Atlas da Violência revela aumento de mortes em governo que estimula o ódio

Dados do levantamento apontam intensidade da violência no campo, crescimento de óbitos por policiais sem controle efetivos e ampliação do acesso a armas de fogo no governo Bolsonaro

O discurso de ódio disseminado por Jair Bolsonaro resultou no aumento em 35% no número de “mortes violentas por causa indeterminada” (MVCI) no Brasil, com alta de 12.310 para 16.648, entre 2018 e 2019. O alerta é do Atlas da Violência 2021, divulgado nesta terça-feira, 31.

A ampliação do acesso a armas de fogo, incentivada diariamente por Bolsonaro, o recrudescimento da violência no campo e o crescimento de mortes por policiais sem controle efetivos estão entre as causas apontadas pelo levantamento.

Conforme Daniel Cerqueira, diretor do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), ligado ao governo do Espírito Santo, há um “embate na segurança parecido com o da pandemia da Covid-19, entre negacionismo e ciência”.

“Na academia internacional e nacional há um consenso: mais armas, mais crimes. Mas isso tem sido desprezado por uma política irresponsável que vai trazer mais tragédias por décadas, porque essas novas armas vão durar 20, 30 anos”, afirma Cerqueira.

O estudo revela ainda que as taxas de mortes indefinidas superam as de homicídios e são mais constantes nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Pernambuco.

Desigualdade racial

Outro dado do Atlas indica que houve aumento no número de mortes por desigualdade racial com aumento na mortalidade de mulheres pretas ou pardas, que era 49% maior que a de mulheres brancas, indígenas ou amarelas.

A pesquisa também destaca que um negro tem 2,6 vezes mais chance de ser assassinado no Brasil do que outras pessoas.

“Infelizmente, não nos causam estranhamento esses novos dados do Atlas da Violência. Nós, negras e negros, cotidiana e historicamente temos sido o alvo preferido da violência no Brasil. Todas as políticas implantadas por esse governo genocida que aí está, nada mais são do que a implementação de sua promessa de ódio feita ainda na campanha eleitoral. Mas não podemos arrefecer em nossa luta. Se queremos que isso cesse, precisamos retirar esse genocida do poder e reestabelecer a democracia no país”, enfatiza o secretário Nacional de Combate ao Racismo do Partido do Trabalhadores (PT), Martvs Chagas.

Violência contra a população LGBTQIA+

A violência contra a população LGBTQIA+, no desgoverno de Bolsonaro,  é citada no levantamento que afirma a falta de informações de denúncias no Disque 100, serviço atualmente realizado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado pela ministra Damares Alves.

No relatório consta que “os motivos para que as pessoas não recorram ao serviço para fazer denúncias podem ser inúmeros, desde a falta de confiança no equipamento gerido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, até a falta de prioridade política e financeira dada ao tema pelo órgão, ou a eventual redução da divulgação do canal”.

Para a secretária Nacional LGBT do PT, Janaína Oliveira, a falta de atuação em políticas públicas no governo Bolsonaro geram reflexos no quadro de violência ao não executar o baixo orçamento destinado às políticas LGBTQIA+, disponível em 2019 e 2020, alterando o escopo e a forma de atuação em várias políticas que, em governos anteriores, eram fundamentais para proteger a vida e assegurar direitos da população LGBTQIA+.

“É um ataque contínuo aos direitos e à existência desta população ao impedir o acesso à cidadania plena, baseados em uma concepção excludente e de ódio. O que demonstra a fragilidade no atendimento do Disque 100 e a falta de confiança num instrumento que deveria ser um espaço para denúncia, encaminhamento e resolução”, afirma.

A pesquisa anual foi realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), ligado ao governo do Espírito Santo. O estudo reúne dados do Ministério da Saúde, principalmente do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Segundo o levantamento, a qualidade dessas informações vinha melhorando há mais de 15 anos, mas sofreu uma piora significativa no governo Temer e Bolsonaro, respectivamente em 2018 e 2019.  Com isso, a parcela de óbitos sem definição sobre o total de mortes por causas externas dobrou de 6% para 12% em dois anos, pior patamar desde 1979.

Da Redação, com informações da Folha de S. Paulo

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