Após 500 dias, ex-assessor de Flávio não explica origem de R$ 1 milhão

Investigado, Fabrício Queiroz é policial militar aposentado, tem relação com milícia e é próximo da família Bolsonaro. Os dois tiveram a quebra do sigilo bancário

Reprodução Facebook

Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro

“Eu sou bacana. Eu adianto todo mundo. Treze deputados eleitos lá [Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro], treze deputados amigos. Doze deputados federais eleitos, doze amigos. Todos estão comigo, mandam mensagem, acreditam no meu caráter, na minha índole.”

É com essa desenvoltura que Fabrício Queiroz, 53 anos, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, explica a sua proximidade com os candidatos do Partido Social Liberal (PSL), mesma sigla do presidente Jair Bolsonaro, de quem Queiroz também se declara amigo de muitos anos.

A fala foi dita na única entrevista que concedeu, ao canal de televisão SBT, em 26 de dezembro de 2018, após vir à tona a investigação do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).

Contratado como coordenador de segurança e assessor parlamentar no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, atualmente senador pelo Rio, Queiroz atuava como caça-votos e faz-tudo do parlamentar e da legenda, principalmente nas comunidades e periferias da zona Oeste do Rio de Janeiro.

Acusações

Queiroz, que é ex-subtenente da Polícia Militar (PM) e tem casa em Rio das Pedras, na zona Oeste do Rio, é o pivô da investigação do MP-RJ, iniciada há 500 dias, sobre transações suspeitas no total de R$ 1,23 milhão, feitas em uma conta-corrente do assessor, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

A base da investigação é o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou incompatibilidade entre os valores movimentados por Queiroz e a sua renda, que consistia no salário de R$ 10 mil como assessor e de R$ 13 mil como policial militar afastado. Atualmente, ele já é aposentado pela PM, onde entrou em 1987, com 21 anos de idade.

Em coluna no jornal Folha de S. Paulo, Elio Gaspari diz que a remuneração de Queiroz como militar era acima da média, porque ele conseguiu, na Justiça, incorporar polêmicas gratificações por “bravura”, concedidas para PMs que atuaram em ocorrências com a morte de suspeitos. Já de acordo com informação divulgada na coluna radar, da Veja, Queiroz se envolveu em dez mortes em “auto de resistência”.

Descontando as rendas de origem conhecida, Queiroz tem uma movimentação de quase R$ 1 milhão, que inclui cheques para a mulher do presidente Jair Bolsonaro, depósitos mensais de funcionários do gabinete, depósitos em dinheiro feito pelas filhas e pela companheira dele. É a origem e a utilização desse dinheiro que o ex-assessor do filho de Bolsonaro precisa explicar.

Por diversas vezes, Queiroz não compareceu aos depoimentos marcados alegando problemas de saúde, mais especificamente um câncer descoberto no final do ano passado.

Relações

Enquanto isso, a investigação ganha vulto e chega mais perto da família Bolsonaro. O MP-RJ pediu a quebra de sigilo bancário de 95 contas de ex-assessores parlamentares, empresas e pessoas ligadas a Queiroz e Flávio Bolsonaro. O próprio senador e a sua mulher estão na lista.

Parentes de Queiroz estão na lista porque foram contratadas pelo gabinete de Flávio Bolsonaro a seu pedido: as filhas, Nathalia de Melo Queiroz e Evelyn Melo Queiroz, e a mulher, Marcia Oliveira de Aguiar.

“Quando tinha a oportunidade, a vaga, eu pedi para empregá-las. Elas são muito eficientes, é mérito. Não porque é mulher do Queiroz ou filha do Queiroz”, disse o ex-assessor, na mesma entrevista em que se gabou de sua influência no PSL – com a frase que inicia este texto.

Na mesma ocasião, Queiroz também revelou que fazia a contratação de assessores informais que apoiaram o partido e seus candidatos nas eleições de 2018. Sua área de atuação é Rio das Pedras, onde morava, e Muzema, também na zona Oeste. No entanto, Queiroz não explicou quem eram essas pessoas contratadas informalmente e como elas atuavam.

“Eu, amigo do presidente, amigo do deputado, eu era o homem, no meu WhatsApp só coisas bonitas. Daí, de uma hora para outra, apareceu na mídia o meu nome, vários repórteres atrás de mim. No mesmo dia tinha repórter da Veja na porta da minha casa. Lá eu sou uma pessoa conhecida, e uma pessoa querida, e tinha pessoas estranhas. O “cara” veio e disse: ‘irmão tem pessoas estranhas atrás de você’. Então, me refugiei”, disse.

A lista do MP-RJ das pessoas cujo sigilo será quebrado inclui a mãe de Adriano Magalhães da Nóbrega, vulgo “Gordinho”, ex-policial do BOPE (tropa de elite da PM do RJ) que trabalhou como assessor no gabinete de Flávio Bolsonaro. O policial é suspeito de chefiar uma quadrilha de milicianos e de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL, em março de 2018.

Na sexta-feira, dia 17, o Brasil de Fato trocou mensagens por WhatsApp com o advogado de Queiroz. Segundo Paulo Klein, o ex-assessor está acompanhando de perto os desdobramentos da investigação. Além disso, está cuidando da saúde, pois iniciou o tratamento contra o câncer.

“A única coisa que ele quer no momento é ter tranquilidade para isso”, escreveu o defensor de Queiroz. Klein prepara um pedido de habeas corpuspara tentar evitar um possível pedido de prisão para o seu cliente.

Para o Brasil de Fato, o MP-RJ respondeu que, em razão do sigilo legal decretado, o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção do Ministério Público (GAECC/MPRJ) não vai se pronunciar sobre a investigação.

Por Brasil de Fato

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