João Paulo vai barrar retrocessos no Recife, diz Marília Arraes

Neta do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes afirma que o Recife (PE) não pode mais ter uma gestão que empurra os problemas do povo com a barriga

Foto: Matheus Bernardes

Na avaliação da vereadora Marília Arraes, (PT-PE), a eleição de João Paulo (PT) para prefeito do Recife (PE) é uma necessidade não apenas para a cidade, mas também para o Brasil.

“Esse ano é um ano crucial para a política do Brasil. A gente tem que dar o recado nas urnas e eleger prefeitos de fato progressistas para que em 2018 a gente consiga barrar de vez os retrocessos do golpe”, afirmou Marília, que é candidata à reeleição, desta vez, pelo PT.

Neta do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, Marília saiu do PSB e filiou-se ao PT no início deste ano. Em entrevista à Agência PT de Notícias, a vereadora do Recife explicou o motivo.

“O PT na verdade hoje é o partido de esquerda do Brasil. E com todo esse processo de criminalização da política, é importante que a gente defenda a esquerda e hoje defender a esquerda no Brasil é defender o PT”, enfatizou.

Leia a entrevista completa com Marília Arraes.

Este ano, a senhora saiu do PSB e se filiou ao PT. O que motivou essa decisão?
Há muito tempo eu vinha discordando de alguns posicionamentos do PSB, mas a gota d’água foi o fato de eu ter participado da atual gestão da prefeitura, fui secretária, e aí eu tive contato direto com as prioridades que eles tinham, com a forma de gerir a cidade, que é totalmente elitista e diferente de qualquer coisa que a gente te fato defendia no PSB antes desse processo de guinada à direita que o PSB deu.

Então eu resolvi em 2014 romper com o partido e não apoiar os candidatos do PSB e culminou com minha ida ao PT.

O PT na verdade hoje é o partido de esquerda do Brasil, podemos chamar assim. E com todo esse processo de criminalização que a mídia promove contra a política, mas principalmente conta o PT, é importante que a gente defenda a esquerda e hoje defender a esquerda no Brasil é defender o PT.

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Marília Arraes ao lado de Lula. Foto: Matheus Bernardes

Como avalia a atual gestão da prefeitura, comandada pelo PSB?
A gestão do PSB é uma farsa, um engodo que coloca imagens bonitas das propagandas institucionais, que são verdadeiros guias eleitorais, e que na verdade esqueceu as periferias do Recife, a cidade está totalmente abandonada, não existe serviço público para o mais pobre, que é para quem de fato a prefeitura trabalha.

Faz uma média com a classe média com ações de lazer, de turismo, com ‘ações fofas’, como eu costumo dizer, mas que na verdade são inconsistentes e não fazem diferença na vida das pessoas.

É muito diferente, totalmente diferente das gestões do PT. Com o PT existia uma preocupação com a realidade das pessoas, como por exemplo as escolas públicas. Com detalhes, o quite de fardamento escolar, o material escolar, era todo pensado para as crianças que realmente precisam de uma dignidade para frequentar a escola.

Além do próprio ambiente escolar, das merendas, que para muitas crianças são as únicas refeições que elas têm durante o dia, e hoje em dia a qualidade da merenda é vergonhosa.

Então, é uma gestão elitista e preconceituosa. Porque se você for ver as ações que são feitas para a população mais carente, são projetos-piloto e servem simplesmente para beneficiar o seu entorno e não fazem diferença efetiva no total da cidade. Mas são bem úteis para se colocar na propaganda.

Por que considera que o Recife precisa voltar a ter João Paulo como prefeito?
A eleição de João Paulo é importante para o Brasil e para o Recife. Esse ano é um ano crucial para a política do Brasil. A gente tem que dar o recado nas urnas e eleger prefeitos de fato progressistas para que em 2018 a gente consiga barrar de vez os retrocessos do golpe.

E aqui no Recife é urgente que João Paulo se eleja prefeito para pararem os retrocessos que a gente teve na cidade. E o Recife é uma das cidades mais desiguais do Brasil e a gente precisa de João Paulo de volta para que a gente reconstruía a igualdade que a gente começou a construir no Recife nas gestões do PT.

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Marília Arraes entre Silvio Costa Filho e João Paulo Foto: Matheus Bernardes

Então a eleição de João Paulo é uma necessidade no Recife, no contexto atual, para evitar que sejam consolidados os retrocessos em relação aos avanços que o PT conquistou durante todos os anos de gestão.

Por exemplo, o Orçamento Participativo, no final das gestões do PT realmente precisava ser melhorado, mas a gestão atual acabou totalmente. Então a população não tem nenhum instrumento de participação.

Criaram um programa que é ‘só para Inglês ver’, que não funciona de jeito nenhum e não tem o aspecto democrático que tinha o OP. Mas as pessoas não têm como opinar, não tem como opinar pelas prioridades da cidade.

Isso é gravíssimo porque o OP já era um programa de vanguarda e que tinha significado um avanço em nossa história.

Quais outros fatores são importantes?

Outra coisa é a questão das obras de contenção das encostas nos morros. Sempre no Recife havia morrido gente. Sempre, sempre. Quando João Paulo assumiu, no primeiro ano, não morreu mais ninguém por deslizamento de barreira e durante todos os anos da gestão do PT também não morreu.

Então isso é muito simbólico. Isso mostra que basta querer, basta ter vontade política para se resolver um problema que parecia crônico na sociedade. João Paulo mostrou que quando um governo inverte as prioridades consegue melhorar a vida das pessoas e diminuir a desigualdade.

Mas esse ano voltou a morrer gente por conta de deslizamento de barreiras. E a prefeitura sempre culpando alguém, culpando a própria população, dizendo que as pessoas construíam onde não devia. Mas a prefeitura está aí para fiscalizar, para tomar conta desse tipo de problema.

A questão de habitação popular também. É uma vergonha o que foi feito no Recife. Já havia vários habitacionais iniciados ou no mínimo licitados durante a última gestão do PT, e eles foram simplesmente abandonados.

Tem um habitacional que está abandonado, mas que eles agora, recentemente, como é período eleitoral, mandaram pintar. Então está todo pintado. Você passa por fora e pensa que está pronto já, mas você vai prestar atenção, está do mesmo jeito que estava antes, mas agora está com a tinta colorida, porque pintaram um prédio de cada cor.

Habitação popular é um problema seríssimo hoje em dia aqui no Recife, principalmente por conta desse abandono. Porque quando se estava programado para entregar 600 unidades, eles entregam 40. Só para fazer lá uma inauguração e o resto vai empurrando com a barriga.

Recife não pode mais ter uma gestão que empurra os problemas do povo com a barriga.

No plano nacional, a senhora tem se colocado contra o processo de impeachment da presidenta Dilma. Qual a sua avaliação desse processo?
O acho que o mais grave de tudo isso é a reação da sociedade em relação a tudo que está acontecendo no Brasil, todas essas aberrações que estão acontecendo no Brasil.

Eu acredito que o nosso dever de agora por diante é em todas as gestões do PT, em todos os avanços que nós conseguimos, do nosso campo, reconquistas sociais, a gente conscientizar as pessoas de porque estão acontecendo essas conquistas, esses avanços. Para as pessoas saberem de onde vem isso, porque nosso governo é diferente do governo do campo que está agora no poder e porque o golpe foi dado.

Marília-Arraes-Dilma

E nisso a gente vai aos pouquinhos de novo reconstruindo nossa base e a consciência das pessoas. É isso que vai consolidar que as forças populares cheguem realmente ao poder.

Tem que resistir ao golpe, mas o processo na minha opinião já é reversível. Agora é pensar em como recomeçar e tem que recomeçar com a consciência das pessoas. Não é simplesmente: ‘ah, tá ganhando Bolsa Família’, e a pessoa não sabe nem porque, nem nesse governo tinha Bolsa Família e no outro não tinha. Tem que conscientizar as pessoas com isso.

Por exemplo, aqui no Recife, quando a gente ganhar as eleições, com os avanços que a gente reconstruir, a gente vai explicar para as pessoas porque isso está acontecendo.

Isso Miguel Arraes já fazia desde a década de 50 e 60, por exemplo, com o Movimento de Cultura Popular, que levava cultura para o povo, e ao mesmo tempo conscientizava politicamente. E foi isso que mais irritou as forças do lado de lá.

Qual a herança que seu avô Miguel Arraes deixou que considera a mais importante?
O principal ensinamento de Arraes, eu acredito que tenha sido a liberdade, tanto a liberdade no sentido da democracia, da luta pela democracia, quanto no sentido de não ser oprimido, de os mais vulneráveis da nossa sociedade não serem oprimidos pelas classes dominantes.

Toda a luta dele, quando você vai refletir, se traduz na liberdade. Então é isso que a gente tem que prezar na política. Foi essa a maior herança que ele deixou pra mim e é por isso que eu não tive medo nem receio de tomar as posições que eu tomei.

Marília Arraes ainda criança, ao lado do seu avô Miguel Arraes

Marília Arraes ainda criança, ao lado do seu avô Miguel Arraes

Por Luana Spinillo, do Recife, para a Agência PT de Notícias

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