Aécio defende, agora, fim da reeleição, instituída no governo FHC

Palmério Dória, autor de “O Príncipe da Privataria”, critica a “cara de pau” dos tucanos em apoiar a mudança

Palmério Dória: “Hipocrisia”

Para tentar se aproximar e conseguir o apoio da terceira colocada no primeiro turno da eleição à Presidência, Marina Silva (PSB), o candidato Aécio Neves (PSDB) decidiu apoiar o fim da reeleição. A proposta, no entanto, é contraditória, já que a emenda da reeleição foi aprovada durante governo do ex-presidente tucano e padrinho político de Aécio, Fernando Henrique Cardoso.

A mudança de postura do tucano consta no site oficial de campanha, onde ele afirma defender o fim da reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos, além de mandatos de cinco anos no Executivo e Legislativo. No entanto, de acordo com o plano de governo do candidato, a mudança valeria apenas a partir de 2022.

Vale lembrar que Aécio Neves foi beneficiado diversas vezes com a emenda da reeleição. Eleito governador de Minas Gerais em 2002, ele se reelegeu e exerceu mandato até 2010, quando venceu a disputa para o Senado.

Em entrevista ao “Valor Econômico” em 2013, Fernando Henrique se opôs a ideia sugerida por Aécio. “Quatro anos é muito pouco tempo para você fazer alguma coisa de mais duradouro. Seis anos é razoável, mas pode ser que seja errado para uma pessoa que não esteja fazendo o que o país quer. Na média é melhor ter quatro mais quatro”, explicou o ex-presidente tucano.

Oportunismo – Palmério Dória, autor do livro “O Príncipe da Privataria”, diz não acreditar que Aécio Neves realmente seja a favor do fim da reeleição. O livro conta a história do escândalo da compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, durante o primeiro mandato de Fernando Henrique na Presidência da República.

Para Dória, a estratégia do PSDB é sinônimo de “hipocrisia”. “Duvido que eles façam isso. É espetacular a cara de pau deles. Estão tentando emplacar essa história para acalmar Geraldo Alckmin e Marina Silva”, enfatiza o jornalista.

Ele lembra que o esquema para a aprovação da emenda, votada em janeiro de 1997, foi desencadeado assim que Fernando Henrique Cardoso tomou posse como presidente. Em maio de 1997, o jornal “Folha de S. Paulo” publicou denúncia sobra a compra de votos para aprovação da emenda.

Um deputado, até então conhecido como “Senhor X”, revelou que Fernando Henrique havia pago R$ 200 mil para cada voto a favor da aprovação da pauta. Em “O Príncipe da Privataria”, a identidade do autor da denúncia é revelada: é o empresário e ex-deputado Narciso Mendes.

Ele foi responsável por gravar vídeos e colher provas da compra de votos promovida pelo governo tucano. De acordo com o escritor, cerca de 150 parlamentares estavam envolvidos no esquema.

Dória explica que o escândalo nunca foi investigado de fato. As tentativas de emplacar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) barraram em manobras do governo. Além disso, a investigação foi engavetada na Procuradoria-Geral da República, chefiada na época por Geraldo Brindeiro, por falta de provas.

Por Mariana Zoccoli, da Agência PT de Notícias

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