PT aprovou cota de mulheres no 1º Congresso, em 1991

Medida histórica só ocorreu graças a união de mulheres de todas as forças do partido. No 4º Congresso, foi aprovada a paridade

Fernanda Estima/Acervo Sérgio Buarque de Holanda

Mulheres participantes do plenário no 1º Congresso do PT, em São Bernardo dos Campos

Em 1991, o PT completava 11 anos e se preparava para o seu 1º Congresso Nacional. Mas, apesar da participação ativa das mulheres militantes desde a sua fundação, em 1980, a estrutura de poder do partido não refletia isso.

“É natural ter quase a totalidade das direções partidárias com quase 95% de homens em seus quadros?”, questionava um panfleto organizado pelo movimento de mulheres durante o 1º Congresso do Partido.

“Quando começou, o PT tinha todo mundo, homens e mulheres. Mas na formação das direções, você via que elas não estavam mais lá, foram sumindo no meio do caminho”, lembra Laisy Moriére, atual secretária nacional de Mulheres do PT.

Apesar disso, mulheres petistas continuavam ativas na militância. Contando com o apoio de alguns companheiros, e em um exercício de unidade, conseguiram aprovar uma cota de 30% para mulheres nas direções partidárias logo no primeiro Congresso.

“Não foi uma coisa fácil. Houve uma certa resistência”, conta a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que, assim como Laisy, teve um papel fundamental nessa aprovação.

Foram muitas reuniões e encontros para conseguir convencer os mais ortodoxos e de todas as forças políticas a aprovar as cotas. Segundo a publicação “Identidade e diferença: A Trajetória das Mulheres no Partido dos Trabalhadores”, do autor João Marcelo Pereira dos Santos, a frase de mobilização daquele momento foi “desigualdade de sexo não rima com democracia”.

Na época, mesmo algumas mulheres consideravam a medida paternalista. Argumentos como ‘falta de competência’ e um o suposto caráter artificial da medida foram utilizados para depreciar a implantação das cotas.

Delegados no Primeiro Congresso Nacional do PT

“A gente é chamada de chata quando a gente quer as coisas, a gente segurou muito essas coisas”, afirma Benedita. Em algumas instâncias estaduais, como o Congresso Estadual de São Paulo, a pauta foi rejeitada.

“Tivemos uma cumplicidade entre as mulheres de várias forças, porque a unidade fica no papel e a cumplicidade te leva a que você tenha ações concretas”, lembra a deputada. Segundo ela, mulheres de todas as forças políticas tiveram um papel decisivo para que a aprovação fosse possível.

Unidade no movimento

As mulheres já chegaram no 1º Congresso Nacional do PT unidas e focadas na aprovação das cotas. A pauta havia sido decidida no 3º Encontro Nacional Militantes Petistas do Movimento de Mulheres e nos Encontros de Mulheres Petistas.

Havia outras reivindicações, como garantia de creches nos eventos partidários, atividades de formação específicas para as mulheres, a introdução de temas relacionados com as mulheres no currículo da formação do partido e a garantia de participação em outras instâncias, como em comissões de trabalho, coordenação de eventos, conselhos editoriais de jornais e revistas. Segundo Laisy, muitas dessas pautas ainda não foram implementadas.

Em 2011, aprovou-se a paridade de gênero. Mesmo assim, ainda falta avançar muito, na avaliação da secretária. “Temos que avançar para que a paridade não seja uma coisa imposta, numérica, mas seja um modo de pensar do partido, tudo o que eu penso, eu penso nas mulheres também. A gente ainda não conseguiu chegar nisso”, afirma.

Ato pioneiro

Ainda assim, a aprovação das cotas em 1991 foi um ato pioneiro. Por meio de suas deputadas, o PT levou o debate para a Câmara o para o Senado, aprovando lei de cotas de mulheres nos partidos. A aprovação das cotas no 1º Congresso também estimulou a militância de outros partidos a reivindicarem o mesmo dentro de suas entidades, explica Benedita.

“Nós, mulheres petistas, fizemos esse debate da questão de gênero em qualquer espaço que estivéssemos, fosse nas comunidades, igrejas ou escolas de samba”, recorda a deputada.

Benedita explica que a ajuda de diversos companheiros foi decisiva para a aprovação dessa pauta. “O Lula foi um grande companheiro, o Genoíno, o Rochinha nos ajudou muito”, exemplifica a parlamentar.

“Nós falávamos naquela época: Lula, duas coisas que você precisa ter, é mulher e negro. E fomos trabalhando, trabalhando e nós víamos o resultado desse trabalho”, conta.

Os homens, segundo ela, foram fundamentais para ajudar na articulação dentro de cada força política para possibilitar a aprovação.

Foi essa militância das mulheres petistas que levou à implantação de políticas para as mulheres, uma das principais marcas dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff na Presidência da República, entre 2003 e 2016. A criação da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, com status de ministério, encerrada pelo governo golpista de Michel Temer, também faz parte dessa história de luta.

Essa reportagem integra a série sobre a histórias dos Congressos Nacionais do PT, produzida em ocasião do 6º Congresso Nacional, que ocorrerá em junho. Para ler as outras matérias, clique aqui

Por Clara Roman, da Agência PT de Notícias

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