Patrick Campos Araújo: JPT – o caminho da virada política

Podemos ter discordância sobre os motivos: quais deles se deveram às circunstâncias e quais vieram de nossas escolhas, erros e acertos. Mas devemos concordar: chegamos ao limite, a uma encruzilhada.…

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Podemos ter discordância sobre os motivos: quais deles se deveram às circunstâncias e quais vieram de nossas escolhas, erros e acertos. Mas devemos concordar: chegamos ao limite, a uma encruzilhada. Aos 35 anos, o PT encontra-se envelhecido. Agora precisa decidir se será um Partido com um grande passado pela frente, ou um Partido que, conhecendo sua história, mudará o presente e seguirá transformando o futuro.

Verdade seja dita: o Partido dos Trabalhadores vive uma profunda crise, a maior de sua história. Uma crise que se não for superada significará a derrota daqueles setores que se alinham com um projeto de sociedade democrática, justa e socialista. É preciso reconhecer a gravidade da hora.

Por compreender a importância histórica do momento que vivemos, enxergamos a realização do III Congresso da Juventude do PT como mais uma oportunidade de fazermos o conjunto do Partido mudar de rumos e reagir, ao invés de insistir em um caminho que a realidade demonstra estar nos levando a uma duríssima derrota, como ocorreu no nosso 5º Congresso.

A JPT tem a chance de fazer girar algumas engrenagens que parecem ter caído em desuso no partido. Pois estamos falando da juventude, aquele setor que vive na pele as contradições do ajuste fiscal, que enfrenta cotidianamente a intensidade da exploração do trabalho, todas as formas de opressão pelo machismo, racismo, LGBTfobia e a morte decorrente destas e do estado policial que se estabeleceu principalmente nas periferias urbanas.

Somos nós, que já estamos de saco cheio dessa conversa fiada de que é preciso ter calma e paciência, para que o Partido apoie e aguarde os resultados de um ajuste fiscal recessivo que penaliza os trabalhadores e nos afasta de nossa base social, enquanto se mantem o aumento da taxa de juros.

Certamente, não queremos que nosso Partido siga por esse caminho. Mas para que a juventude do PT possa ser uma das forças da contra-mola que resiste, também precisará mudar. E é reafirmando que é preciso mais mudanças e mais futuro, como tanto foi dito, que apresentamos algumas opiniões sobre o III Congresso da JPT.

É preciso mudar a estratégia

Vivemos tempos de mudanças. A direita quer fazer esta mudança através de métodos antidemocráticos: quebra da legalidade, repressão aos movimentos, redução da participação democrática, judicialização da política etc. A esquerda quer mudança através de métodos democráticos: mobilização social, participação popular, Assembleia Constituinte com plebiscito etc.

A JPT pode ser protagonista ou coadjuvante destas mudanças: depende das escolhas que fizer. Em nossa opinião, se a maioria do PT optar por manter seu atual caminho, não será sequer coadjuvante, mas mera espectadora de um processo que nos conduz a derrota.

Como queremos impedir esta derrota, afirmamos que a juventude petista precisa disputar os rumos do Partido. Portanto, o III Congresso deve apontar para um debate sobre a estratégia do PT, sobre o programa democrático-popular e a atualidade histórica do socialismo. Fazer este debate de fundo, envolvendo todos os setores do Partido deveria ter sido o papel do 5º Congresso. Como não foi, a JPT precisa avocar a discussão e colocá-la na ordem do dia, partindo do pressuposto básico: é preciso mudar a estratégia.

Mudar a atual estratégia passa por questões como:
– Um balanço de conjunto do partido sobre o que nos conduziu até a atual situação;
– Uma profunda autocrítica sobre nossos erros (na relação com a mídia, com o grande capital, com o PMDB, na condução do governo e da dita governabilidade);
– A mudança da política econômica do governo;
– A construção de uma frente democrática e popular que junto ao PT dê sustentação real à democracia, às reformas estruturais e que seja capaz de enfrentar a ofensiva conservadora e o golpismo da direita.

Para tanto precisamos dar nome aos inimigos e trata-los enquanto tal. O PMDB, em todas as suas expressões, não pode ser considerado aliado ou balizador de governabilidade. São sabotadores que agem contra os trabalhadores, contra o governo e articulam a deposição da presidenta Dilma e a derrota política e moral do PT.

Em condição semelhante age o representante do grande capital a frente do Ministério da Fazenda. A política econômica de Joaquim Levy não nos serve. Significa tudo aquilo que foi combatido e que permitiu a identificação e reaproximação de muitos setores da classe trabalhadora com nosso programa no segundo turno das eleições presidenciais.

Por isto tudo, o governo deve dar um “cavalo de pau” na política econômica e recompor o ministério, começando pela demissão de Joaquim Levy. Ao mesmo tempo, o governo deve reconhecer que não possui maioria congressual e atuar em conformidade com isto, reafirmando o presidencialismo e construindo outro tipo de governabilidade.

E é nesse processo que a Juventude do PT precisa contribuir decisivamente. Primeiro no convencimento do conjunto do partido de que estas questões estão na ordem do dia e devem ser encaradas como parte da solução para enxergarmos uma saída da crise política. Segundo, organizando a juventude trabalhadora para os tempos de maior acirramento dos enfrentamentos com os setores que resistiram a qualquer mudança. E terceiro, conseguindo reaproximar o PT do setor que hoje é o alvo principal da onda conservadora: a juventude trabalhadora.

Certamente, conseguir fazer estes debates tomarem corpo ao longo das próximas semanas e dos próximos meses será uma grande tarefa. Para poder cumpri-la, a JPT precisará ir muito além do que foi na atual gestão, ou seja, ser muito menos tímida, menos conivente, imobilista e comportada. Uma JPT preocupada em dialogar e conquistar o respeito da juventude trabalhadora, de sua base social, dos movimentos sociais e da militância de esquerda, não de seus dirigentes e parlamentares. Nada podemos esperar de quem fiou esta posição. Ousaremos, transgrediremos o status quo e buscaremos construir as bases para um congresso e uma juventude do PT como desejamos: socialista, democrática, militante e de massas.

Atualizar o modelo

Precisamos de uma JPT diferente da atual. Que tenha verdadeira autonomia política com capacidade de organizar e trazer para as mobilizações e lutas populares os setores da juventude trabalhadora.

Para isso será preciso constituir sua própria estrutura de organização, atualizando o modelo aprovado, mas não implementado após o I Congresso. Esta discussão precisa ser retomada, pois diz respeito à própria capacidade dos jovens petistas intervirem na realidade concreta.

Pois é preciso uma JPT que não seja mera reprodução juvenil do PT, comportando-se como um PT Jovem, mas que seja uma frente de massas do Partido na juventude, que consiga formular e dar respostas capazes de influenciar a militância e a direção do Partido, os movimentos sociais populares, as organizações de esquerda e o conjunto da classe trabalhadora.

O estado da arte

Começamos afirmando que tivemos um processo de reeleição tácita após o II Congresso. Explicamos: o terceiro congresso que ocorrerá agora, de agosto a novembro de 2015, deveria ter sido realizado em 2013, mas não foi.

Aquela gestão estendeu-se até agora e irá até o fim de 2015. Ou seja, quem foi eleito em 2011 continua com suas respectivas gestões nas secretarias de juventude de nosso partido. Estamos falando de uma das gestões mais longas de uma instância de juventude na história do PT.

O impacto desta reeleição tácita foi desastroso para o conjunto da JPT por uma série de motivos. Podemos destacar alguns, como o fato da maior parte das secretarias municipais e também estaduais terem deixado de funcionar e o corte no processo de renovação de quadros e direções na juventude. Para agravar, tudo isso ocorreu em um quadro de rebaixamento político-ideológico, desacumulo teórico, descenso organizativo e desorientação tática.

Portanto, qualquer sinal que aponte para a continuidade deste processo precisa ser combatido. A tarefa desta gestão era a de consolidar um novo modelo organizativo, aprovado no primeiro Congresso e reafirmado no segundo. Conseguiu dar passos atrás, regredindo a condições que colocam a JPT de hoje próxima do antigo modelo setorial, onde tudo gira em torno da figura do secretário em detrimento das instâncias de direção coletiva e que não incide na política geral do partido e da sociedade.

E ainda pior: trata-se de uma gestão incapaz de apresentar saídas para os problemas políticos enfrentados tanto na juventude quanto no conjunto do partido. Parte dessa incapacidade reside nas avaliações feitas pelos setores que dirigem a maioria da Secretaria Nacional da JPT.

Este setor avalia, por exemplo, que o PT vive um momento de “virada geracional”. Em outras palavras, acreditam que vivemos “O momento em que o grande projeto dos nossos fundadores precisa de nós, jovens do PT, para seguir adiante”. Não acreditam que passamos por um momento que exige uma “virada política” e uma nova estratégia. Pensam que devemos seguir o mesmo caminho que nos conduziu até esta encruzilhada.

A suposta “virada geracional”, nesse sentido, ganha contornos de “renovação conservadora”, pois significa que estamos renovando para manter as coisas exatamente como estão. É o velho mais do mesmo, apenas com outra roupagem. Como já dizíamos em 2011, não basta ser jovem.

Foi exatamente esta a marca desta gestão reeleita tacitamente. A reiteração de uma política que se imaginava autossuficiente e ainda acredita que nosso problema é de narrativa, ou seja, que o problema está na maneira como falamos da realidade, não da realidade em si mesma. Uma política que menosprezava e dispensava o esforço de mobilização social e construção partidária. Talvez por isso o pouco interesse e valorização das instancias. Afinal, se o espírito que tomou conta da maioria da militância petista principalmente no segundo turno das eleições de 2014 estivesse presente também no cotidiano dos espaços internos do partido, mudanças seriam uma constante.

Nesse sentido vale destacar que uma das consequências dos erros políticos da atual gestão foi o processo de terceirização da organização da juventude trabalhadora para outros partidos e organizações políticas, por um lado, e a contribuição (pela omissão) para a perda de referência desta juventude no PT.

O resultado deste processo é o crescimento do bloqueio na relação do PT com parcelas expressivas da juventude brasileira. E aqui reside um grande perigo, principalmente para aqueles que falam em “virada geracional”: desvinculada de uma “virada política”, ela pode se consolidar, entre as novas gerações, na imagem do PT como um partido da ordem, ou seja, o representante da política tradicional, do jeito ruim e errado de fazer política.

A atual gestão ficou muito aquém do necessário na disputa ideológica da juventude para o petismo. Logo, a JPT precisa fazer também uma profunda autocritica e mudar imediatamente o rumo de sua organização e sua direção. O III Congresso da JPT sem dúvidas já chega tendo este um como de seus desafios, e mostrando para todo o partido que quem erra na avaliação, erra na ação. Nós não podemos mais errar.

Uma JPT para tempos de guerra

Para nós, este é o momento de voltar a erguer no alto aquela bandeira vermelha, sem medo de mostrar que continuamos aqui e que, sim, somos socialistas.

Se o abandono desta ideia por parte de alguns significou o envelhecimento e burocratização precoces de nosso partido, combateremos estes com exatamente aquilo que lhes falta: ousadia e coragem. A coragem de lutar pelos sonhos de toda uma classe que depositou neste Partido a sua esperança em mais futuro e mais mudança.

Enfrentaremos Cunhas, tucanos, milicos e o que mais mandarem para nos combater. E combateremos. Não somos daqueles que desejam se acostumar a ficar nas cordas esperando o adversário cansar. Somos daqueles que agem, para não precisar reagir.

Sabemos que nossa situação exige uma imediata mudança de estratégia. Esta por sua vez, passa pelo fim da fracassada e inócua política de conciliação; pela mudança na linha política e econômica do governo; e pela conformação de uma ampla frente democrática e popular.

Sabemos que nos aproximamos do desfecho do que pode ser apenas mais um capítulo ou o seu final. Por isso precisamos estar preparados. É com a determinação de fazer a “virada política” e mudar o rumo dos ventos que nos propomos a dirigir a JPT nos próximos anos e construir uma juventude petista democrática, socialista, militante e de massas.

Nenhum passo atrás! Em frente, venceremos.

Patrick Campos Araújo é candidato a secretário nacional da Juventude do PT

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