UERJ lotada encerra Lula pelo Brasil em clima de resistência

O último ato da caravana do ex-presidente, que passou pelo ES e RJ, foi marcado pela luta de alunos, professores e servidores contra o sucateamento

Ricardo Stuckert

Grande ato de encerramento da caravana Lula Pelo Brasil no Espírito Santo e Rio de Janeiro na UERJ

Foi catártica a presença de Lula na concha acústica da UERJ na noite de sexta-feira (8), no ato de encerramento da caravana Lula pelo Brasil. Para um auditório lotado e em constante luta, o ex-presidente discursou para a multidão tendo sempre como pano de fundo a situação de perseguição, precarização e corte de recursos que vive hoje o Ensino Superior no Brasil.

A presença numa universidade que passa por momentos críticos, com atrasos de salários, e em tempos em que a autonomia universitária é duramente atacada, como ilustram as ações contra a UFMG e a UFSC, tornou-se especialmente simbólica.

Ao lado do líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini, da deputada Benedita da Silva, o líder do PT no SenadoLindbergh Farias, e os ex-ministros Celso AmorimFernando Haddad, além da deputada Jandira Feghali, do PCdoB, Lula fez um discurso emocionante e direto, interrompido apenas pelos gritos uníssonos da multidão que o acompanhava.

Logo ao começar sua fala, Lula dirigiu-se diretamente à crise que afeta a universidade e aos alunos, professores e servidores que ao longo da noite gritavam, em uníssono, “UERJ, Resiste!” “Eu estou em uma universidade que está entre as dez mais importantes do nosso país. Estou em uma universidade que tem história de formação de grandes intelectuais e grandes cientistas para este país. Fico sabendo que essa universidade não pagou 13º em 2016, não vai pagar em 2017 e está caminhando para três meses de salários atrasados. Ora, ninguém pode chamar de radical quem se recuse a trabalhar porque está com tudo isso atrasado.”

Lula lembrou que nunca como em seu governo houve tantos reajustes de planos de cargos e salários, e regulação de carreiras profissionais. “Tenho consciência de que não é possível o país ir para a frente se não colocarmos educação entre as coisas mais importantes do orçamento.”

“Temos muitas coisas para cuidar, tem a saúde, e no estado do RJ está uma calamidade. É engraçado porque alguns anos atrás não estava assim. Eu participei da ideia das UPAS e construímos no Brasil todo 500 UPAS.
Normalmente, a classe política brasileira não diz o time que torce, normalmente inventa o mais fraco. Eu digo sempre digo pra quem eu torço e nesse momento to torcendo para o Rio de Janeiro.”

Não há saída para a crise que hoje acomete o estado sem uma presença firme e bem direcionada do governo federal. E logo. Quem tem fome, diz, não pode esperar mais um ano, até 2019. Quem tem salário atrasado, não pode esperar.

“Além da irresponsabilidade administrativa local, além do golpe que tivemos aqui, é importante que a gente não perca de vista o significado da Petrobras, da industria do Óleo e Gás, da indústria naval no RJ. Por isso que o governo do Rio de Janeiro, em vez de entregar o petróleo para a Esso, para a Shell, deveria garantir que a Petrobras mantivesse a Lei da Partilha, mantivesse os 30%, aplicasse os 70% de royalties na educação, porque aí sim o século 21 iria recuperar o atraso do século 20.”

Para que o Brasil que a gente transformou e reconstruiu não volte mais atrás. é preciso reagir logo. “Não precisa buscar informação em nenhum lugar do mundo, é só ver o que foi feito no meu governo. Faz dez anos. Eles iriam ver como faz para elevar o padrão de consumo de 10 milhões de pessoas. Iriam ver como criamos 20 milhões de empregos com carteira assinada. Iriam saber como bancarizamos 50 milhões de pessoas que nunca haviam entrado no banco. Veriam como se faz o orçamento para colocar 30 bilhões de reais para financiar a agricultura.”

Tudo isso feito por um homem considerado semianalfabeto, sem curso superior, de quem se adora dizer que “o mercado tem medo”. “Na minha cabeça não funciona: Corte! Corte! Corte! Na minha cabeça funciona: Investimento! Investimento! Investimento!”

A subida do pobre de apenas um degrau na escala social é combustível para o ódio e o atraso da elite deste país. “Eu à vezes fico procurando a razão de tanto ódio. Não sei o que a imprensa tem. Parece que fazer a empregada doméstica ser tratada com respeito é crime. Parece que fazer o trabalhador entrar no aeroporto é crime. Parece que aumentar o salário todo ano é crime. Parece que colocar meninos negros da periferia na universidade é crime. Parece que é. Eu não consigo entender tanto ódio, tanto preconceito”, questiona Lula.

“Como pode a diretoria da Petrobras dizer que é importante acabar com conteúdo nacional. A gente não vai mais construir navio aqui, não vai mais fazer plataforma. Vamos vender o óleo bruto e importar gasolina. Com a MP 795 aprovada, agora ninguém mais vai pagar imposto aqui. E aumenta o gás de cozinha, que faz parte da cesta básica, em 68%.”

À frente desse processo, está alguém que não é um presidente. “O Temer só tem 1% de aprovação. Ele está lá porque não representa nada, ele representa os interesses das multinacionais e do capital financeiro nacional e internacional.”

“Eu não vou me queixar do que está acontecendo comigo. Por isso eu estava quieto no meu lugar, com 72 anos de idade. Fazendo ginástica todo dia, virando marombeiro. Por isso estou dizendo que tenho 72 anos, energia de 30, e tesão de 20 para consertar esse país. Eu quero derrotar um candidato com o logotipo da Globo na testa. Isso eu quero derrotar. Quero provar que não tem explicação econômica para este país estar na situação que está. Não venha dizer que são as exportações, que é qualquer coisa a não ser a falta de coragem. Sabe como se diminui a dívida pública em relação ao PIB? Aumentando o PIB. Você investe dinheiro porque o estado tem que ser indutor do crescimento.”

“A própria violência. Se você quiser diminuir a violência, tem que ter polícia preparada, dar salário aos policiais. Mas a melhor coisa para garantir segurança é dar emprego, salário e educação para as pessoas. É por isso que tem gente dizendo que eu deveria federalizar os presídios. Eu digo que não. Eu estou fortemente tentado a federalizar o Ensino Médio nesse país!”

“Quero que continuem me investigando. Já acharam do Cabral, acha o meu! Inclusive, se acharem, venho distribuir para pagar os salários atrasados de vocês! A única coisa que eu quero é que depois de vasculhar tudo que quiserem, que tenham a dignidade e a coragem de pedir desculpas a mim pelas mentirar que contaram a meu respeito!”

Lula Pelo Brasil

A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Espírito Santo e ao Rio de Janeiro, que acontece em dezembro, é a terceira etapa do projeto que ainda deve alcançar as demais regiões do Brasil.

Em agosto e setembro, Lula pegou a estrada e percorreu os nove estados nordestinos, visitou inúmeras cidades, ouviu e conversou com o povo. Em outubro, foi a vez do estado de Minas Gerais.

O projeto Lula Pelo Brasil é uma iniciativa do PT com o objetivo de perscrutar a realidade brasileira, no contexto das grandes transformações pelas quais o país passou nos governos do PT e o deliberado desmonte dos programas e políticas públicas de desenvolvimento e inclusão social, que vem sendo operado pelo governo golpista nos últimos dois anos.

Por Clarice Cardoso, da Agência PT de Notícias, enviada especial à caravana Lula pelo Brasil – SE

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