PR: Médicos ‘fantasmas’ recebiam sem trabalhar

Médicos que deveriam prestar atendimento em hospital público abandonam trabalho para realizar consultas em estabelecimentos privados. Fraude foi descoberta com a Operação São Lucas

Médicos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão sob investigação da Polícia Federal e Controladoria Geral da União (CGU). Há denúncias de que os profissionais de saúde receberam, por anos, mas sem comparecer ao trabalho. Os salários variavam entre R$ 4 mil e R$ 20 mil.

Dez médicos concursados serão indiciados pelos crimes de estelionato qualificado, falsidade ideológica, prevaricação e abandono da função pública. Para identificar os “fantasmas”, os órgãos deflagraram, na última quinta-feira (21), a Operação São Lucas, que faz referência ao santo padroeiro dos médicos.

Foram cumpridos mandados de busca e apreensão no hospital e servidores foram interrogados na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. A investigação está em curso e por isso a PF não divulgou os nomes dos indiciados nesta fase.

No entanto, a corporação informou que são médicos renomados na cidade e inclusive um dele é dono de um grande hospital privado de Curitiba. Segundo as investigações, os envolvidos tinham entre 5 e 25 anos de contrato com o HC.

Há suspeitas de que médicos apenas batiam o ponto, mas atendiam em consultórios ou clínicas privadas nos horários em que deveriam estar atendendo no HC. Em alguns casos, os especialistas ficaram quase um ano sem aparecer no hospital.

De acordo com auditoria feita, o registro de acesso na catraca do hospital não corresponde com a folha de ponto dos médicos. A polícia fez um cruzamento de dados e foi possível identificar a fraude pelo Sistema de Informação Hospitalar.

A CGU também identificou produtividade muito baixa de alguns médicos. Poucos procedimentos e atendimentos eram feitos, sendo incompatível com a jornada de trabalho. Segundo a PF, a média de comparecimento dos médicos era de 7%.

A fraude cometida pelos médicos é uma das principais causas das grandes filas para atendimentos especializados, afirma o delegado da PF, Maurício de Brito Todeschini. “Um parecer técnico da CGU apontou que pessoas ficam mais de mil dias na fila de espera, porque médicos não comparecem para trabalhar”, disse.

A espera por uma cirurgia cardíaca chega a durar, por exemplo, 1.354 dias. Segundo Todeschini, outros profissionais podem estar envolvidos. Por enquanto, a justiça não acatou o pedido de afastamento dos médicos e os salários continuam sendo pagos.

A reitoria da UFPR divulgou nota no site informando que determinou a abertura de Processos Administrativos Disciplinares individuais contra os funcionários citados e sindicância para apurar a conduta dos profissionais responsáveis por fiscalizar o controle de ponto dos funcionários. E vai promover de forma imediata a extensão do controle biométrico de freqüência a todos os 2.900 servidores.

A negligência médica e a falta de compromisso com o atendimento na rede pública constatada na Operação São Lucas foi analisada pelo senador Jorge Viana (PT-AC) como descaso da gestão tucana com a saúde pública.

“O PSDB fez duras criticas ao Programa Mais Médicos, mas a saúde do Paraná está abandonada. Casos como este mostram que o programa deu certo e é uma necessidade para o país”, avaliou.

Viana recordou a última pesquisa feita sobre o programa que mostra que 95% da população está satisfeita com o Mais Médicos e 85% diz que o atendimento melhorou desde a sua implantação.

“A oposição tem que parar de tentar desqualificar o programa bem sucedido como o Mais Médico. Eles deveriam tomar como exemplo, para melhorar o atendimento no Paraná”, disse.

Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) feito em 2014 mostra dados positivos sobre o Mais Médicos. Na ocasião, foram entrevistados 4 mil pessoas em 200 municípios.

Os entrevistados levantaram os pontos fortes do Programa Mais Médicos: 56% afirmaram que aumentou o atendimento e número de consultas, 33% ressaltaram a presença de médicos todos os dias nas unidades básicas e 37% elogiaram os médicos como atenciosos.

Por Michelle Chiappa da Agência PT de Notícias

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