Assassinato de Beto Freitas repercute na imprensa internacional e mancha imagem do país

Principais veículos da mídia estrangeira, como ‘Le Monde’, ‘The Guardian’, ‘ABC’ e ‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’, além das agências de notícias, destacam a eclosão de protestos no Brasil pelo assassinato de homem negro, espancado até a morte em Porto Alegre. Ele foi enterrado no sábado e país é apresentado como terra da desigualdade. Bolsonaro diz que não vê racismo, enquanto veículos reportam as estatísticas de mortes violentas que mostram a cara da discriminação racial

Agência PT

O enterro de João Alberto Silveira Freitas, negro de 40 anos, assassinado na noite de quinta-feira, 40, depois de ser barbaramente espancado por dois seguranças brancos do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, e os protestos que eclodiram em muitas cidades brasileiras ganharam repercussão internacional neste final de semana. As declarações de Jair Bolsonaro se mostraram patéticas na mídia estrangeira, por tentar esconder um problema do país: o racismo estrutural que tem como origem a escravidão.

No noticiário internacional, a reação do presidente brasileiro, apresentado como líder da extrema-direita no país, foi destaque, com a Associated Press informando que ele negou que cidadãos no Brasil sofram com o racismo. “Vejo todos nas mesmas cores: (da bandeira do Brasil) verde e amarelo”, declarou Bolsonaro, ressaltou a agência. Reportagem do diário inglês The Guardian reproduziu despacho da AP.

Indignação e revolta | Imagens de protestos nas principais cidades brasileiras pelo espancamento até a morte de João Alberto Silveira Ferreira correram o mundo, distribuídas pelas agências internacionais de notícias

O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung destacou que, apesar de o governo insistir nessa tese do racismo inexistente, “as estatísticas falam uma linguagem diferente”, porque mostram o massacre no número de homicídios que exterminam mais vidas de negros no país. O jornal Zeit também destacou as declarações infelizes de Bolsonaro, e retrucou: “A discriminação contra os negros também é generalizada no maior país da América Latina”, lembrou, citando um comunicado da ONU informando que “milhões de homens e mulheres negros continuam sendo vítimas de racismo, discriminação racial e intolerância, incluindo suas formas mais cruéis e violentas”.

Revolta do povo nas ruas brasileiras

A agência Reuters destacou que a violência explodiu no Brasil após o trabalhador negro ser espancado até a morte em Porto Alegre. A reportagem diz que mais de 1 mil manifestantes atacaram um supermercado Carrefour na cidade de Porto Alegre, depois que seguranças espancaram Freitas, e que os protestos também se espalharam em outras cidades durante todo o final de semana, com registros de ataques na sexta, sábado e domingo.

Reuters também lembra que, no Brasil, a violência contra pessoas negras é muito maior. “Os negros brasileiros têm quase três vezes mais chances de serem vítimas de homicídio, de acordo com dados do governo de 2019”, lembrou a agência, em despacho distribuído globalmente e reproduzido em mais de 57 mil órgãos de imprensa no exterior, em todos os continentes.

No final de semana, outros despachos das agências de notícias France Presse e EFE, correram o mundo, com as imagens do espancamento sendo exibidas em todo o planeta, inclusive em veículos de massa, como a rede de TV dos Estados Unidos ABC.

Os sites americanos NewsBreak e MercoPress relatam que apesar de Bolsonaro negar que haja racismo, as imagens do homem negro espancado até a morte “mostra algo diferente”. No texto da EFE – Protestos no Brasil por assassinato brutal em comparação ao de George Floyd –, cita letra da canção de Elza Soares: “a carne mais barata do mercado é preta”. A agência espanhola também destacou o segundo dia de protestos no país pela morte de João Alberto.

Mídia francesa dá amplo destaque

No jornal francês Le Monde o episódio foi reportado pelo correspondente Bruno Meyerfeld, que tratou da indignação no Brasil após a morte de negro morto por agentes de segurança na porta do supermercado. “A cena, filmada por uma testemunha, aconteceu na entrada do Carrefour e protestos de raiva eclodiram em todo o país, no Dia da Consciência Negra”, destaca.

Outro diário influente, o Libération, noticiou a “onda de indignação no Brasil após o assassinato de negro no Carrefour” e alerta que a marca francesa segue sob críticas pesadas. O Les Echos, principal jornal financeiro da França, destacou que o Carrefour está na defensiva, embora reconheça que o Brasil vive um racismo estrutural.

A TV5Monde trouxe imagens dos protestos anti-racistas após a morte de João Alberto. “A raiva não cai no Brasil. Várias manifestações anti-racistas aconteceram nos quatro cantos do país em frente às lojas do grupo Carrefour”, diz a reportagem. “A cena de rara violência, filmada por uma testemunha, despertou uma onda de indignação”. Outros veículos franceses, como a MediaPart disse que a rede de supermercados está sendo acusada diretamente no país por “crime de racismo”.

A Rádio France Internacional reproduziu a declaração do vice-presidente Hamilton Mourão de que não existe racismo no Brasil, mas fez questão de desmenti-lo. “A realidade é muito diferente. Primeiro: o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão em 1888”, lembrou. “Especialmente, negros e mestiços representam 57% da população brasileira, mas três quartos das vítimas de assassinatos violentos e, principalmente, 80% das pessoas morto pela polícia”.

Da Redação, com agências internacionais de notícias

  

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