Artigo: Consolidar os avanços políticos e integrar a militância na vida partidária renovada

Vice-presidente da CUT e membro do Diretório Nacional do PT, Vagner Freitas analisa o resultado das eleições. “A força e a garra da militância do PT mostraram-se imensas. Ela resistiu a uma guerra hibrida intensa por mais de uma década, desde o Mensalão, a Lava Jato, os processos e a prisão de Lula, além de tantos outros”, aponta.

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Vagner Freitas

Vagner Freitas

Nem bem foram encerradas as apurações do segundo turno e anunciados os resultados a guerra de posições começou. Orientados pelas distintas estratégias e objetivos políticos eleitorais para 2022, articulistas e lideranças de distintas posições iniciaram uma nova batalha. O desafio é demonstrar que os fatos comprovam suas teses, para que obtenham credibilidade para julgar ou apontar possíveis caminhos e as melhores opções para a esquerda e centro esquerda derrotar Bolsonaro em 2022.

Neste contexto, apresento minha contribuição inicial sobre os fatos, os desafios e as possibilidades postas para o Partido dos Trabalhadores e seus aliados para 2021. Por se tratarem de eleições municipais, vencedoras foram as candidaturas que obtiveram o maior número de votos em cada localidade, por motivos e razões diversas.

Inegavelmente, conquistar prefeituras e posições nas Câmaras de Vereadores são fatos relevantes, mas insuficientes para qualquer prognóstico futuro em relação à eleição de 2022. Há outros resultados a considerar para o novo período que se inicia em janeiro de 2021. A evolução dos votos e a capilaridade da presença partidária e militante nas redes sociais e nos territórios também são fatores relevantes. Por isso mesmo, devem ser analisados em conjunto, observando a evolução histórica e o contexto no qual foram obtidos.

Nessa guerra de posições, a ofensiva dos adversários visando isolar e reduzir a importância do PT e de sua militância continuam intensas. Alguns, interessados em ocupar posições internas na esquerda, buscam reduzir o protagonismo do Partido dos Trabalhadores. Outros, na qualidade de agentes da classe dominante, procuram demonstrar que os grandes derrotados foram Bolsonaro e o PT. É a velha tese, insistentemente reposta para isolar o PT e abrir espaço para a construção de um suposto projeto  de centro, apoiado pela direita e pela mídia golpista.

É preciso focar nossas ações no que importa. Um dos primeiros desafios é consolidar a unidade da esquerda alcançada no segundo turno em diversos municípios, como São Paulo, Porto Alegre, Belém, Juiz de Fora e tantos outros. Uma articulação capaz de atrair, mas também de afastar as forças políticas que buscam construir seus espaços ao lado dos grupos que têm promovido imensos retrocessos nos direitos trabalhistas, previdenciários, sindicais e, especialmente, na democracia, por meio de ataques sistemáticos ao PT e suas lideranças.

A força e a garra da militância do PT mostraram-se imensas. Ela resistiu a uma guerra hibrida intensa por mais de uma década, desde o Mensalão, a Lava Jato, os processos e a prisão de Lula, além de tantos outros. Mas, malgrado o cerco que se tentou montar para isolar o PT e destruí-lo como principal força da esquerda, o partido conseguiu sobreviver. Recuperou importantes espaços nas redes sociais e ampliou sua capilaridade em todo o território nacional.

Por certo, em toda batalha o aprendizado é grande e deve se transformar em avaliações e mudanças importantes nas diretrizes políticas e organizativas do partido. Mas, esta é uma discussão para se fazer nos fóruns adequados e com metodologia apropriada.

Há que se considerar que o PT ampliou sua votação nas 38 cidades com mais de 500 mil habitantes, onde obteve maior número de votos e de vereadores do que em 2016. Aquém do desejado, por certo. Mas sai dessa eleição com força suficiente para travar as batalhas em defesa dos direitos sociais e pela construção de um novo Brasil.

A eleição também traz um dado importante. O PT se destaca entre as forças da esquerda como o partido com maior capilaridade eleitoral e não tem entre suas preocupações a necessidade de superar os 2% da cláusula de barreira, que ainda continuará pressionando e dificultando as ações de diversos partidos, inclusive de aliados.

Capilaridade territorial implica em presença organizativa nos territórios, em apoio eleitoral distribuído nacionalmente e em presença nas redes sociais em todo o país. Ainda temos muito a avançar, mas certamente o PT é o partido da esquerda melhor posicionado. A votação de Boulos no segundo turno em São Paulo, em larga medida semelhante àquela obtida por Haddad em 2018, revela que apesar da presença de milicianos e de forças políticas e religiosas alinhadas ao bolsonarismo, nosso partido e seus aliados mantém forte presença em territórios estratégicos para o PT e para o conjunto da esquerda.

Com grande presença distribuída amplamente em todo território nacional, fortalecendo e estreitando suas relações com os problemas e lutas das classes populares, especialmente das periferias, o desafio do PT em 2021 é reorganizar a militância,  integrar os apoiadores reativando a nucleação e a vida partidárias, repensar a forma de organização nos territórios e nas redes sociais, incentivar a organização dos trabalhadores que vivem de seu próprio trabalho e também dos micro e pequenos negócios urbanos e rurais e, por fim, usar as forças acumuladas nesta eleição para se reinventar como partido da classe trabalhadora.

O fim do ano se aproxima. As batalhas de lideranças sindicais, populares e democráticas, de fato comprometidas com uma radical transformação de nosso país, nunca foram fáceis. Em meio a tanta desgraça, sobreviver é condição básica para comemorar o fim deste difícil ano e realizar as mudanças necessárias para continuar a jornada pela transformação do Brasil em um país onde floresça a vida, a liberdade, a igualdade e haja mais trabalho e oportunidades para todas e todos.

 

É vice-presidente da CUT e membro do Diretório Nacional do PT.

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