Projeto cria núcleo de apoio a vítimas da ditadura na periferia

Parceria da Comissão da Anistia com Prefeitura de SP cria clínica para atender pessoas com danos psicológicos causados pela repressão militar

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, o grupo Margens Clínicas, – que oferece atendimento psicológico a familiares e vítimas de violência policial, e o Instituto de Estudos da Religião lançaram nesta terça-feira (6) o núcleo Clínica do Testemunho nas Margens, projeto que identifica e trata marcas psicológicas deixadas pela ditadura civil-militar na periferia.

São Paulo é o primeiro município a receber o projeto que, com apoio da prefeitura, trabalhará prioritariamente nos bairros de Perus, no noroeste, e Heliópolis, na zona sul. Esses locais foram escolhidos por seu histórico de resistência e luta social contra a ditadura. Lá, um grupo de psicólogos e agentes treinados vai ouvir as pessoas com danos psicológicos provocados por violência praticada por forças de segurança entre 1946 e 1988.

“O encontro da memória com o elemento democrático nos ajuda a reconstruir as tessituras esgarçadas, os projetos de vida que foram arrebentados, permitir que a voz faça com que as pessoas se recoloquem”, disse o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão. Lançado nesta terça-feira (5) no Centro Educacional Unificado (Ceu), em Perus, o projeto deve identificar como ainda acontecem violações de direitos humanos na periferia. Segundo a Comissão de Anistia, em 2016, cinco núcleos de apoio psicológico serão instalados nas periferias de quatro capitais brasileiras.

O Projeto Clínicas do Testemunho é uma das etapas do programa de reparações da Comissão de Anistia, desenvolvido sob o argumento de que é preciso oferecer atendimento clínico às vítimas dos danos produzidos pela violência do Estado. “O Estado tem a obrigação de prestar apoio psicológico aos cidadãos atingidos por graves violações dos direitos humanos. Especialmente quando as próprias instituições do Estado na democracia, hoje, dependem – para a efetividade do direito à memória, à verdade e à reparação – do registro do testemunho da vítima. É preciso cuidar para que não se estabeleçam”, afirma Paulo Abrão.

“O Estado tem a obrigação de prestar apoio psicológico aos cidadãos atingidos por graves violações dos direitos humanos.”

“Este projeto em Perus e Heliópolis é histórico porque vai acolher a narrativa desses tantos e tantos familiares, desses tantos afetados direta ou indiretamente pela violência do Estado ditatorial. É um esforço de ‘desnormalizar’ a violência de Estado nas periferias”, disse Fábio Franco, da Coordenação Direito à Memória e Verdade, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo.

Abrão: Reflexos da violência do Estado se perpetuam no psíquico das vítimas  / Foto: Agência Brasil)

Abrão: Reflexos da violência do Estado se perpetuam no psíquico das vítimas / Foto: Agência Brasil)

A Comissão de Anistia destaca que o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) atestou que a violência de Estado não acabou com o fim da ditadura. Segundo a CNV, dados do Sistema de Informação de Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que esse tipo de violência é um problema de saúde pública, principalmente entre jovens de populações economicamente vulneráveis.

“A violência de Estado continua. A gente pensa que a ditadura acabou, ela acabou de uma forma, mas continua quando nós, principalmente nas periferias, ainda não conseguimos ter acesso a muitos dos direitos que pessoas que moram em bairros privilegiados já têm”, disse Jéssica Moreira, da Comunidade Cultural Quilombaque, e do Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento de Perus.

Além de debate entre os presentes, o evento teve apresentação do grupo Chálabrão e Seo Bandolindo.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da “Agência Brasil”.

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