Surto de sarampo e volta da pólio adiantam males da PEC do Teto

Sob a batuta do golpista, estados entram em estado de emergência e alerta para ambas as doenças. Desmonte do SUS é a única explicação, diz Padilha

Tomaz Silva/Agência Brasil

Sob a batuta do golpista, vários estados brasileiros voltaram a ter casos de sarampo

Temer desistiu de usar o slogan “O Brasil voltou (,) 20 anos em dois” como símbolo de seu governo, mas a piada pronta ainda mantém seu fundo de verdade. Além da privataria, corte nos investimentos e indicadores sociais alarmantes que marcam o governo golpista, doenças contagiosas já erradicadas voltam a assolar o país.

Sob a batuta do golpista, vários estados brasileiros voltaram a ter casos de sarampo, considerado extinto desde os anos 2000. A paralisia infantil, cujo último caso foi registrado em 1989, também ameaça voltar.

Juntos, os estados de Roraima e Amazonas têm mais de 500 casos confirmados de sarampo e outros 1500 sob investigação. Há casos também em Rondônia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O alerta para a poliomielite, que fez quase 30 000 vítimas no Brasil, é tão preocupante quanto. De acordo com o Ministério da Saúde, 312 cidades não vacinaram nem a metade das crianças menores de um ano contra a pólio.

A sensação de voltar no tempo fica ainda mais forte com a notícia de que a atriz Xuxa foi chamada para um revival da campanha de vacinação estrelada por ela em 1990, ano em que a pólio foi erradicada. Diferente do mote multivacinação dos anos anteriores, a propaganda deste ano será focada nessas doenças.

A PEC da Morte

Tanto o sarampo quanto a poliomielite se espalham facilmente e trazem sequelas graves, mas são facilmente controladas com a vacinação. E é justamente a falta de investimentos em saúde básica a principal justificativa para a volta desses males.

Para o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) é a única explicação para o retorno dessas doenças. Ele cita a PEC do Teto uma das iniciativas mais nocivas contra a atenção básica de saúde. “Teve um impacto muito grave não só por contenção de recursos do governo, mas porque estado e municípios sabem que não vão ter a contrapartida federal nos próximos anos, então deixam de investir”, explica.

Outra resposta é a desvalorização dos agentes comunitários de saúde, cuja participação nas equipes de Saúde da Família deixou de ser obrigatória. “Na prática, os prefeitos acabam demitindo esses profissionais, que são justamente aqueles que visitam as casas para alertar as pessoas sobre a necessidade da vacinação, do controle do peso das crianças”, diz o ex-ministro.

Oficialmente, o Ministério de Saúde relaciona a escalada do sarampo à passagem de refugiados venezuelanos pelas fronteiras da região Norte. Padilha explica que o país vizinho é mesmo um dos quatro onde o vírus circula atualmente, mas a imigração não justifica o problema. “Nós tivemos surtos de sarampo por imigração que foram rapidamente controlados, porque se tinha a atenção básica de saúde funcionando, a Vigilância [Sanitária] funcionando, as vacinas oferecidas”.

No ano passado, todas as vacinas disponibilizadas pela rede pública ficaram abaixo da meta de 95% recomendada pela OMS. Em 2011, a cobertura para ambas as doenças era de 100%.

Os cortes também afetam diretamente a sobrevivência das crianças. Em dois anos de golpe, a mortalidade infantil subiu 11% após quedas sucessivas durante os governos petistas. Um estudo recente da Fiocruz indica que, caso o orçamento do Bolsa Família e Estratégia de Saúde da Família aumentassem conforme cresce o número de pobres no país, quase 20 000 mortes seriam evitadas até 2030.

Por Thais Reis, da Agência PT de Notícias

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