Preso por corrupção, Marin é associado a assassinato na ditadura

O ex-presidente da Fifa é lembrado defensor da ditadura militar quando era deputado estadual, em 1971

(Foto: Rafael Ribeiro / CBF)

Preso nesta quarta-feira (27) na Suíça suspeito de fazer parte de um esquema de corrupção na Fifa, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, de 83 anos, traz no currículo uma ampla defesa ao regime militar no Brasil. O ex-dirigente é acusado, inclusive, de incentivar indiretamente o assassinato do jornalista Vladimir Herzog.

Dois pronunciamentos do ex-dirigente, feitos quando era deputado estadual por São Paulo, em 1975, são apontados como o estopim da morte do jornalista da TV Cultura, Vladimir Herzog. Vlado, como era conhecido, fazia parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e era editor-chefe do canal.

Segundo áudio do discurso de Marin, o então deputado pedia para que a paz reinasse na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e no estado. A sessão discutia a presença de membros de esquerda na TV Cultura.

“Ou o jornalista (Vladimir Herzog) está errado ou então está certo. O que não pode continuar é essa omissão, tanto por parte do senhor secretário de Cultura, como do senhor governador. É preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos”, disse Marin naquela sessão.

No dia 24 de outubro, 15 dias depois do discurso de Marin, a polícia chegou à sede da TV Cultura para levar Herzog. Afirmando que sem ele o jornal do dia não sairia, o jornalista se prontificou a se apresentar à polícia no dia seguinte. Pela manhã, Vlado chegou ao Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), de onde não saiu vivo.

Vladimir Herzog foi torturado com choques em alta voltagem. Para camuflar sua morte, teve o cinto de da calça amarrado em seu pescoço e foi pendurado em uma janela alegando que ele havia se matado. Porém, na fotografia tirada no momento da morte, os pés de Vlado tocavam o chão e seus joelhos estavam dobrados.

A família do jornalista torturado e morto pela ditadura ficou satisfeita com a prisão do ex-presidente CBF. “Olha, eu vejo com muita satisfação”, afirmou o filho do jornalista, Ivo Herzog, ao portal “Brasil Post“.

Defensor do regime militar – Em 1964, aos 31 anos, Marin assumiu seu primeiro cargo político com vereador de São Paulo, quando representava o Partido de Representação Popular (PRP). Dois anos depois, se filiou ao partido Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido a favor dos militares e da ditadura.

Arquivos do regime dizem que Marin chegou à presidência da Câmara Municipal em 1969 com a ajuda dos militares e de Gama e Silva, ministro da Justiça, na época, e redator do Ato Institucional Nº 5 (AI-5).

Caso Fifa – Marin foi preso nesta quarta-feira (27), juntamente com seis dirigentes da Fifa acusados de corrupção, extorsão e lavagem de dinheiro em contratos comerciais de torneios da América do Sul e Central. A investigação foi coordenada pela FBI e contou com o auxílio da polícia da Suíça.

Segundo a Justiça dos EUA, os envolvidos podem pegar até 20 anos de prisão.

Da Redação da Agência PT de Notícias

PT Cast