Vigília Lula Livre fez de 2018 o ano da resistência

São quase nove meses de mobilização em Curitiba, denunciado a prisão política e dando apoio ao maior líder que o Brasil já teve

Ricardo Stuckert

Militância está há mais de 200 dias em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba

Na noite do dia 7 de abril de 2018, centenas de militantes esperavam a chegada de Lula em Curitiba, durante um ato de solidariedade frente a prisão política do ex-presidente, após um processo sem crime e sem provas, quando foram atacados com bombas de efeito moral. Nos três dias anteriores, foi realizada a resistência histórica que adiou a prisão de Lula, cercado por milhares de apoiadores no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo.

Foi a partir dessa sequência de episódios, já marcados na história do Brasil, que teve início a Vigília Lula Livre, movimento de resistência que defende a libertação do ex-presidente. Ao longo de mais de oito meses, centenas de militantes se revesaram nos acampamentos formados nas proximidades da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

Com apoio e solidariedade de todo o Brasil, a vigília se estruturou como um espaço de manifestação e debate, com ambiente para refeições, além de receber importantes nomes da política, da intelectualidade e da cultura, vindos de diversas partes do Brasil e de todo o mundo.

Um dos coordenadores da Vigília, Roberto Baggio celebra a união e a força política que o grupo representam. “O forte dessa Vigília é a solidariedade, o amor que o povo tem pelo presidente Lula. Todos os dias expressamos aqui esse amor. Essa Vigília enraizou-se. É uma árvore que criou raízes e está gerando frutos”.

Mesmo com a chegada das festas de final de ano, a Vigília não se esvazia. A militância organizada se preparou para passar o Natal com Lula, demonstrando que o carinho pelo ex-presidente é enorme no coração dos Brasileiros. No ano novo a atividade se repete, levando também um alento para Lula, que se vê privado do convívio com sua família e seus amigos, além do povo brasileiro, que sempre foi sua fonte de inspiração para fazer política.

“Estamos há 262 dias nessa Vigília e hoje é um dia especial. Isso aqui está muito lindo, com as pessoas participando, organizando, preparando a ceia, ajudando com doações. É um momento especial da Vigília”, destaca o dirigente do PT Florisvaldo Sousa que ajudou nos preparativos da Ceia de Natal, nesta segunda-feira (24).

O militante fez questão ainda de lembrar do dia em que o ex-presidente chegou em Curitiba. “Estávamos aguardando a chegada do Lula, numa prisão injusta, e houve uma ação criminosa da Polícia Federal, jogando bombas em pessoas que se manifestavam pacificamente”.

Relembre os momentos mais importantes da Vigília Lula Livre em 2018

Danny Glover participou do “Boa noite, presidente Lula” na Vigília Lula Livre, em Curitiba

Em maio, Lula recebeu o ator norte-americano e ativista de direitos humanos Danny Glover. “Meu irmão e companheiro Lula tem que ser libertado para continuar com todas as conquistas que ele alcançou para o povo. Ele é um símbolo de trabalho e amor que repercutiu não só no Brasil como no mundo”, disse Glover.

O teólogo Leonardo Boff também fez uma visita religiosa ao ex-presidente. “Lula me disse que, se não morreu aos 5 anos de fome, desde lá sua vida é resistir. Me disse que sua vocação na vida é lutar. O que lhe move é a indignação”, declarou Boff após o encontro.

Monja Coen visita Lula na PF de Curitiba

Após visita religiosa a Lula em junho, a Monja Coen relatou a “alegria de poder encontrar o presidente e falar com ele, e a tristeza por ele estar nessa circunstância”. “Lula é digno. Incomoda porque é honesto, correto e pensa em todos”, declarou.

Em agosto Os cantores e compositores Martinho da Vila e Chico Buarque visitaram Lula em agosto e transmitiram um recado de Lula, que lutava pelo direito de ser candidato. “Não troco minha dignidade pela minha liberdade”, afirmou Lula aos amigos.

No mesmo mês, Lula recebeu o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel. Atualmente, o argentino lidera uma campanha para consagrar a Lula o Nobel da Paz em reconhecimento ao seu legado no combate à fome e à miséria no Brasil. “Não conheço outro líder que tirou 36 milhões de pessoas da extrema pobreza. Isso é um feito que precisa ser reconhecido, porque tirar milhões de pessoas da extrema pobreza, é construir a paz”.

O ex-presidente da Colômbia e ex-secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), Ernesto Samper, também visitou Lula em agosto. “Não há um único dos princípios universais do devido processo legal que não tenha sido violado no caso do ex-presidente Lula”, disse Samper, após ter lido a íntegra da sentença que condenou Lula.

Um dos pensadores mais importantes da atualidades, o linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky classificou Lula como “uma das figuras mais significativas do século 21”, após visitá-lo em setembro . “É encorajador encontrá-lo e passar um tempo com ele, que por direito deveria ser o presidente do Brasil”.

O ex-primeiro-ministro italiano Massimo D’Alema e o ex-governador do Distrito Federal do México, Cuauhtémoc Cárdenas também estiveram com Lula durante uma hora. Ao deixar a prisão, D’Alema classificou a prisão de Lula como “uma monstruosidade”. “Os juristas europeus constataram que a condenação veio em um processo em que não foram garantidos os direitos dele e não existem provas que o incriminam”, afirmou.

Para o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, o encontro com Lula foi emocionante. “O que vi foi a grandeza de um homem que sabe inspirar não só o País, mas todos aqueles que o visitam. Não se trata do Lula pessoa, mas do Lula ideia. A ideia de um país com esperança em uma sociedade melhor e inclusiva, mais justa e fraterna”.

Em setembro, a presidenta eleita Dilma Rousseff esteve com Lula em Curitiba, e falou sobre a emoção de estar ao lado do presidente. Em conversa com os jornalistas após a visita, afirmou que a visita “foi muito boa”. Dilma contou que, durante o duro processo de impeachment que enfrentou, “em momento algum eu chorei. Nunca eu chorei”. E explicou por que: “eu não choro na frente de inimigo, não choro”.

Dilma lembrou que tampouco chorou quando foi presa e torturada pela ditadura militar (1964-1985) mas que “quando se trata do presidente Lula, e da absurda injustiça” cometida contra Lula, a ex-presidenta confidenciou que “com ele eu choro. Eu lembro dele e choro”. Para Dilma, “não há injustiça maior do que você condenar uma pessoa inocente.

Na avaliação da petista, a prisão de Lula representou a terceira etapa do golpe. “A primeira é o meu impeachment, a segunda é aprovar no Congresso uma pauta que não foi legitimada pelas eleições, e a terceira etapa é prender o Lula e impedir que ele seja candidato”.

Martin Schulz, do Partido Social Democrata da Alemanha – SPD (filiado à Internacional Socialista), após visita ao presidente Lula nesta quinta-feira (30)

Martin Schulz, líder da social-democracia alemã e antigo presidente do Parlamento Europeu, também visitou Lula na prisão e defendeu o direito de Lula a receber um julgamento justo.

Em novembro, o ex-presidente Lula recebeu o fundador do Podemos na Espanha, Juan Carlos Monedero. Em entrevista após a visita, Monedero comparou o cárcere de Lula ao de Mandela. “A História lembrará de Lula, mas não de seus algozes”, disse.

Disputas de despachos e liminares: manobras para impedir a liberdade de Lula

Em julho, Lula quase foi libertado, após o desembargador Rogério Favreto, acatar habeas corpus da defesa em despacho publicado às 9h do dia 8, determinando o cumprimento em regime de urgência. Contudo uma série de ilegalidades e manobras jurídicas se seguiram sob os olhos de todo país.

Desrespeitando o devido processo legal e a hierarquia do Poder Judiciário, Moro, que está de férias entre 2 e 21 de julho, publicou despacho afirmando que não cumpriria a decisão. Por volta das 12h, o desembargador Favreto emitiu outro despacho determinando o cumprimento imediato da decisão de soltura. Mais tarde, por volta das 14h, foi a vez do desembargador João Pedro Gebran, também do TRF-4, atuar de maneira política, durante seu dia de folga. Ele emitiu mais um despacho, determinando que a Polícia Federal de abstivesse de cumprir a decisão de Favreto.

Após mais alguns despachos com decisões contraditórias, ao final do dia, o presidente do TRF-4, Thompson Flores determinou que a decisão final seria a de Gebran. Assim, os despachos de Favreto em relação a Lula foram desconsiderados e o ex-presidente mantido como preso político.

Em dezembro um episódio similar ocorreu no Supremo Tribunal Federal. Após decisão do Ministro Marco Aurélio Mello no dia 19, a defesa de Lula enviou petição pedindo à justiça para que soltasse o ex-presidente. A liminar de Mello determinava a soltura de todos os presos que estavam detidos em razão de condenações após a segunda instância da Justiça.

Em mais um episódio de arbítrio, a juíza de execução penal Carolina Lebbos desrespeitou a decisão e afirmou que aguardaria a publicação no Diário Oficial. Isso deu espaço para a Procuradoria Geral da República elaborar um novo pedido e o ministro Dias Toffoli derrubar a primeira liminar ainda na noite do dia 19.

O vai e vem jurídico mobilizou intensamente os militantes da Vigília, aponta Baggio. “Os momentos de possibilidade de libertação de Lula, em julho e agora em dezembro. Havia uma expectativa real de que ele pudesse sair, pela porta da frente, passasse aqui na Vigília, desse um depoimento e fosse embora. Isso mexeu muito com todo mundo que estava aqui”.

Ele ainda fez questão de renovar o compromisso com Lula: “Só vamos sair daqui com a libertação de Lula”.

Da Redação da Agência PT de notícias

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast