese guia, da comissão de sistematização.

O próprio Presidente Lula, em sua fala no Ato de Abertura do Congresso, foi cirúrgico ao dizer que “É importante que vocês divirjam aqui, é importante vocês discordarem, mas vai chegar um momento que vocês vão eleger uma nova direção e um novo programa de luta, e aí não tem corrente, aí é o Partido dos Trabalhadores que vai para a rua para fazer as coisas acontecerem”.

O PT e a Juventude do PT têm uma importância reconhecida pelo povo e pela direita, não à toa tais forças políticas conseguiram repercutir suas críticas, feitas fora das instâncias e espaços da JPT, no Estadão, Globo, Folha de São Paulo e Valor Econômico. Ruim, pois o PIG só pensa no enfraquecimento do PT.

É preciso entender que ter poucas representações e divergência pontuais na política não quer dizer jogar no lixo anos de construção da Juventude do PT. Não acredito num “petismo” que está fora do PT e que não deve ser chamado para militar e se filiar ao PT. Esse é o momento de fortalecer nosso maior projeto que é o Partido dos Trabalhadores.

Porém, é com grande alegria que afirmamos que o 3º ConJPT consolidou uma ampla aliança de forças no partido, que consideram que o PT deve ser defendido e fortalecido para enfrentar os novos desafios. É o que chamamos de campo Nacional, Popular e Democrático, onde cabem todos que creem que a luta pela justiça social, soberania política, independência econômica e pela Pátria Grande devem ter um partido como o PT cada vez mais firme, preparado e organizado para sair vitoriosa. Nós acreditamos nisso.

Você fala da importância da unidade na JPT e no PT para disputar as ideias na sociedade. Com esse movimento que houve no Congresso, em que forças se retiraram dos processos, como fica essa unidade? A Juventude do PT perde força?
JL – Quando falo em unidade da JPT falo da unidade construída na política dentro das instâncias e espaços da JPT e do partido. Neste caso, há, como disse acima, uma grande unidade construída. Movimentos divisionistas, na história do partido, sempre acabam fragilizando os divisionistas. Nossa mão está estendida, mas não vamos deixar de trabalhar para tornar realidade cada resolução deste Congresso e estar à altura dos desafios da conjuntura, do que espera a juventude brasileira do PT e do que fizeram nossos fundadores para chegarmos até aqui.

Não é todo dia que um país constrói um partido como o PT e uma liderança como Lula. Eles não são produtos somente de livros e teses, mas da luta de classes no Brasil. E nós vamos valorizar muito isso.

Faremos tudo possível para fortalecer a relação com todas as forças políticas do PT. Fizemos esse durante todo congresso nacional e faremos isso na próxima gestão, com objetivo de potencializar o que há de maior que é o PT. O nosso partido e a disputa da sociedade vai ser maior do que qualquer disputa natural na política partidária. Estamos nesse projeto para disputar os corações e mentes do povo brasileiro e é nesse ritmo que iremos dialogar e construir com todos e todas.

Da Redação da Agência PT de Notícias

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast