Anne: a força das mulheres da Amazônia

Confira entrevista com a secretária nacional de mulheres do PT e conheça a trajetória da manauara feminista que conquistou o país

Da Redação, Agência Todas

 

“Comecei minha trajetória muito nova com 15 anos no grêmio estudantil, na Escola Estadual Ângela Ramazotti”, é assim que Anne Karolyne relembra os tempos de movimento estudantil em Manaus, Amazonas, quando começou a ter contato com a militância política. 

Um grupo de estudantes entrou na sala que Anne estudava e perguntou quem teria interesse em participar. Poucos meses depois, ela se tornava presidenta do grêmio da escola, em um contexto que toda a direção era composta por homens. “Em algum momento, eu achei que aquilo era normal e achava que a minha presença era só porque tinha me destacado. A construção feminista é um processo. E ali, comecei a questionar a presença majoritária dos homens nos espaços”, explica Anne. 

Aos 16 anos, Anne Karolyne decidiu que era hora de dar um passo importante e resolveu se filiar ao Partido dos Trabalhadores. Aos 18, ela se tornou membro do diretório municipal de Manaus e, aos 20, ocupou espaço no diretório estadual. 

A trajetória, que parece fulminante, foi acompanhada por outra descoberta que transformou o modo como Anne Karolyne se relacionava com suas raízes: a militância do movimento pela Amazônia e do movimento indígena. “É muito comum na Amazônia a gente falar da questão indígena de forma muito pejorativa ‘ah, vc é índio, vc é índia’. Ninguém quer ser índio, índia.

Transformar esse olhar sobre quem eu sou, dos meus ancestrais e combater esse preconceito que construíram em cima de nós foi um passo gigante na minha trajetória política”, diz Anne, emocionada.  Essa descoberta foi guiada pelo companheiro Délio Dessana, que orientou Anne a reconhecer as próprias raízes, identidade, o sangue indígena e até a própria história. 

A partir daí, a causa ambiental e indígena tem acompanhado Anne Karolyne ao longo de toda a militância política. Hoje, orgulhosa de suas raízes, Anne se fia na força das mulheres da Amazônia e no sangue indígena para travar suas batalhas dentro e fora do partido.

Eu sinto muita falta de casa, da minha região, das minhas raízes, do rio Negro, do peixe. Eu sinto muita falta disso. Quero agregar a luta feminista com a construção de processos que digam para o país inteiro a importância dos povos da floresta, da Amazônia.  Esse é um legado que eu tenho em mim, que trago no meu corpo”, aponta Anne. 

 

Aos 24 anos, Anne se tornou secretária estadual de Juventude do PT, representando o Amazonas. Ela conta uma curiosidade sobre essa força impulsionadora no cumprimento das tarefas políticas na busca por um mundo melhor. Quando Anne ia para uma reunião, ela caiu, quebrou uma perna e teve que colocar uma placa e seis parafusos. Poucos dias depois, frequentando as reuniões de muleta, ela caiu e quebrou o braço no banheiro. Mesmo de cadeira de rodas, ela garantiu presença no Encontro Nacional de Juventude do PT, em Brasília. “Eu disse que não iria, porque ia ser de difícil acessibilidade. Mas a secretária [nacional de juventude do PT] era a Severine. Ela garantiu uma van para me buscar no aeroporto com cadeira de rodas. Pouca gente sabe disso”, relembra Anne Karolyne.

Já acolhida pelo espírito de sororidade das mulheres do PT, esse Encontro revelaria o nome de Dilma Roussef para disputar a presidência na sucessão de Lula, outro marco importante na formação feminista da manaura. Dois anos depois, Anne Karolyne já ocupava uma cadeira na direção nacional da Juventude do PT. “Meu ciclo de construção dentro do partido foi muito rápido. Isso só foi possível com muito investimento e olhar das dirigentes”, explica. 

 

Anne Karolyne e Dilma Roussef

 

 

Já com trinta anos e muita experiência, Anne Karolyne disputa a Secretaria Nacional de Mulheres do PT, é eleita e quebra paradigmas dentro do Partido dos Trabalhadores. O primeiro é o geracional. Ela foi a mulher mais nova a ocupar um cargo de destaque nacional dentro do PT. O outro foi regional, quando uma mulher do norte do país ocupa um espaço que é geralmente ocupado por sul e sudeste. 

 

Há dois anos à frente da Secretaria Nacional de Mulheres do PT, Anne afirma que se redescobre a cada dia enquanto feminista, indígena, manauara e petista. “É um processo eterno de construção e de transformação pessoal”, completa Anne Karolyne. 

Anne conta que, na trajetória política, todas as mulheres já passaram por algum tipo de assédio e deixaram de usar algum tipo de roupa por causa dos comentários, por exemplo, e ela não ficou de fora das diversas formas de violência política. “São marcas que ficam na vida de todas as mulheres. Qualquer mulher que esteja no espaço político já passou por isso… dos homens acharem que tem sempre a melhor opinião e tentam nos diminuir”, reforça.

A gestão de Anne Karolyne na Secretaria Nacional de Mulheres do PT vai até 2021 e, com certeza, muita história ainda será construída nas mãos dessa mulher lutadora, guerreira e petista. 

 

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