Para Celso Amorim, Sérgio Moro persegue líderes progressistas

Ex-chanceler brasileiro fala a jornal argentino que, se LuLa for impedido de ser candidato, haverá consequências negativas para toda a América Latina

Impedir Lula de ser candidato à Presidência da República no Brasil é uma forma de agressão à democracia não só no país, mas em toda a América Latina, gerando graves consequências para o continente. A afirmação é do ex-chanceler Celso Amorim, proferida em entrevista ao jornal Página 12, da Argentina.

“Se o Tribunal Regional Federal 4 (TRF-4) levar Lula para fora da disputa, o Brasil enviará outro sinal negativo. O Brasil tem um peso indubitável em repercussões, para o bem ou o mal, nos países vizinhos”, disse Amorim. “Eu não quero fazer simplificações, mas acho que o juiz Sérgio Moro e outros magistrados estão usando suas posições para perseguir líderes progressistas, eu entendo que isso também acontece na Argentina”, observou Amorim.

O ex-chanceler ressalta que “o procurador encarregado do caso Lava Jato, Deltan Dallagnol, sem provas, acusou Lula com base em “convicções”. Juristas ao redor do mundo estão entendendo que esse processo está atormentado pela arbitrariedade, que foi instrumentado para evitar que as pessoas escolhessem livremente seu presidente nas eleições de outubro. Veja, abaixo, os principais pontos da entrevista de Amorim ao jornal argentino.

Página 12: Lula é culpado ou inocente para a opinião pública internacional?

Celso Amorim: Eu acho que muitas pessoas bem informadas em todo o mundo estão perplexas com o que acontece no Brasil, eles percebem que as acusações contra Lula são muito frágeis. Que o procurador encarregado do caso Lava Jato, o Dr. Deltan Dallagnol, sem provas, acusou Lula com base em “convicções”. Mais tarde, o juiz Moro elaborou uma frase igualmente frágil do ponto de vista jurídico, uma vez que admite falta de provas relacionadas com Lula com a compra do apartamento que seria produto de uma manobra fraudulenta. No resto do mundo, eles estão entendendo que esse processo está atormentado pela arbitrariedade, que foi instrumentalizado para evitar que as pessoas escolham livremente seu presidente nas eleições de outubro. O que está em jogo é a democracia. No Brasil, o golpe militar clássico dos anos 60 foi substituído por um golpe de midiático-judicial.

É possível que a pressão internacional influencie o tribunal instalado em Porto Alegre?

Eu não poderia dar uma resposta, isso seria especulativo demais. O que eu acredito é que eles terão aprendido sobre o apoio que o manifesto “Eleições sem Lula são uma fraude”. Quando o lançamos, esperava coletar quatro mil e cinco mil assinaturas e, de repente, vejo que isso explode com uma adesão impressionante que vem de uma centena de países, já alcançamos cerca de 180 mil apoiadores, incluindo ex-presidentes Cristina Kirchner, José Mujica, Rafael Correa e Ernesto Samper. Existe o vencedor do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o linguista norte-americano Noam Chomsky, o italiano Massimo D’Alema, figura emblemática da esquerda democrática. A batalha do momento é a batalha pela democracia, e isso também foi visto por outros possíveis candidatos presidenciais no Brasil, potenciais opositores de Lula, como Manuela D’Avila (PC do B), que assinou a petição.

Fora do Brasil, o país que deu mais apoio foi a Argentina, que já nos forneceu quase 17 mil assinaturas, e esperamos que elas continuem a chegar, é um manifesto aberto a todos os cidadãos.

O ano político começa em duas semanas, com o julgamento no TRF-4, e culmina nas eleições de outubro. Se Lula conseguir ser candidato e vencer, quais seria as consequências para a região?

Seria uma mudança geopolítica que trará grandes consequências. Há muitas coincidências no que acontece em vários países da região, onde parece que o poder econômico está agindo em conjunto com grupos de inteligência, juntamente com o poder dos juízes e da mídia. O contágio da onda progressista pode ser semelhante ao ocorrido na década de 80, quando a Argentina recuperou a democracia e isso teve impacto na transição do Brasil. Se Lula retornar, isso pode ser benéfico para a Argentina, onde quero expressar minha solidariedade com a presidente Cristina, que também é vítima de uma série de assédios.

Da Redação da Agência PT de Notícias com Pagina12.com.ar

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