Robercil da Rocha: crítica ao PT é tarefa dos petistas

Para o Secretário de Comunicação DZ/2 PT, “ninguém está mais qualificado pra realizar a crítica do período à frente do Governo Federal que nós mesmos”

Cesar Ogata
Tribuna de Debates do PT

Partidos visam governos; as elites visam o Estado

A ação política da elite do capital extravasa o âmbito nacional de atuação através de seus contatos e articulações internacionais proporcionadas pela rede organizacional de classe nos países centrais e periféricos ao capitalismo. Esta elite se estrutura fora do aparelho estatal e dos partidos, por vezes superando-os, tanto em capacidade organizativa estratégica política quanto em profundidade das ações.

Intervêm nos processos políticos de outros países tanto via Estado nacional quanto pela diplomacia privada de sua própria ação política supranacional baseada em organizações congêneres ai instaladas.

Não há acordo possível nesta quadra de nossa história pelo simples fato de que a outra parte não o quer. Não nos bastará fazer a coisa certa, haja vista o animus golpista exarado na votação da Câmara e Senado Federal.

Apito de cachorro

Dois dias antes do golpe no Chile, o empresário Orlando Saéns recebeu mensagem do general Palácios requerendo “insulina para a mamãe”. Era a senha de que o golpe estava em curso.

Nos tempos que correm no brasil dois signos importantes foram emitidos pelos golpistas da vez. Um pelo pelego da hora, Paulinho da Força, ao declarar que “há muito dinheiro para financiar o impeachment.” Tal qual havia em 1964 “doados” pelos mesmos canais empresariais.

Outro, mais recente, foi levado a termo por declaração em entrevista às TV’s dada por Delfim Neto ao sair de “visita” ao golpista-mor Michel Temer em que disse que “dois anos é tempo suficiente para plantar carvalhos e não couves”, referindo-se ao tempo de um eventual mandato-tampão golpista. Esta frase já foi proferida anteriormente e em circunstâncias igualmente golpistas no brasil pelo Marechal Cordeiro de Farias: “Em 1948 nós plantamos carvalhos. Não plantamos couves. A couve floresce rapidamente, mas uma só vez. Os carvalhos demoram, mas são sólidos. Quando chegou a hora, nós tínhamos os homens, as ideias e os meios.” Referindo-se à fundação da ESG, escola superior de guerra, da Marinha (in “1964 A Conquista do Estado”, de René Armand Dreifuss).

Mensagens cifradas com endereço certo, mostrando aos receptores a marcha do golpe em curso, ignoradas pela maioria do povo. Tal qual a “visita” de certo senador aos EUA logo após a admissibilidade do impeachment na câmara. No Estado Novo as forças armadas jogaram um papel moderador nos conflitos agrário-industrial. Em 1964 foram manipulados e levados ao golpe e ficaram 21 anos no poder. Em ambos os casos supostamente por “ordem e progresso”. Em 1964, pensado na ESG e insuflados pelo IBAD/IPES/ADP/ADEP/PROMOTION e sua rede de influência em todo o país.

A crítica ao PT é tarefa dos petistas

Ninguém está mais qualificado, autorizado, para realizar a crítica do período à frente do Governo Federal que nós mesmos, portanto devemos rechaçar in totum avaliações externas ao Partido dos Trabalhadores.

Devemos evitar, contudo, dourar a pílula e eventuais aspectos deste período ser ignorado, sob pena de abrir flancos à direita para serem explorados e avocarem para si a crítica à esquerda, distorcendo a realidade e manipulando as massas.

Não há dúvidas do quão grande foi o avanço logrado pelo país com o PT à frente do Executivo Federal nos últimos 13 anos e, indubitavelmente, seguirá avançando posto que retornaremos ao poder central ainda no período do governo da companheira Dilma Rousseff, derrotando o golpe em curso no Brasil.

Entretanto, não podemos ignorar que um pressuposto basilar do socialismo, que é a socialização da política, não se deu no interior do partido, onde a disputa dos espaços pelas tendências tem afastado companheiros uns dos outros e resultado praticamente em partidos no interior do PT. Não podemos ignorar que o que nos une, além do partido, é o projeto da construção do socialismo democrático no Brasil e que somos, todos e todas, independentemente de campos internos, regidos por um estatuto comum que submete igualmente a todos.

O socialismo é o conflito de posições diferentes que se resolvem através da socialização da política, via ampla participação das massas na constituição do espaço público transparente, depurado de posições políticas unitárias, monocórdicas.

Marco Aurélio Garcia, no livro “1917 * 1987 socialismo em debate”, página 258, diz que a grande revolução política que se fez nesse país não se fez em função de contribuições de sociólogos, historiadores ou pensadores. A grande revolução política, a constituição de um partido com as características do PT, se fez essencialmente porque, em um determinado momento da história, a luta de classes colocou contingentes fundamentais da classe trabalhadora, ainda que não majoritários, em posição de questionar concretamente não tanto as condições específicas de dominação econômica, mas, fundamentalmente, as condições de exercício do poder. Quando alguns trabalhadores, respaldados por uma ampla massa de companheiros que vinha intervindo nas fábricas e na luta sindical, decidiram concretamente que eles não mais seriam representados, mas que eles se autorrepresentariam na luta política, aí se operou efetivamente a grande transformação.
Não é compatível com o socialismo democrático a ideia de um partido que tenha a chave da história por assim dizer, que saiba por onde é que a história vai. Quem sabe onde é que a história vai são as massas, nos seus erros e acertos.

O debate sobre o socialismo e a democracia não deve simplesmente estar preso à história, que é importante, é um fator significativo de reflexão para nós, mas que o debate seja sobretudo uma questão viva e a partir da qual nós possamos pensar as novas e tão importantes condições de emergência política que o Brasil presencia hoje em termos de participação dos trabalhadores na luta pelo socialismo e pela democracia. O conflito entre socialismo e democracia pode ter existido na cabeça de setores importantes e significativos da classe trabalhadora, ele é cada dia mais uma questão que se resolve na própria ação dessa classe trabalhadora.

Segundo Marx, o Estado está á serviço da classe dominante. No Brasil a classe trabalhadora chegou, realmente, ao poder? Se chegou, é chegada a hora de fazer valer tal afirmativa?! Como?! Tenho observado o materialismo histórico em leituras de obras históricas, das quais a internacional capitalista de René A. Dreifuss me esclareceu vários questionamentos (sugiro a leitura).

Tenho a impressão de que demos alguns passos. De fato acumulamos forças para travar a luta de classes, que se dá por etapas, com dificuldade, dadas as condições sociais encontradas por nossos governos. Penso que um passo importante e decisivo na tomada de consciência de si, e de classe, por parte da massa é a regulamentação do capítulo da comunicação social, previsto na CRFB/88 e jamais regulamentado neste país, por motivos óbvios.

A comunicação de massa é a ferramenta que dará impulso, tanto à acumulação, quanto à tomada de consciência por parte da massa trabalhadora, e a fará se posicionar com alguma propriedade diante da luta de classes, que, sim, estamos travando neste país, diuturnamente, não há dúvidas.

Na mesma obra citada, à página 260, Lula nos fala que o PT é um dos partidos revolucionários que surgiu na história deste país, não porque haja em seus documentos tal afirmação de que o seja. É revolucionário porque nasceu da ideia definida de que era preciso organizar a classe trabalhadora dando a ela consciência política para que ela se descobrisse enquanto força trabalhadora da sociedade, e sabemos que é mais fácil a gente dizer que é revolucionário do que a gente ter a capacidade de politizar um ser ignorante que não recebe informação por causa dos meios de comunicação.

“Eu diria que o PT é revolucionário porque poucas vezes na história do país um partido conseguiu colocar, não apenas como militantes, mas, como dirigentes, a quantidade de trabalhadores e camponeses que o PT colocou.

Eu diria que o PT é revolucionário porque, inclusive sem conhecer os bolcheviques e outras coisas que é importante conhecer, muitos de nós tivemos a ideia de que era preciso criar os núcleos de base, não como ponto de apoio para as eleições, mas de que era preciso criar os núcleos porque eles seriam a única forma de evitar que qualquer golpe pudesse destruir o partido. Era preciso ter uma grande organização de base, por bairro ou por fábrica, porque mesmo que houvesse um golpe militar ou uma repressão, eles conseguiriam destruir a direção, mas não conseguiriam destruir a base do partido ou a militância do partido. A gente mede a atitude revolucionária do cidadão pelo que ele faz e não pelo que ele fala. O conceito de que a política não presta ainda predomina no conjunto da classe trabalhadora, e é nossa responsabilidade desfazer isso. É preciso ter um instrumento de massa para se contrapor aos instrumentos de comunicação de massa que têm quero lembrar aos companheiros que mesmo nós do partido dos trabalhadores conseguimos fazer a classe trabalhadora descobrir isso muito mais rápido nos dois primeiros anos de nascimento do PT do que nos últimos cinco anos. Porque nos acomodamos e passamos a brigar internamente para discutir mil coisas, quando a gente deveria estar nas ruas discutindo com a classe trabalhadora para dar-lhes os conhecimentos elementares. quantos de nós estamos dispostos a ir ao bairro, à favela, à uma comunidade fazer uma palestra?!”

Revertendo a consumação do golpe

Penso que se pode atuar institucionalmente para reverter a consumação do golpe. ainda que afastado temporariamente, temos que manter o contato/controle das forças armadas e estar atentos para evitar a mudança ideológica e operacional na orientação das mesmas para que não se prestem novamente á hostilidades internas e medidas coercitivas à cidadãos e instituições.

Nosso governo deve estar atento para impedir, por todos os meios admitidos em direito e pelo estado democrático de direito, a formação de “governo paralelo”, tão logo retornemos o poder, para escapar ao controle do executivo e da pressão das ruas, os interesses golpistas em voga.

A judicialização do impeachment, levando o STF a analisar o mérito e dizer se há crime de responsabilidade , o que pode levar ao arquivamento/anulação do feito por falta de justa causa ou objeto.

Ampliar e intensificar a mobilização e os atos de rua em todo o país, bem como difundir por todos os meios disponíveis de comunicação a mensagem da necessidade de eleição, em 2018, do maior número de deputados federais e senadores do campo da esquerda em todo o país, preparando o terreno para a disputa de 2018 onde deve ser explicitado, desde agora, o caráter estratégico da eleição de maioria parlamentar do campo de esquerda bem como a eleição do presidente Lula, para travarmos a batalha mãe da guerra na luta de classes: a regulamentação do capítulo da comunicação social insculpida na CF/88 e pôr fim ao monopólio pernicioso da mídia no brasil que, desde priscas eras, elegem e derrubam governos e interferem nos poderes da república como um verdadeiro quarto poder.

por Robercil da Rocha Parreira, Dr. Rubinho da Divinéia – ex-candidato a vereador e Secretário de Comunicação DZ/2 PT – Grande Tijuca, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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