Artigo: Cuba é alvo de terrorismo dos EUA, diz embaixador cubano

Embaixador no Brasil, Rolando Gómez González, afirma que governo americano usa lista de Estados que supostamente patrocinam terrorismo para atacar ilha, em artigo no jornal Folha de S. Paulo, no dia 19

Como é sabido, Cuba foi incluída, de forma arbitrária e unilateral, na lista do Departamento de Estado norte-americano de países que supostamente patrocinam o terrorismo internacional, divulgada em 11 de janeiro deste ano.

A lista —espúria, manipulada e caluniosa— é uma farsa motivada por Cuba não se submeter aos Estados Unidos e por defender um projeto nacionalista, soberano e independente. É também um exemplo do critério oportunista e da natureza mentirosa e criminosa do império norte-americano no tema do terrorismo.

Como precedente dessa ação, temos a inclusão da ilha caribenha em outra lista unilateral, de países que supostamente não colaboram plenamente na luta contra o terrorismo, publicada em 13 de maio do ano passado. São listas sem fundamentação, autoridade ou respaldo internacional algum, que só servem aos propósitos de difamação e coerção contra países.

Cuba rechaça a prática de todo Estado que, de modo unilateral, seletivo e sem mandato internacional algum para tal, emite listas e qualificações arbitrárias sobre a posição de outros Estados em relação ao terrorismo exclusivamente com o objetivo político de pressioná-los.

Considera que essa prática, além de caluniar outros Estados e promover medidas coercitivas contrárias ao direito internacional e à Carta das Nações Unidas, prejudica o esforço internacional no combate ao terrorismo, ao subordinar esse esforço a interesses políticos nacionais distantes do compromisso efetivo contra esse flagelo.

O governo norte-americano pretende ludibriar a opinião pública internacional, povos e governos do mundo, tratando em vão de tentar convencer que Cuba não cumpre devidamente a luta antiterrorista, quando na realidade a nação caribenha é vítima de uma política de terror de Estado.

Essa política tem sido executada por diferentes administrações estadunidenses desde o primeiro dia do triunfo da Revolução Cubana e, com ela, o início de um projeto independente e soberano, que os Estados Unidos querem destruir a qualquer preço, inclusive submetendo, sem escrúpulos nem vergonha, todo um povo a penúria e sofrimento, como castigo por resistir e não se entregar.

Cuba foi e continua sendo vítima do terrorismo incentivado desde os Estados Unidos, que dá proteção e refúgio a dezenas de cidadãos cubanos reconhecida e confessadamente assassinos, terroristas, sequestradores de embarcações e aeronaves. O governo dos Estados Unidos nunca devolveu a Cuba um só dos fugitivos da Justiça cubana e nem sequer julgou algum deles pelos delitos cometidos contra o povo cubano e, inclusive, contra cidadãos de outros países.

Desde 1959, Cuba é vítima de agressões, como a invasão armada e mercenária por Playa Girón, e de incontáveis atos terroristas, em sua maioria organizados, financiados e executados desde o território dos Estados Unidos. A CIA e outras dependências do governo dos Estados Unidos tiveram protagonismo nesses feitos.

Essas ações custaram a vida de 3.478 pessoas e incapacitaram 2.099 cidadãos cubanos. Os danos humanos e prejuízos causados a essas pessoas em decorrência de agressões e ações terroristas perpetradas a partir dos Estados Unidos se calculam em US$ 181 bilhões.

O caso mais conhecido e atroz do terrorismo contra Cuba é o abatimento, em pleno voo, de um avião cubano de passageiros em 6 de outubro de 1976, que causou a morte de 73 pessoas e constituiu o primeiro ato terrorista contra a aviação civil no Hemisfério Ocidental.

Luis Posada Carriles, coautor desse crime, nunca foi acusado nem julgado por esse ato nos Estados Unidos, nem por ter sido o autor intelectual da série de atentados a bomba perpetrados em 1997 contra hotéis cubanos, que causaram a morte do turista italiano Fabio Di Celmo.

Cuba rechaça e condena o terrorismo em todas as suas formas e manifestações, onde quer que se cometa, quem quer que o perpetre, contra quem quer que se cometa, inclusive naquelas em que os Estados estão direta ou indiretamente envolvidos. Cuba condena, da mesma forma, toda ação que tenha por objeto incentivar, apoiar, financiar ou encobrir qualquer ato, método ou prática terrorista.

A ilha caribenha sempre defendeu que a luta dos povos submetidos a ocupação estrangeira ou a dominação colonial, por sua livre determinação e libertação nacional, não constitui um ato de terrorismo, como os Estados Unidos e seus aliados imperiais pretendem impor ao mundo. Igualmente, o terrorismo não pode nem deve vincular-se com nenhuma religião, nacionalidade, civilização ou grupo étnico.

Cuba jamais participou da organização, financiamento ou execução de atos terroristas contra qualquer país. O governo de Cuba nunca apoiou nem apoiará atos de terrorismo internacional. O território de Cuba nunca foi utilizado, nem jamais se utilizará, para organizar, financiar ou executar atos terroristas contra nenhum país.

Cuba sempre teve um desempenho exemplar no enfrentamento ao terrorismo e cumpriu e continuará cumprindo os compromissos que assume nessa matéria como parte dos 19 convênios internacionais relativos ao terrorismo, conforme os quais colocou em vigor medidas legais e institucionais direcionadas ao enfrentamento efetivo desse flagelo.

O governo cubano coopera e compartilha informações de maneira sistemática com serviços homólogos de outros países na luta contra o terrorismo. Conta com um escritório central nacional da Interpol, que fornece e solicita informações referentes a pessoas ou grupo de pessoas classificadas como suspeitas de cometer atos de terrorismo ou pertencentes a organizações desse tipo e/ou outros delitos associados.

As atividades terroristas contra Cuba aumentaram substancialmente desde 2017, como consequência de uma política agressiva e do discurso de ódio do governo estadunidense contra a ilha, do permanente incentivo à violência de seus políticos, inclusive de altos funcionários do Departamento de Estado e da embaixada dos Estados Unidos em Havana, assim como de grupos extremistas anticubanos que transformaram essas ações em seu meio de vida.

Foram numerosos os atentados terroristas nesses anos contra instalações de infraestrutura do sistema elétrico, de saúde pública, educação, transportes e outros bens e serviços públicos perpetrados por cidadãos cubanos recrutados, orientados e financiados a partir dos Estados Unidos.

Nas investigações pertinentes a esses atos, Cuba descobriu os autores intelectuais e financeiros dos atos terroristas a partir da Flórida, forneceu abundantes informações sobre eles, e nenhum foi julgado ou preso, possibilitando que continuem atuando com absoluta impunidade.

Como parte dessa escalada terrorista, em 30 de abril de 2020 houve um atentado a tiros contra a embaixada de Cuba nos Estados Unidos, ato que colocou em perigo a vida e a segurança do pessoal da missão diplomática em Washington.

O autor do ataque terrorista, Alexander Alazo Baró, um cubano que reside nos Estados Unidos desde 2010, reconheceu em audiência pública que sua intenção era matar. O governo estadunidense não se dignou sequer a comentar esse terrível ato terrorista cometido contra Cuba em seu próprio território.

Com os atos do último 11 de julho, se confirmaram novamente as intenções desestabilizadoras e terroristas desde os Estados Unidos contra Cuba, estimulando-se atos de violência e sabotagem contra instalações públicas do país, incluindo instituições de saúde, promovidos pelo discurso de ódio e pela atitude permissiva das autoridades estadunidenses. Esse incentivo ao ódio e à violência estimulou o ato terrorista ocorrido em nossa embaixada em Paris no último 26 de julho.

Os Estados Unidos são os únicos responsáveis pelo ocorrido em Cuba, e ninguém deve dar crédito às calúnias que se derramam sobre Cuba. Os Estados Unidos se aproveitam da complexa situação econômica e social em Cuba, em decorrência da pandemia e do recrudescimento do bloqueio e de seu monopólio sobre os meios de comunicação e das redes digitais, para mentir e distorcer a realidade cubana.

Além disso, é óbvio e real que em Cuba não houve, não há e nem haverá tortura, desaparecido ou violência policial como se constatou largamente nos próprios Estados Unidos, na Europa e na América Latina. Mentem quando nos acusam dessas práticas.

Não existe nenhum argumento que justifique provocar carência, fome e piora do nível de vida da população inteira de um país com base em diferenças políticas e ideológicas. O que tem ocorrido, na realidade, é uma franca operação terrorista de agressão dirigida a tentar mudar o regime de Cuba a qualquer preço.

Os atos investigados demonstram que grupos e indivíduos terroristas de origem cubana radicados nos Estados Unidos continuam operando com total impunidade no território estadunidense, a partir de onde incitam, organizam e financiam a realização de ações contra Cuba, assim como suas campanhas midiáticas, fake news e calúnias contrarrevolucionárias, utilizando abertamente plataformas e redes sociais para esses fins.

Esses terroristas persistem em suas intenções e contam com recursos para seguir organizando ações que poderiam provocar perdas humanas e danos materiais, tanto em Cuba como nos Estados Unidos, se não forem enfrentados com responsabilidade e o rigor que exigem as leis de ambos os países e os acordos internacionais em matéria de enfrentamento ao terrorismo.

Rolando Gómez González é embaixador da República de Cuba no Brasil

 

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